Política

#CartaJáSabia: A Lava Jato sempre foi uma máquina de exageros

Uma retrospectiva diária de textos de CartaCapital que explicam como chegamos nesta era da demência

Apoie Siga-nos no

Em 9 de junho de 2019, o portal The Intercept Brasil publicou mensagens trocadas entre procuradores do Ministério Público Federal, como o coordenador da força-tarefa da Operação Lava Jato, Deltan Dallagnol, e o então juiz federal e atual ministro da Justiça, Sergio Moro. As conversas revelam que os dois articularam para condenar o ex-presidente Lula no caso do triplex do Guarujá, a fim de tirá-lo da corrida eleitoral de 2018.

CartaCapital defende há anos que Moro atuava de forma dirigida. Abaixo, trecho do editorial da edição 942 da revista – “Tempos de folia”, de 3 de fevereiro de 2017, assinada pelo diretor de redação, Mino Carta.

Lula será inexoravelmente condenado por Sergio Moro, é o que vaticina o Estadão em editorial intitulado “O desespero do PT”. Contraponto da Folha de S.Paulo, em reportagem intitulada “Lula pode ficar inelegível em plena campanha presidencial”.

A follia nativa, a bem da verdade factual, reina solta faz alguns anos, no mínimo desde a campanha eleitoral de 2014 que resultou na vitória de Dilma Rousseff, por margem pequena, mas suficiente. A rigor, poderíamos antecipar a data, para remontar ao começo da Lava Jato, com o declarado propósito de assumir outro exemplo italiano, a Mani Pulite dos primeiros anos dos 90. Se a pretensão é precipitada por má-fé e hipocrisia ou ignorância não está claro até hoje, embora valha admitir, na receita, a mistura desses condimentos. Em um ponto apenas a intenção da República de Curitiba ganha nitidez solar: impedir que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva volte ao poder democraticamente eleito pela terceira vez.

Como diz Marcos Coimbra na sua coluna, a obsessão de Moro é “patética”, mas também execrável ao representar “a subversão da democracia”. O poder tornou-se algo difuso e oculto, como houvesse acima de tudo e de todos uma entidade superior por direito divino, enquanto Michel Temer derrete, os poderes da República inexistem, a crise econômica desborda. E os autores da manobra engendrada desde a reeleição de Dilma Rousseff vivem entre a perplexidade e o temor em relação aos efeitos da Lava Jato sobre suas próprias vidas. Unidos somente pelo medo a Lula, captável, inclusive, no editorial do Estadão, cujo escriba é fiel, no sentido religioso, daquele poder superior.

Não há como escapar à evidência: Lula põe medo. Terror pânico. Contra ele vale tudo, a partir do desrespeito da lei. Irregularidades sem conta foram cometidas pela República de Curitiba, não somente contra Lula, mas também em geral, nos comportamentos da operação. Em entrevista ao Estadão da terça-feira gorda, o ex-ministro Nelson Jobim acusa a Lava Jato de “exageros”. Se quisermos, a palavra é branda, ao definir absurdos jurídicos, deslizes imperdoáveis. Mesmo assim, Jobim arranca a máscara da turma curitibana, afirma a chantagem das prisões prolongadas para obter a delação, e condena as prisões coercitivas, em primeiro lugar a do ex-presidente Lula.

“Tudo isso – declara Jobim – faz parte daquilo que hoje chamaríamos de ação-espetáculo, ou seja, a espetacularização de todas as condutas.” E lá vem a flechada para Moro: “O Judiciário não é ambiente para você fazer biografia individual”. Por exemplo? “A divulgação da gravação da conversa da presidenta Dilma com Lula.”

[…]

Lembro manchetes de jornalões para “espetacularizar” a compra de um barquinho de lata no valor de 4 mil reais, por parte de dona Marisa, mulher de Lula. Com esta “revelação” pretendia-se demonstrar que certo sítio em Atibaia, com vista para a favela, era de propriedade dos Lula da Silva, embora tenha outros donos, conforme escrituras em cartório. Volta-se a falar agora do célebre triplex do Guarujá, 200 metros quadrados a dominar a Praia das Astúrias, notoriamente frequentada pelos farofeiros. Neste caso também o imóvel não pertence ao indiciado, como é fácil provar. Diga-se que os indignados barões midiáticos, e muitos dos seus sabujos regiamente pagos, jamais se dignariam a pousar no triplex protagonista de uma história simplesmente ridícula.

[…]

Os desenvolvimentos da crise política e social dependem da progressão da crise econômica. Não é fator de paz. No editorial da terça gorda, o Estadão cita passagens de uma entrevista do ex-ministro Gilberto Carvalho ao Valor, a prever agitação popular se Lula for condenado. O jornalão tece ironias a respeito, entre a banalidade e a grosseria de quem não frequenta o senso de humor. Talvez se apresse nas suas previsões. Estamos nas mãos dos fados, instigados por Sergio Moro e Luiz Inácio Lula da Silva, e pelas reações possíveis do povo espezinhado, enfim consciente, quem sabe, das prepotências e arbitrariedades a que foi e continua a ser submetido.

ENTENDA MAIS SOBRE: , , , ,

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Um minuto, por favor…

O bolsonarismo perdeu a batalha das urnas, mas não está morto.

Diante de um país tão dividido e arrasado, é preciso centrar esforços em uma reconstrução.

Seu apoio, leitor, será ainda mais fundamental.

Se você valoriza o bom jornalismo, ajude CartaCapital a seguir lutando por um novo Brasil.

Assine a edição semanal da revista;

Ou contribua, com o quanto puder.