Política

Bolsonaro e Salles se antecipam à Justiça e condenam brigadistas

Membros do governo retomam tese do presidente de que ONGs seriam as responsáveis pelos incêndios na Amazônia

O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, e o presidente da República, Jair Bolsonaro. (Foto: Marcos Corrêa/PR)
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A prisão de quatro voluntários da Brigada de Alter do Chão, na terça-feira 26, mobilizou o alto escalão do governo federal nas redes sociais. O principal argumento utilizado pelo presidente Jair Bolsonaro, pelo ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, e por demais apoiadores do governo foi de associar uma afirmação de Bolsonaro, feita em agosto, com as alegações da polícia, que aponta os brigadistas como causadores de um incêndio de grandes proporções ocorrido em setembro.

A crise desencadeada pelo aumento significativo dos incêndios na Amazônia em 2019 desestabilizou a imagem do governo no cenário internacional no segundo semestre do ano.

Em resposta a isso, Bolsonaro apontou as ONGs como possíveis responsáveis em uma fala proferida em agosto. “Pode estar havendo, não estou afirmando, ação criminosa desses ‘ongueiros’ para chamar atenção contra a minha pessoa, contra o governo do Brasil. Essa é a guerra que nós enfrentamos”, falou.

Nesta quarta-feira 27, o presidente publicou em seu Twitter sobre sua declaração antiga, mencionando que havia feito a constatação em outubro, e não em agosto. Como o incêndio pelo qual os voluntários estão sendo acusados aconteceu em setembro, é impossível que Bolsonaro se referisse ao episódio de Alter do Chão antes mesmo de acontecer.

Em outubro, porém, o ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes, notificou Bolsonaro com um pedido de informações para que ele explicasse se a declaração acusatória tinha sido baseada em alguma prova ou indício. Em resposta, o presidente afirmou que havia sido apenas “mera opinião”, e que ele havia proferido discurso político.

 

Ricardo Salles endossou a hipótese de que Jair Bolsonaro estava correto ao replicar o tuíte de um seguidor, que afirmou que os brigadistas eram “picaretas” presos pela Polícia Civil do Pará e que o esquema envolveria doações do ator Leonardo DiCaprio, “um dos otários que caíram no conto de que toda a Amazônia estava em chamas”. Salles também retuitou uma reportagem sobre a prisão: “Tirem as próprias conclusões”, escreveu.

O Governo do Pará também divulgou posicionamento acerca do tema, mas afirmou que “não interfere em investigações da Polícia Civil, que é autônoma”. Além disso, afirmam que não há nenhuma “predisposição” contra qualquer setor social no que tange à atuação das ONGs.

“O Governo do Pará reitera que as ONGs são fundamentais para a preservação das florestas no Estado, e que o Executivo continua parceiro de todas as instituições e entidades que respeitam as leis brasileiras”, diz a nota.

Organizações acusam falta de provas

A operação da Polícia Civil do Pará prendeu quatro brigadistas na manhã da terça-feira 27 e gerou questionamentos em relação à condução do processo. Além dos voluntários, foram emitidos mandados de busca e apreensão em duas organizações ambientalistas, que negaram a existência de um esquema de enriquecimento com os incêndios na floresta, denúncia feita por parte da polícia.

O pedido de revogação da prisão preventiva foi negado pelo juiz da 1ª Vara Criminal de Santarém, Alexandre Rizzi, na audiência de custódia realizada nesta quarta-feira. A defesa dos quatro brigadistas afirmou que irá entrar com um pedido de habeas corpus. Em nota, a Brigada de Alter do Chão explica sobre a ação da organização no combate ao fogo em resposta a vídeos que circularam nas redes sociais.

“Uma hipótese é de que as imagens sejam de treinamento de voluntários da Brigada, em que focos de fogo controlados são criados para exercícios práticos. […] A outra hipótese é de que os vídeos mencionados mostrem a ação conjunta de brigadistas e bombeiros utilizando a tática conhecida como “fogo contra fogo” – realizada regularmente pelo Corpo de Bombeiros no combate de incêndios”, dizem.

“Faz-se necessário esclarecer, ainda, que os trechos de áudio de um brigadista voluntário que foram vazados para a imprensa estão sendo disseminados sem a devida contextualização”, acrescentam.

Por sua vez, a WWF-Brasil divulgou que “não adquiriu nenhuma foto ou imagem da Brigada, nem recebeu doação do ator Leonardo DiCaprio. Tais informações que estão circulando são inverídicas”. A organização afirma apenas que realizou uma doação de 70 mil reais para a Brigada poder comprar equipamentos utilizados nas operações.

Caetano Scannavino, coordenador da ONG Projeto Saúde & Alegria, afirmou a CartaCapital que acha difícil não haver algum interesse político por trás das acusações. “Eu quero crer que não tenha nenhuma relação a gente poder se expressar e questionar, num país democrático, com o que aconteceu hoje. Mas eu acho difícil, tamanho o absurdo, que não tenha por trás alguma ação política.”

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