Economia

Aviso a Bolsonaro: “Está tratando com profissionais, não com laranjal”

Frieza do centrão e da opinião pública levam o governo ao ‘toma lá, dá cá’ que o presidente dizia abominar durante a campanha

Joice Hasselmann e Jair Bolsonaro: nova ponte entre governo e Congresso (Marcos Corrêa/PR)
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Com a fria recepção ao texto da Reforma da Previdência entre os deputados, Jair Bolsonaro pega seu discurso de campanha de não fazer “toma lá, dá cá”, engole rápido, de uma vez, e passa para o que interessa: negociar cargos e emendas. Os líderes do governo tem articulado negociatas com os partidos do chamado centrão.

Na quarta-feira 26, o deputado Major Vitor Hugo, atual líder do governo, levou os líderes partidários para um encontro com Bolsonaro, com direito a foto e tudo. Capitão Augusto (PR-SP), José Medeiros (Podemos-MT), Coronel Armando (PSL-SC) e o emedebista Darcísio Perondi viraram vice-líderes do governo.

Líder do governo no Senado (e ex-ministro do governo Dilma), Fernando Bezerra Coelho sinalizou negociar com esses partidos os chamados cargos de terceiro escalão: em ministérios, universidades e estatais e agências regionais. E a jornalista Joice Hasselmann (PSL-SP) assumirá a liderança no Congresso.

Faltando pouco para completar os 100 dias de governo, esses cargos ainda não foram preenchidos. Talvez para não arranhar o discurso contra a “velha política”. Uma coisa é clara: Bolsonaro elegeu-se com um discurso e terá que governar com outro.

Líderes do PP e do PRB já sinalizaram desagrado com o texto da Reforma da Previdência A Frente Parlamentar Agropecuária, que tem 201 deputados, anunciou apoio, mas quer mudar pontos desfavoráveis ao setor. De concreto, o único apoio mesmo é o do PSL.

“Vários temas já estão marcados para morrer: BPC, aposentadoria rural, professores. E não só com a oposição. O recado dos caciques desses partidos é: você está tratando com profissionais, e não com o laranjal”, avalia o deputado Ivan Valente, líder do PSOL.

Os deputados recém-chegados já organizam um abaixo-assinado pela aprovação de emendas: o “atalho” dado aos políticos para conseguir verba para obras e serviços em suas bases eleitorais. “Parlamentar quer mostrar serviço na base eleitoral dele, quer consertar rua. Sempre foi assim, com todos os partidos”, diz um insider do Congresso.

Para o cientista político Rui Tavares Maluf, a resistência não se limita a fisiologismo e questões eleitorais. As crises internas e a popularidade mediana enfraquecem o governo frente aos partidos que, se não estão colados ao governo, tampouco fazem oposição sistemática. “Ele terá que fazer escolhas em um cardápio não muito amplo”.

Os recados do Congresso

Leia também: Quatro "cavalos de Troia" para ficar de olho no texto da Previdência

Apesar de ter a maior bancada (empatado com o PT), o partido de Bolsonaro está longe de garantir os 308 votos necessários em dois turnos. O apoio do centrão é imprescindível. Não ajuda que o PSL esteja praticamente isolado na liderança de comissões e cargos de alto escalão.

O presidente Rodrigo Maia vem fazendo alertas públicos sobre esse isolamento. Ao comentar o texto em redes sociais, Maia escreveu que o Congresso “precisa muito da proximidade e do diálogo com o Executivo” para dar andamento às votações.

Outra cobrança do representante do DEM é por uma estratégia de comunicação. Nas entrelinhas, Maia sugeriu que as milícias virtuais que ajudaram Bolsonaro a vencer formem fileiras pela aprovação da Reforma. “O que vai mobilizar a sociedade são as redes sociais”, afirmou em evento da FGV, na terça-feira.

Também faz falta um esforço do próprio Bolsonaro em convencer a opinião pública de que a reforma é boa e necessária. Um líder de partido ouvido por CartaCapital diz que esse é um ponto crucial: se o presidente está bem, o Congresso vai com ele por osmose. “Ele tem que fazer lives, ir ao Congresso, bater bumbo. Igual fez com o kit gay“, ironiza.

Vale lembrar que, enquanto deputado, ele votou contra proposta do governo Temer, chegando a dizer que jamais atuaria para levar “miséria” aos aposentados para agradar o mercado financeiro. Nada como um dia após o outro.

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