Economia
Aviso a Bolsonaro: “Está tratando com profissionais, não com laranjal”
Frieza do centrão e da opinião pública levam o governo ao ‘toma lá, dá cá’ que o presidente dizia abominar durante a campanha
Com a fria recepção ao texto da Reforma da Previdência entre os deputados, Jair Bolsonaro pega seu discurso de campanha de não fazer “toma lá, dá cá”, engole rápido, de uma vez, e passa para o que interessa: negociar cargos e emendas. Os líderes do governo tem articulado negociatas com os partidos do chamado centrão.
Na quarta-feira 26, o deputado Major Vitor Hugo, atual líder do governo, levou os líderes partidários para um encontro com Bolsonaro, com direito a foto e tudo. Capitão Augusto (PR-SP), José Medeiros (Podemos-MT), Coronel Armando (PSL-SC) e o emedebista Darcísio Perondi viraram vice-líderes do governo.
Líder do governo no Senado (e ex-ministro do governo Dilma), Fernando Bezerra Coelho sinalizou negociar com esses partidos os chamados cargos de terceiro escalão: em ministérios, universidades e estatais e agências regionais. E a jornalista Joice Hasselmann (PSL-SP) assumirá a liderança no Congresso.
Faltando pouco para completar os 100 dias de governo, esses cargos ainda não foram preenchidos. Talvez para não arranhar o discurso contra a “velha política”. Uma coisa é clara: Bolsonaro elegeu-se com um discurso e terá que governar com outro.
Líderes do PP e do PRB já sinalizaram desagrado com o texto da Reforma da Previdência A Frente Parlamentar Agropecuária, que tem 201 deputados, anunciou apoio, mas quer mudar pontos desfavoráveis ao setor. De concreto, o único apoio mesmo é o do PSL.
“Vários temas já estão marcados para morrer: BPC, aposentadoria rural, professores. E não só com a oposição. O recado dos caciques desses partidos é: você está tratando com profissionais, e não com o laranjal”, avalia o deputado Ivan Valente, líder do PSOL.
Os deputados recém-chegados já organizam um abaixo-assinado pela aprovação de emendas: o “atalho” dado aos políticos para conseguir verba para obras e serviços em suas bases eleitorais. “Parlamentar quer mostrar serviço na base eleitoral dele, quer consertar rua. Sempre foi assim, com todos os partidos”, diz um insider do Congresso.
Para o cientista político Rui Tavares Maluf, a resistência não se limita a fisiologismo e questões eleitorais. As crises internas e a popularidade mediana enfraquecem o governo frente aos partidos que, se não estão colados ao governo, tampouco fazem oposição sistemática. “Ele terá que fazer escolhas em um cardápio não muito amplo”.
Os recados do Congresso
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Apesar de ter a maior bancada (empatado com o PT), o partido de Bolsonaro está longe de garantir os 308 votos necessários em dois turnos. O apoio do centrão é imprescindível. Não ajuda que o PSL esteja praticamente isolado na liderança de comissões e cargos de alto escalão.
O presidente Rodrigo Maia vem fazendo alertas públicos sobre esse isolamento. Ao comentar o texto em redes sociais, Maia escreveu que o Congresso “precisa muito da proximidade e do diálogo com o Executivo” para dar andamento às votações.
Outra cobrança do representante do DEM é por uma estratégia de comunicação. Nas entrelinhas, Maia sugeriu que as milícias virtuais que ajudaram Bolsonaro a vencer formem fileiras pela aprovação da Reforma. “O que vai mobilizar a sociedade são as redes sociais”, afirmou em evento da FGV, na terça-feira.
Também faz falta um esforço do próprio Bolsonaro em convencer a opinião pública de que a reforma é boa e necessária. Um líder de partido ouvido por CartaCapital diz que esse é um ponto crucial: se o presidente está bem, o Congresso vai com ele por osmose. “Ele tem que fazer lives, ir ao Congresso, bater bumbo. Igual fez com o kit gay“, ironiza.
Vale lembrar que, enquanto deputado, ele votou contra proposta do governo Temer, chegando a dizer que jamais atuaria para levar “miséria” aos aposentados para agradar o mercado financeiro. Nada como um dia após o outro.
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