Política
Ao criticar Lula, Guedes diz: ‘Não se assustem se alguém pedir o AI-5’
Segundo o ministro da Economia, o incentivo do ex-presidente para as pessoas irem para as ruas prejudica a agenda econômica do governo
O ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou, nesta segunda-feira 25, que não é possível se assustar com a ideia de alguém pedir um novo AI-5 diante de uma possível radicalização dos protestos de rua no Brasil, incentivados pelo ex-presidente Lula.
“Sejam responsáveis, pratiquem a democracia. Ou democracia é só quando o seu lado ganha? Quando o outro lado ganha, com dez meses você já chama todo mundo para quebrar a rua? Que responsabilidade é essa? Não se assustem então se alguém pedir o AI-5. Já não aconteceu uma vez? Ou foi diferente? Levando o povo para a rua para quebrar tudo. Isso é estúpido, é burro, não está à altura da nossa tradição democrática”, disse o ministro em Washington, EUA.
O ministro afirmou que o ritmo das reformas desacelerou no Congresso após a aprovação da Previdência e disse que, quando as pessoas começam a ir para as ruas sem motivo aparente, é preciso entender o que está acontecendo e avaliar se é possível prosseguir com a agenda liberal.
“Chamar o povo para rua é de uma irresponsabilidade. Chamar o povo para rua para dizer que tem o poder, para tomar. Tomar como? Aí o filho do presidente fala em AI-5, aí todo mundo assusta, fala o que que é? (…) Aí bate mais no outro. É isso o jogo? É isso o que a gente quer? Eu acho uma insanidade chamar o povo para rua para fazer bagunça. Acho uma insanidade.”
No final da coletiva, o ministro foi questionado se achava a volta do AI-5 concebível em alguma circunstância e, então, ele negou que uma medida como essa fosse aceita em uma democracia. “É inconcebível, a democracia brasileira jamais admitiria, mesmo que a esquerda pegue as armas, invada tudo, quebre e derrube à força o Palácio do Planalto, jamais apoiaria o AI-5, isso é inconcebível. Não aceitaria jamais isso. Está satisfeita?”, disse.
Filho do presidente defende o AI-5
No mês passado, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) afirmou que, se a esquerda radicalizasse no Brasil, como ocorria nos protestos no Chile naquele momento, era preciso ter uma resposta que poderia ser via um novo AI-5. “Pode ser via um novo AI-5, pode ser via uma legislação aprovada através de um plebiscito, como ocorreu na Itália. Alguma resposta vai ter que ser dada, pois é uma guerra simétrica”, declarou Eduardo em entrevista à jornalista Leda Nagle.
O Ato Institucional Número 5 (AI-5) foi o quinto e o mais duro dos 17 grandes decretos emitidos pela ditadura nos anos que se seguiram ao golpe de Estado de 1964 no Brasil.
Ele foi assinado pelo presidente Artur da Costa e Silva em 13 de dezembro de 1968. Isso resultou na perda de mandatos de parlamentares contrários aos militares, intervenções ordenadas pelo presidente nos municípios e estados e também na suspensão de quaisquer garantias constitucionais que eventualmente resultaram na institucionalização da tortura, comumente usada como instrumento pelo Estado.
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