Política

Bolsonaro avança no Nordeste, mas “quadro não é tão promissor”, diz cientista político

Para o professor Marcus Ianoni, Bolsonaro quer manter aumento de popularidade, mas ainda pode continuar minoritário na região

O presidente Jair Bolsonaro, em cerimônia de lançamento do programa Casa Verde e Amarela. Foto: Marcos Corrêa/PR
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O presidente Jair Bolsonaro deu mais um passo em sua investida na região Nordeste nesta terça-feira 25, com o lançamento do programa habitacional Casa Verde e Amarela, que substituirá o Minha Casa Minha Vida, uma das marcas das gestões petistas.

Doutor em Ciências Sociais e professor na Universidade Federal Fluminense (UFF), Marcus Ianoni avalia que Bolsonaro percebeu que as políticas de austeridade do seu ministro da Economia, Paulo Guedes, não vão colaborar para as eleições de seus aliados em 2020, nem para sua reeleição em 2022.

Impulsionado pelo aumento de sua popularidade, Bolsonaro investe em uma região em que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) manteve alta fidelidade eleitoral, também por conta de seus programas de transferência de renda.

No entanto, Ianoni destaca que “o quadro não é tão promissor”, pelo menos para oferecer resultados nas urnas em novembro deste ano.

“Bolsonaro não tem um partido forte, ele tem apoiadores em vários partidos, a maioria pequenos”, afirma o professor, considerando que há poucas alianças do presidente entre governadores e prefeitos do Nordeste.

Confira o comentário do professor para CartaCapital.

CartaCapital: Bolsonaro foi eleito com um discurso antipetista, e seu ministro da Economia prega a austeridade. É possível dizer que o presidente, agora, passou a se inspirar em programas sociais das gestões do PT, como Minha Casa Minha Vida e Bolsa Família? Por quê?

Marcus Ianoni: Bolsonaro quer se eleger e percebeu que as políticas de austeridade de Guedes não contribuem para ele alcançar seu objetivo. Ele, Bolsonaro, também apoia as políticas ultraliberais, mas elas são um obstáculo à sua reeleição, por isso ele precisa , o quanto possível, abrir brechas na política fiscal para garantir sua base eleitoral, pois ele perdeu apoios em relação aos que conseguiu em 2018. Visando garantir uma base eleitoral, ele tem focado nos eleitores de baixa renda, pois, devido ao auxílio emergencial, percebeu que sua popularidade nesse segmento do eleitorado aumentou. Esse foco o leva a defender políticas e gastos orçamentários destinados aos eleitores de baixa renda, tanto na área habitacional, como na política de transferência de renda mediante condicionalidades (Bolsa Família).

CC: É possível que Bolsonaro reverta a popularidade de Lula no Nordeste? Quais são as principais dificuldades para angariar popularidade na região?

MI: Por um lado, a situação fiscal atual é bem diferente dos governos Lula e do primeiro mandato do governo Dilma. Além disso, todo o grande empresariado espera que o governo prossiga no caminho da austeridade, que é o caminho que Guedes também defende. Por fim, em todo o Nordeste foram eleitos governadores de esquerda. Esses fatores dificultam os planos de Bolsonaro, mas não necessariamente bloqueiam essa investida dele.

“Como o auxílio emergencial lhe permitiu crescer um pouco na região, Bolsonaro quer reforçar tendência de crescimento”, diz professor.

CC: As eleições municipais de 2020 no Nordeste podem já apresentar reflexos da investida de Bolsonaro, ou o avanço do presidente na região ainda é muito recente para provocar impacto significativo?

MI: As pesquisas de popularidade governamental mostram que o auxílio emergencial tem alavancado a penetração dele em eleitores até então mais próximos do PT, mas não se trata de uma penetração gigantesca, é expressiva, mas não imensa. Sua investida no Nordeste tem a ver também com o fato de que lá é a região em que ele tem sido mais rejeitado e em que foi derrotado em 2018. Como o auxílio emergencial lhe permitiu crescer um pouco na região, mesmo que ainda continue minoritário lá, ele quer reforçar essa tendência de crescimento.

Ocorre que Bolsonaro não tem um partido forte, ele tem apoiadores em vários partidos, a maioria pequenos. No momento, não há elementos que permitam fazer uma previsão mais segura sobre seu desempenho nas eleições municipais na região. No entanto, minha hipótese é que o quadro não é tão promissor, uma vez que todos os governadores são da centro-esquerda ou esquerda e grande parte das prefeituras, inclusive nas capitais, também se alinha a esse espectro ideológico.

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