Política

Ativistas denunciam drama dos animais tragados pela lama em Brumadinho

Segundo a ativista Luisa Mell, a falta de coordenação entre o poder público e Vale dificulta o resgate de animais de grande porte

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O mar de lama causado pelo rompimento de uma barragem trouxe morte e destruição ao Córrego do Feijão, em Brumadinho. Mas também há vidas que lutam pela sobrevivência. Cães, vacas, aves e animais silvestres estão sendo resgatados vivos do lamaçal.

Arrastados pela maré de rejeitos, esses animais agonizam há 72 horas sem água e nem comida. A dor dos que não tem voz mobilizou dezenas de veterinários, defensores da causa animal e moradores do entorno. Mas, segundo esses ativistas, o resgate esbarra na falta de coordenação entre o poder público e a Vale.

Vaca presa na lama na comunidade de Casa Grande (Foto: Mauro Pimentel/AFP)

A ativista Luisa Mell viajou a Brumadinho para atuar diretamente nos resgates. Chegou a contratar um voo fretado de helicóptero para mapear a área, mas a aeronave foi impedida de decolar porque o espaço aéreo da região está fechado.

“Estou desesperada, não consigo ajudar no resgate e a Vale, que deveria liderar esse movimento, cedeu apenas um helicóptero”, diz ela, que também atuou no resgate dos animais em Mariana. Desde o sábado, a equipe do instituto que leva seu nome resgatou uma vaca e alguns cachorros.

“Além desse descaso com os animais, a falta de informações atrapalha o trabalho de quem veio até aqui para impedir que esses bichos morram à míngua, estou revoltada”, reclama.

Esses voluntários lamentam ter atuação reduzida. Oficialmente, apenas veterinários e zootecnistas escalados pelo Conselho Regional de Medicina Veterinária de Minas Gerais, em parceria com a Vale, têm autorização dos bombeiros e da Defesa Civil para atuar nas áreas atingidas. De acordo com a empresa, cerca 50 profissionais atuam nas duas margens do Rio Paraopeba.

Bombeiro resgata pássaros e um cachorro presos em uma casa abandonada (Foto: Mauro Pimentel/AFP)

O número de animais domésticos resgatados chegou a 26. A maioria deles cães vira-latas, como os tantos que circulam pelas regiões rurais de Minas Gerais. Além dos cães, também foram encontrados aves e até passarinhos ‘esquecidos’ dentro de gaiolas em casas atingidas pela tragédia.

Leia também: Para o advogado da Vale, empresa não tem responsabilidade por Brumadinho

“Estamos priorizando os animais que possam ser resgatados com saúde, e aqueles em sofrimento”, diz o Rafael Rezende Silva, analista de meio ambiente da Vale, em um vídeo enviado pela empresa.

Um dos primeiros animais resgatados, no sábado 27, foi um cachorro encontrado próximo à Pousada Nova Estância, varrida pelo impacto da lama. Os bombeiros tentaram levá-lo até o posto de atendimento, mas ele fugiu várias vezes de volta ao local do acidente. Nove funcionários do lugar estão desaparecidos.

O resgate dos bovinos e cavalos é o mais crítico. Esses animais pesam em média 800 quilos e é preciso tapumes, correias e em alguns casos, até aeronaves para tirá-los da lama. Algumas não resistiram e tiveram que ser sacrificadas.

Foi o caso de duas vacas alcançadas pelo grupo Anjos do Asfalto no domingo 27, depois de dois dias agonizando na lama. Infelizmente, o resgate teve que ser interrompido porque havia o risco de outra barragem se romper.

Mais um problema é o destino desses bicho de grande porte. Diferente dos animais domésticos, é difícil encaminhar bois e vacas para adoção, e ainda são poucos as entidades protetoras preparadas para recebê-los. “A Vale deveria ela própria construir um santuário para manter esses animais. É o mínimo depois de toda essa tragédia”, sugere Luisa.

Plano de urgência para os animais

O Ministério Público de Minas Gerais pediu à Vale que elaborasse um detalhado plano emergencial para localizar, resgatar e oferecer cuidados veterinários aos animais atingidos pelo desastre. A ordem foi divulgada no domingo 27.

Para atender as exigências do MP, a empresa deverá oferecer equipe especializada, maquinário e transporte aéreo e terrestre para os trabalhos de fauna. Também fica a cargo da empresa conduzir entrevistas com os moradores e, com base nessas informações, estimar a quantidade de animais presos no lamaçal.

Leia também: Brumadinho: 60 mortos, 192 feridos e 292 desaparecidos

Confira algumas fotos e vídeos dos animais em Brumadinho:

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