Política

Barbarismos, barbáries e barbaridades

A reprodução das sessões dos nossos parlamentos pela televisão é um show de vícios de linguagem, má educação e xingamentos “muito civilizados”, que não esquecem a condição de “Vossa Excelência”

Foto: José Cruz/ABr
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Desde que a insônia se instalou definitivamente na minha vida, tornei-me um telespectador assíduo da TV Senado, TV Câmara e afins. No início, acreditava serem os canais certos para me entediar e cair logo nos braços de Morfeu. Mas estava errado. A reprodução das sessões dos nossos parlamentos pode ser um show à parte, que rivaliza com os melhores (ou piores) reality shows.

No início, estranham-se os atentados ao vernáculo, os vícios de linguagem. Não é difícil ouvir um parlamentar pedir a “adiação” da votação de um projeto e tropeçar a todo instante nos pronomes relativos. Agressões verbais muito pesadas são comuns, porém, sempre respeitada “a forma regimental”. Xinga-se à vontade, mas é impensável fazê-lo, subtraindo a condição de Excelência do adversário. “Vossa Excelência não vale nada, é um canalha. Vou quebrar a cara de Vossa Excelência.”

Ora, impossível esquecer Odorico Paraguassu. É como se Dias Gomes jamais tivesse terminado de escrever novos episódios do célebre prefeito de Sucupira.

Mas quando se entende melhor o que é discutido, percebe-se que nem sempre reproduzem uma comédia. Pode ser um filme de terror, com cenas de violência explícita. Ou um daqueles filmes surreais, pois não é raro assistir a parlamentares discursando para o nada. Postam-se na tribuna, reverenciam o presidente da sessão e começam a discursar para ninguém. Ninguém de fato, ou ninguém prestando atenção, de costas para o orador – e não por protesto – por falta de educação e civilidade.

Também fica claro que nada é decidido no plenário. As decisões vêm de fora. Por certo, percorrem corredores obscuros, não havendo argumentação capaz de alterar o rumo das votações. Alguns poucos, até que tentam. A força da oratória ficou para trás, muito para trás, talvez, aniquilada pelo monstro da governabilidade, expressão corriqueira usada pela base governista.  O Poder Legislativo, de poder tem muito pouco. Tornou-se definitivamente um apêndice do Poder Executivo, aquele que detém a chave do cofre.

Mas esses canais estão aí, abertos, e expõem um pouco do que fazem e do que são os nossos representantes – e isso é muito bom. Suas Excelências estão exercendo um mandato outorgado por nós. Temos a chance de assisti-los. A produção desse  bbb.gov.br é caríssima e não podemos desprezá-la. Precisamos, sim, aguçar a nossa curiosidade para esse espetáculo que influi diretamente nas nossas vidas. Afinal, esse é um “pobrema” meu, “pobrema” seu, “pobrema” nosso.

Desde que a insônia se instalou definitivamente na minha vida, tornei-me um telespectador assíduo da TV Senado, TV Câmara e afins. No início, acreditava serem os canais certos para me entediar e cair logo nos braços de Morfeu. Mas estava errado. A reprodução das sessões dos nossos parlamentos pode ser um show à parte, que rivaliza com os melhores (ou piores) reality shows.

No início, estranham-se os atentados ao vernáculo, os vícios de linguagem. Não é difícil ouvir um parlamentar pedir a “adiação” da votação de um projeto e tropeçar a todo instante nos pronomes relativos. Agressões verbais muito pesadas são comuns, porém, sempre respeitada “a forma regimental”. Xinga-se à vontade, mas é impensável fazê-lo, subtraindo a condição de Excelência do adversário. “Vossa Excelência não vale nada, é um canalha. Vou quebrar a cara de Vossa Excelência.”

Ora, impossível esquecer Odorico Paraguassu. É como se Dias Gomes jamais tivesse terminado de escrever novos episódios do célebre prefeito de Sucupira.

Mas quando se entende melhor o que é discutido, percebe-se que nem sempre reproduzem uma comédia. Pode ser um filme de terror, com cenas de violência explícita. Ou um daqueles filmes surreais, pois não é raro assistir a parlamentares discursando para o nada. Postam-se na tribuna, reverenciam o presidente da sessão e começam a discursar para ninguém. Ninguém de fato, ou ninguém prestando atenção, de costas para o orador – e não por protesto – por falta de educação e civilidade.

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