Política

Candidato de Bolsonaro, Arthur Lira vence na Câmara e reduz chances de impeachment

Líder do PP e do Centrão recebeu 302 votos, contra 145 de Baleia Rossi, defendido pela oposição ao governo federal, em eleição nesta segunda

Arthur Lira e Jair Bolsonaro. Fotos: Luis Macedo/Agência Câmara e Sergio Lima/AFP
Apoie Siga-nos no

O deputado federal Arthur Lira (PP-AL), apoiado pelo presidente Jair Bolsonaro, conquistou na noite desta segunda-feira 1 a presidência da Câmara, com 302 votos, superando Baleia Rossi (MDB-SP), Marcel van Hattem (Novo-RS), General Peternelli (PSL-SP), André Janones (Avante-MG), Luiza Erundina (PSOL-SP), Fábio Ramalho (MDB-MG) e Kim Kataguiri, que concorreu de forma independente. Alexandre Frota (PSDB-SP) retirou sua candidatura e se aliou a Baleia já na noite desta segunda.

Rossi, o segundo colocado, recebeu 145 votos. Para um candidato vencer a disputa em primeiro turno, são necessários 257 votos.

Aos 51 anos, Lira exerce seu terceiro mandato na Casa. Ele é um dos nove representantes de Alagoas na Câmara e lidera a bancada do PP, composta por 42 nomes, e o Centrão, com seus 158 representantes. Compõem oficialmente o bloco de Lira PP, PSL, PL, PSD, Pros, PSC, PTB, Republicanos, Podemos, Avante e Patriota.

“Prometo respeitar as forças vivas desta Casa, os colegiados, a proporcionalidade e o plenário da Câmara, que deve ser a voz de todos, não só de um”, declarou Lira logo após o anúncio do resultado. “Quero servir ao meu País, a esta instituição, ao povo brasileiro, com a minha melhor dedicação, sobretudo neste momento de angústia e de grande aflição”.

Em seu discurso antes do pleito, o líder do Centrão fez uma crítica ao agora ex-presidente Rodrigo Maia e afirmou que a Câmara não pode continuar sendo “do eu”, mas “do nós”.

“Isso não é um slogan de campanha, nem uma frase de efeito, mas a alma desta Casa, o espírito do regimento. Olhem para a cadeira do presidente: por acaso há ali um trono? Não”, afirmou. “Em respeito à colegialidade, temos que dar voz a todas as deputadas e a todos os deputados. Temos que retirar os superpoderes da presidência, como foi nos últimos anos, e devolver esse poder para o seu único e legítimo dono: o plenário da Câmara dos Deputados”.

Integrante da bancada ruralista, o novo presidente da Câmara é signatário da Frente Parlamentar da Agropecuária e tem uma empresa chamada D’Lira Agropecuária e Eventos. Segundo informou o jornal Folha de S. Paulo na quinta-feira 28, Lira foi alvo de investigação pelo Ministério Público Federal em 2020, por supostos crimes tributários e de falsidade ideológica, tanto na D’Lira quanto na outra empresa de sua propriedade, a AFCultura. O caso foi encaminhado ao Ministério Público de Alagoas.

No domingo 31, a candidatura de Lira, que já era apontado como favorito na disputa com Baleia Rossi, ganhou ainda mais fôlego com a mudança de posição do DEM, que decidiu trocar o apoio ao emedebista pela neutralidade oficial.

Após o episódio, Maia reagiu com a ameaça de que poderia aceitar um pedido de impeachment contra Bolsonaro – o que não se confirmou. Em reunião na casa de Maia, foi o presidente do DEM, ACM Neto, quem informou ao anfitrião que a maioria dos deputados do partido apoiaria a candidatura de Lira.

Com a vitória do candidato governista, diminuem as chances de avançar um dos mais de sessenta pedidos de impedimento protocolados contra Bolsonaro.

“Se ele [Maia] não pautou nenhum deles é porque ele sabe que ali não tem nenhum tipo (de crime) que tipifique essa gravidade”, declarou o agora presidente da Câmara em entrevista ao programa Em Foco, da Globo News, no domingo 31. “Estamos em um momento de pandemia, de crise econômica… Não precisamos falar em tese e abrir crise política. Não vou me manifestar sobre impeachment”.

De acordo com ele, o impedimento é um processo político. “Nenhum presidente pauta um impeachment, um impeachment pauta um presidente. Se tivermos inflação de 200%, protestos nas ruas, caos social, isso vem naturalmente”.

Antes da definição das candidaturas de Arthur Lira e Baleia Rossi, Maia nutria o desejo de se candidatar mais uma vez à presidência da Câmara. Em dezembro, no entanto, o Supremo Tribunal Federal declarou inconstitucional a reeleição de presidentes do Congresso na mesma legislatura, seguindo o que apontam a Constituição e o regimento das Casas.

A eleição nesta segunda ocorreu em urnas eletrônicas: foram distribuídas vinte e uma delas pelos salões Verde e Nobre. O fato de o pleito acontecer em meio ao avanço da Covid-19 fez com que a Câmara tivesse de adotar protocolos de segurança.

Deputados de oposição, no entanto, criticaram os mecanismos e apelidaram os espaços de votação de ‘cabines da Covid’. O espaço, de um metro de profundidade e noventa centímetros de largura, é fechado por três paredes de madeira e uma cortina.

A deputada Luiza Erundina, que também concorria ao posto do presidente da Câmara, criticou o fato de a votação se dar de forma presencial, “o que expõe principalmente os 95 parlamentares que são do grupo de risco”. Isso demonstra, segundo ela, “que o caráter genocida de Bolsonaro também está presente no comando da Câmara dos Deputados”.

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome

Os Brasis divididos pelo bolsonarismo vivem, pensam e se informam em universos paralelos. A vitória de Lula nos dá, finalmente, perspectivas de retomada da vida em um país minimamente normal. Essa reconstrução, porém, será difícil e demorada. E seu apoio, leitor, é ainda mais fundamental.

Portanto, se você é daqueles brasileiros que ainda valorizam e acreditam no bom jornalismo, ajude CartaCapital a seguir lutando. Contribua com o quanto puder.

Quero apoiar