Política

Após ameaças golpistas de Bolsonaro, Lira diz que é hora de ‘dar um basta’ nas bravatas, mas ignora impeachment

Em discurso, o presidente da Câmara afirmou que não admitirá questionamentos sobre voto impresso e que a Constituição ‘jamais será rasgada’

O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
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O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), fez um pronunciamento nesta quarta-feira 8, um dia depois de o presidente Jair Bolsonaro reforçar suas ameaças golpistas e estimular a desobediência civil a decisões do Poder Judiciário.

Lira, que chegou ao comando da Câmara com apoio de Bolsonaro e tem sido criticado por ignorar os mais de 100 pedidos de impeachment do presidente da República, afirmou no discurso que é hora de “dar um basta” às “bravatas e a um eterno palanque”. Também reiterou que decisões tomadas pelo Legislativo, como o enterro do voto impresso, têm de ser respeitadas.

“Vale lembrar que temos a nossa Constituição, que jamais será rasgada. O único compromisso inadiável e inquestionável que temos em nosso calendário está marcado para 3 de outubro de 2022, com as urnas eletrônicas. É nas cabines eleitorais, com sigilo e segurança, que o povo expressa sua soberania. Que até lá tenhamos todos serenidade e respeito às leis, à ordem e, principalmente, à terra que todos amamos”, disse Lira.

O deputado lamentou o “infinito looping negativo” que se abateu sobre o debate político no Brasil. “Bravatas em redes sociais, vídeos e um eterno palanque deixaram de ser um elemento virtual e passaram a impactar o dia a dia do Brasil de verdade”, criticou.

O Brasil de verdade, prosseguiu Lira, é o “que vê a gasolina chegar a 7 reais, o dólar valorizado em excesso e a redução de expectativas”. Sem mencionar diretamente Bolsonaro, o presidente da Câmara afirmou que os Poderes “têm limitações”.

“O tal quadrado deve circunscrever seu raio de atuação. Isto define respeito e harmonia. Não posso admitir questionamentos sobre decisões tomadas e superadas, como a do voto impresso. Uma vez definida, vira-se a página. Assim como também vou seguir defendendo o direito dos parlamentares à livre expressão e a nossa prerrogativa de puni-los internamente se a Casa, com sua soberania e independência, entender que cruzaram a linha”, acrescentou.

Trata-se de uma referência ao deputado bolsonarista Daniel Silveira (PSL-RJ), que teve a prisão determinada em fevereiro pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal. A decisão foi, dias depois, chancelada pelo plenário da Câmara. A prisão do parlamentar tem sido usada por Bolsonaro como combustível para suas ameaças de golpe.

Lira ainda enalteceu “todos os brasileiros que foram às ruas de modo pacífico” e declarou que “uma democracia vibrante se faz assim, com participação popular, liberdade e respeito à opinião do outro”.

“A Câmara está aberta a conversas e negociações para serenarmos. Para que todos possamos nos voltar ao Brasil real, que sofre com o preço do gás, por exemplo”, completou.

As ameaças no 7 de Setembro

Bolsonaro proferiu dois discursos no 7 de Setembro. Na Avenida Paulista, em São Paulo, reiterou as ameaças golpistas contidas em pronunciamento na Esplanada dos Ministérios, em Brasília.

Na capital paulista, o ex-capitão atacou diretamente o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, que o incluiu no Inquérito das Fake News a pedido do Tribunal Superior Eleitoral. Moraes também determinou a prisão de aliados de Bolsonaro, como o deputado federal Daniel Silveira (PSL-RJ) e o presidente do PTB, Roberto Jefferson.

“Não se pode permitir que um homem apenas turve a nossa liberdade. Dizer a esse ministro que ele tem tempo ainda para se redimir, tem tempo ainda para arquivar seus inquéritos. Sai, Alexandre de Moraes, deixa de ser canalha, deixa de oprimir o povo brasileiro, deixa de censurar”, afirmou o presidente da República. Ele também estimulou a desobediência a decisões do STF.

“Nós devemos, sim, porque eu falo em nome de vocês, determinar que todos os presos políticos sejam postos em liberdade”, declarou. “Dizer a vocês que qualquer decisão do senhor Alexandre de Moraes esse presidente não mais cumprirá. A paciência do nosso povo já se esgotou. Ele tem tempo para pedir seu boné e ir cuidar da sua vida. Ele, para nós, não existe mais”.

No discurso, Bolsonaro repetiu que “só Deus” o tira da cadeira de presidente.

“[Só saio] Preso, morto ou com vitória. Dizer aos canalhas que eu nunca serei preso. A minha vida pertence a Deus, mas a vitória é de todos nós”, afirmou.

O ocupante do Palácio do Planalto também aproveitou o Dia da Independência para voltar a atacar, sem quaisquer provas, as urnas eletrônicas e o sistema eleitoral brasileiro.

“Queremos eleições limpas, democráticas, com voto auditável e contagem pública dos votos. Não podemos ter eleições em que pairem dúvidas sobre os eleitores. Não posso participar de uma farsa como essa patrocinada, ainda, pelo presidente do TSE”, disparou, em referência ao ministro Luís Roberto Barroso.

Na sequência, tornou a centrar a ofensiva em Alexandre de Moraes.

“Cada vez mais somos conservadores, respeitamos as leis e a nossa Constituição. E não vamos mais admitir que pessoas como Alexandre de Moraes continuem a açoitar a nossa democracia e desrespeitar a nossa Constituição. Ele teve todas as oportunidades para agir com respeito a todos nós, mas não agiu desta maneira e continua a não agir”, disse ainda a seus apoiadores.

Mais cedo, Bolsonaro também optou pelo tom de ameaça em discurso a apoiadores na Esplanada dos Ministérios, em Brasília. No pronunciamento, não citou nomes, mas indicou uma nova fase da ofensiva contra os ministros Luís Roberto Barroso e Alexandre de Moraes.

“Não mais aceitaremos que qualquer autoridade, usando a força do poder, passe por cima da nossa Constituição. Não mais aceitaremos qualquer medida, qualquer ação ou qualquer certeza que venha de fora das quatro linhas da Constituição. Nós também não podemos continuar aceitando que uma pessoa específica da região dos Três Poderes continue barbarizando a nossa população. Não podemos aceitar mais prisões políticas no nosso Brasil”, afirmou Bolsonaro.

“Ou o chefe desse Poder enquadra o seu, ou esse Poder pode sofrer aquilo que nós não queremos, porque nós valorizamos, reconhecemos e sabemos o valor de cada Poder desta República”, ameaçou. Ainda disse que “juramos respeitar a nossa Constituição” e que “quem age fora dela se enquadra ou pede para sair”.

No discurso, Bolsonaro também retomou a ofensiva contra governadores que adotaram medidas restritivas para conter a disseminação da Covid-19. O presidente adotou, desde o início da crise, uma postura de negação das recomendações de cientistas, de promoção de medicamentos ineficazes e de desrespeito às regras sanitárias.

“Muitos de vocês sentiram o peso da ditadura. Alguns governadores e prefeitos simplesmente ignoraram preceitos constitucionais. Muitos foram obrigados a ficar em casa. Vocês perderam o direito de ir e vir, ao trabalho. Imagine um desses ocupando a minha cadeira o que imporia à população”, afirmou.

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