Bolsonaro volta a elogiar ditadura e relembra apoio do Grupo Globo

Em discurso de inauguração do projeto 'Semana do Brasil', presidente citou trecho de editorial de Roberto Marinho que exalta golpe de 1964

Foto: Reprodução

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O presidente Jair Bolsonaro (PSL) voltou a elogiar o período da ditadura no Brasil, em discurso nesta terça-feira 3. A declaração ocorreu durante cerimônia de lançamento da campanha Semana do Brasil, que ocorrerá entre 6 e 15 de setembro e tem o objetivo de transformar o Dia da Independência, celebrado em 7 de setembro, em uma data comercial como o Natal e o Dia das Mães.

Ao exaltar o regime comandado por militares, Bolsonaro mencionou o apoio dado pelo empresário Roberto Marinho, fundador do Grupo Globo, ao golpe de 1964, conforme editorial publicado pelo jornal O Globo, em 2 de abril daquele ano.

“Depois de 64, eu tinha 9 anos de idade, nós vivemos aquela fase perfeitamente identificados com os anseios nacionais de preservação das instituições democráticas. E quem está falando isso não sou eu, foi um tal de Roberto Marinho. Então, meus parabéns ao Roberto Marinho, que naquele período que nós vivemos, pode ser difícil em alguma coisa, mas na economia foi 10, no respeito à família também foi 10, no amor ao próximo e à Pátria também foi 10”, disse Bolsonaro.


 

Segundo publicação de 1964, o jornal O Globo publicou um editorial chamado “Ressurge a Democracia”, em que afirma que a nação vivia “dias gloriosos” e elogiou o “heroísmo das Forças Armadas”.

Anos depois, em 7 de outubro de 1984, Marinho escreveu no mesmo veículo: “Participamos da Revolução de 1964, identificados com os anseios nacionais de preservação das instituições democráticas, ameaçadas pela radicalização ideológica, greves, desordem social e corrupção generalizada.” Em 31 de agosto de 2013, o jornal O Globo publicou que o apoio editorial ao golpe de 64 “foi um erro”.

Não é a primeira vez que Bolsonaro faz referência à participação do grupo empresarial de Roberto Marinho na ditadura. Em 3 de agosto de 2018, durante sabatina na emissora GloboNews, o então candidato à presidência relembrou aos jornalistas a posição do Grupo Globo à época.

“Uma das marcas da ditadura é ter uma imprensa única. A TV Globo nasceu em 65. A revista Veja nasceu em 68. Agora, me permite uma coisa aqui, por favor. Eu quero aqui elogiar, saudar a memória do senhor Roberto Marinho”, afirmou. Em seguida, citou trecho do texto e indagou: “O senhor Roberto Marinho foi um democrata ou um ditador?”

Ao fim da sabatina, a jornalista Miriam Leitão reproduziu a nota da empresa: “Como todos os jornais à época, com exceção do Última Hora, O Globo apoiou editorialmente o golpe, com o objetivo reiterado de Roberto Marinho 20 anos depois. O candidato Bolsonaro esqueceu-se também que, em 30 de agosto de 2013, O Globo publicou um editorial em que reconheceu que o apoio ao golpe de 64 foi um erro”.

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