Política

Chefe do MP do Rio tem gana e pressa no caso Flavio Bolsonaro

Gussem é atacado publicamente pelo senador e tem 19 meses restantes no cargo

Foto: Wilson Dias/Agência Brasil
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O promotor Luís Otávio Figueira Lopes, do Ministério Público do estado do Rio, caça provas de que o senador Flavio Bolsonaro (PSL-RJ) comprou e vendeu imóveis para lavar dinheiro obtido de forma criminosa com funcionários de seu antigo gabinete de deputado estadual. Mas se há alguém com motivo para ter gana e pressa na investigação é o chefe do MP fluminense, Eduardo Gussem.

Jair Bolsonaro e seu primogênito, Flávio (Divulgação/PSL)

O primogênito do presidente esculhamba Gussem publicamente. Acusa-o de perseguição, de revelar segredos à mídia.

Na segunda-feira 13, dia em que se soube da quebra de seus sigilos bancário e fiscal, o senador botou no Facebook uma foto de Gussem ao lado de um jornalista da GloboNews, Octavio Guedes, em um restaurante. Junto à foto, Flavio escreveu que seu “sigilo bancário já havia sido quebrado ilegalmente” pelo MP do Rio, sem aval da Justiça. E que “informações detalhadas e sigilosas de minha conta bancária, com identificação de beneficiários de pagamentos, valores e até horas e minutos de depósitos, já foram expostas em rede nacional após o chefe do MP /RJ, pessoalmente, vazar tais dados sigilosos”.

A foto havia sido usada em janeiro por um advogado íntimo de Onix Lorenzoni, chefe da Casa Civil do presidente Jair Bolsonaro, para acionar o Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) contra Gussem. Adão Paiani queria tirar o procurador do caso Flavio-Fabricio Queiroz. O CNMP não deu bola. Arquivou o pedido em fevereiro.

Em março, o PSL do Rio entrou na Corregedoria do MP contra Gussem. Flavio era um dos que assinavam a queixa. O partido acusava Gussem de vazar para criar um “processo penal ‘paralelo’ operado na mídia” a fim “de comprometer a reputação” do senador, com isso “manchando e jogando em lamaçal inescrupuloso a imagem do Ministério Público”.

A investigação de Flavio foi aberta por Gussem em 31 de julho do ano passado. O ponto de partida foi aquele relatório do Coaf, órgão federal que identifica movimentações bancárias suspeitas, a estranhar um entra-e-sai na conta de Queiroz entre 2016 e 2017. Naquela época, o hoje sumido ex-PM mandava e desmandava trabalhava no gabinete de deputado estadual de Flavio.

Foi no início da apuração determinada por Gussem que surgiu a principal linha de investigação: Queiroz ajudava Flavio a lavar dinheiro sujo. Quando o filho do presidente assumiu o mandato no Senado, em fevereiro, o caso saiu da alçada de Gussem, que só pode ocupar-se diretamente de deputados estaduais fluminenses. A investigação passou então ao promotor Lopes.

O chefe do MP é fundamental, porém, para dar apoio ao andamento das apurações de Lopes. Quando ainda cuidava do caso, Gussem dizia que o MP poderia acusar criminalmente à Justiça tanto Flavio quanto Queiroz mesmo que a dupla não prestasse depoimento na investigação preliminar. “O Ministério Público pode chegar à conclusão de que tem indícios suficientes para ajuizar ação penal e eles posteriormente podem se pronunciar (perante a Justiça).”

Queiroz debochou do MP. Flavio esteve perto disso. O ex-PM teve o depoimento marcado várias vezes, mas nunca apareceu. Em dezembro de 2018, justificou que não poderia ir, pois seria operado em São Paulo e ficaria por lá em recuperação. Antes da cirurgia, porém, deu uma entrevista ao SBT. E depois de operado, apareceu dançando no hospital em um vídeo gravado por uma das filhas.

Flavio foi convidado a depor em 10 de janeiro ou propor outra data. Não fez nenhuma coisa, nem outra. Duas semanas depois, surgia também no SBT, a dar explicações via mídia.

Três dias antes de Flavio falar ao canal de Silvio Santos, Gussem dava uma entrevista coletiva sobre o caso do filho do presidente. E fez questão de deixar claro: outros deputados estaduais do Rio (naquele momento Flavio ainda não tinha assumido no Senado) estavam sob investigação por causa de informações do Coaf e tinha prestado depoimento ao MP, sendo um deles por iniciativa própria.

Gussem tem razão para querer pressa na investigação da dupla Flavio-Queiroz. Ele comanda o MP do Rio desde 2017. Seu segundo mandato de dois anos começou em janeiro e termina nos primeiros dias de janeiro de 2021. Nas duas vezes, Gussem venceu uma eleição dentro da categoria e foi nomeado pelo governador (Luiz Eduardo Pezão em 2017, Wilson Witzel em 2019), que podia ter optado por outro nome da lista tríplice ou nem seguir a lista.

Ao tomar posse do novo biênio, em 14 de janeiro, disse em discurso que seu foco seria o combate à corrupção. Descobrir e provar malfeitos do primogênito do presidente seria coroar o mandato com chave-de-ouro.

Ainda assim, Gussem correrá o risco de ver o governador Witzel, eleito com apoio decisivo de Flavio na campanha de 2018, escolher para chefiar o MP alguém disposto a aliviar a situação do senador.

Isso, claro, se o 01 sobreviver politicamente e nos tribunais até dezembro de 2020.

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