Educação

Caravana e ‘feliz aniversário’: episódios mostram intimidade da família Bolsonaro com pastores do MEC

Pastores lobistas se reuniram quatro vezes com presidente. Em vídeo, Flávio elogiou apoio na ‘disputa do poder’

Pastor Gilmar Santos e Jair Bolsonaro. Foto: Marcos Corrêa/PR
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O áudio em que o ministro da Educação, Milton Ribeiro, relata um “pedido especial” do presidente Jair Bolsonaro para priorizar liberação de verbas a aliados dos pastores Gilmar Santos e Arilton Moura trouxe à tona outros episódios que indicam a proximidade entre a dupla de religiosos e a família presidencial. Durante o mandato, Bolsonaro recebeu os pastores quatro vezes em Brasília e chegou a declarar que participaria de um evento evangélico organizado por Gilmar no Maranhão. O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), por sua vez, disse, num vídeo de aniversário a Gilmar, que “se não fossem pessoas” como o pastor, a “disputa aqui do poder em Brasília seria sem dúvida mais complicada”.

Gilmar preside a Convenção Nacional de Igrejas e Ministros das Assembleias de Deus — Cristo Para Todos (Conimadb). Arilton, braço-direito de Gilmar e assessor de assuntos políticos da entidade, participou de viagens com o ministro da Educação — uma delas, em maio de 2021, a bordo de voo oficial com aeronave da FAB (Força Aérea Brasileira). Em outra viagem, em agosto, à Bahia, Arilton chamou o ministro de “irmão e parceiro” e disse que o mandato de Bolsonaro “é o nosso governo”.

A movimentação da dupla de pastores lobistas, que intermediavam reuniões de prefeitos em busca de verbas do MEC, era registrada em redes sociais e sugere que ambos tinham portas abertas no Planalto. Eles são acusados por prefeitos de pedir propina em troca de seus serviços, prestados informalmente, já que não tinham cargo público.

Segundo os registros de compromissos do presidente, houve dois encontros de Bolsonaro com os pastores Gilmar e Arilton em 2019, em eventos com outras lideranças evangélicas. Um desses episódios, em outubro daquele ano, foi descrito em vídeo por um dos presentes, o pastor Abimael Flor, como uma “caravana do nosso querido pastor Gilmar” para levar religiosos a Bolsonaro.

Ao GLOBO, Abimael confirmou que Gilmar comandou a reunião com Bolsonaro, mas disse não ter mantido contato com integrantes do governo depois disso.

Em outubro de 2020, Bolsonaro novamente recebeu Gilmar em seu gabinete. Dessa vez, para uma audiência a sós. À época, o pastor publicou uma foto com Bolsonaro e disse que o presidente confirmou ida a uma convenção evangélica organizada pelo pastor no município de Balsas, no sul maranhense. Na véspera do evento, Bolsonaro alegou à rádio “Jovem Pan” que teve de cancelar a viagem sob pretexto de falta de reforço policial para sua presença.

Pouco antes, em setembro de 2020, o senador Flávio Bolsonaro gravou um vídeo parabenizando Gilmar por seu aniversário de 70 anos e o elogiou por “levar coisas positivas que Deus tem abençoado o presidente de estar fazendo”.

“Quero em nome de toda a minha família agradecer por tudo que o senhor faz, não por nós, mas pelo nosso Brasil. (…) Se não fossem pessoas como o senhor, certamente a nossa batalha diária, nossa guerra na disputa aqui do poder em Brasília seria sem dúvida alguma mais complicada”, disse Flávio.

Bolsonaro ainda participou, em fevereiro de 2021, de um evento com Gilmar e Arilton no MEC, com participação de Ribeiro. O ministro ainda levaria Arilton, em maio, em um voo oficial para Alcântara (MA), conforme revelado pela “Folha de S. Paulo”. Em agosto, Ribeiro gravou um vídeo ao lado do pastor Gilmar convidando para um culto em Coração de Maria (BA). Depois disso, o ministro alegou ter cessado agendas externas com os pastores, segundo declarou à CNN, por ter tomado conhecimento de uma apuração da Controladoria-Geral da União (CGU) sobre eles.

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