Política
Bolsonaristas disparam ataques e fake news após leitura de relatório da CPI da Covid
Vídeos fora de contextos e ataques pessoais ao relator Renan Calheiros foram algumas das publicações feitas por apoiadores do presidente
Minutos depois da finalização da leitura do relatório na CPI da Covid no Senado, as redes bolsonaristas começaram a agir para atacar membros da comissão e desqualificar as conclusões do documento, que pediram o indiciamento de Jair Bolsonaro, seus três filhos e outras dezenas de nomes próximos ao presidente. Os ataques foram monitorados pela consultoria AP Exata e registrados pelo jornal O Estado de S. Paulo nesta quinta-feira 21.
Apontado como líder do chamado gabinete do ódio, Carlos Bolsonaro foi um dos primeiros a iniciar os ataques, repetidos em massa por apoiadores em todas as redes sociais. No seu perfil, o vereador e filho do presidente mentiu ao publicar um vídeo fora de contexto em que mostra o filho do relator da CPI e governador de Alagoas, Renan Filho, afirmando que irá “deixar a cloroquina à disposição do uso médico”. O vereador questiona então porque a “CPI do Lula” não teria indiciado o político. O vídeo, porém, é anterior aos estudos que mostraram a ineficácia do medicamento.
“Certamente existem outras dezenas de exemplos [de más condutas praticadas por membros e aliados da CPI] a serem expostos, o que desmascara facilmente qualquer ilação mencionada no relatório dos amigos de Lula e da ‘terceira via’. Todo, absolutamente todo processo, desde seu início, tem método”, escreveu Carlos, que aparece na lista de indiciados por incitar crime ao divulgar fake news.
Flávio Bolsonaro, senador e filho do presidente, também teve seu nome incluído na lista de pedidos de indiciamento no relatório final. Segundo a CPI, o parlamentar incitou crime ao disseminar notícias falsas durante a pandemia. Após a leitura do relatório, Flávio fez uma transmissão ao vivo em que chamou Renan Calheiros (MDB-AL) de ‘vagabundo’. Os ataques buscam sustentar a tese de que Renan não poderia apontar crimes de outros políticos por ter ele próprio já cometido delitos durante sua trajetória. A publicação de Flávio pautou o tom das redes bolsonaristas, que miraram no relator usando o mesmo argumento.
Outras páginas governistas distorceram o relatório final produzido pela comissão de inquérito e mentiram ao dizer que até uma ema foi incluída na lista final de pedidos de indiciamento. “Nem a ema do Palácio da Alvorada escapou da sanha de Renan ‘vagabundo’ Calheiros”, escreveu uma página bolsonarista. A publicação também foi amplamente repercutida nas redes sociais.
Foto: EVARISTO SÁ/AFP
A afirmação trata-se de uma mentira. A ave foi citada no relatório no parágrafo em que o senador descreve o episódio em que Jair Bolsonaro mostra uma caixa de cloroquina ao animal em frente ao Palácio do Planalto. Nenhuma menção da ema é feita na lista de indiciados como divulgaram os bolsonaristas.
Segundo a consultoria, os ataques foram uma resposta às referência negativas ao presidente Jair Bolsonaro, que chegaram a 77% das menções feitas ao presidente nas redes sociais nesta quarta-feira. De acordo com a AP, é o maior patamar dos últimos 15 dias.
Circo
Outros perfis governistas voltaram a chamar a CPI de circo, expressão amplamente usada por Bolsonaro e aliados para se referir à comissão no Senado. O deputado Carlos Jordy e o blogueiro Bernardo Kuster, ambos incluídos na lista de indiciados por disseminar notícias falsas, usaram a expressão para alimentar suas bases de apoiadores nos ataques nas redes.
O governo federal agendou para o dia 26 de outubro, mesmo dia em que o relatório final será votado, o lançamento de uma campanha oficial batizada de Respeitável Circo, que irá fornecer incentivos a artistas circenses. Mário Frias, secretário da Cultura, responsável pela campanha, negou que o nome faça qualquer referência à CPI.
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