Política

Aliança do PT com Maluf é mais um capítulo do supermercado eleitoral brasileiro

Sem querer justificar as alianças improváveis, se os principais partidos agem desta maneira, o maior errado na história é o próprio sistema.

O atual sistema politico brasileiro faz com que não só a Interpol queira chegar perto de Paulo Maluf.
Apoie Siga-nos no

Um minuto e trinta cinco segundos a mais no horário eleitoral gratuito, mais algumas inserções durante a programação normal de tevê fizeram os candidatos Fernando Haddad e José Serra cortejarem o PP de Paulo Maluf como aliado nas eleições para prefeito da maior cidade do País.

Com a máquina do governo federal a seu favor, o petista acabou levando vantagem — ganhou o apoio de Maluf e tempo na tevê (qualquer minuto a mais na tevê é comemorado pelos marqueteiros como gol em copa do mundo). Em troca, o ex-governador paulista, que andou frequentando a lista de procurados da Interpol (foto acima), conseguiu uma secretaria a mais no Ministério das Cidades, que já é do pepista Aguinaldo Ribeiro.

Coube ao PSDB aliar-se ao PR, que era da base petista, envolvido diretamente no escândalo do Ministério dos Tranportes que derrubou o ministro Alfredo Nascimento.

Maluf é inimigo histórico tanto do PSDB quanto do PT – nas poucas vezes que esses dois partidos se uniram em São Paulo, o foi para combater Maluf num segundo turno (nas eleições para governador de 1998, apoio de Marta Suplicy a Mario Covas, que retribuiu nas municipais de 2000).

Mas já faz um tempo que isso não quer dizer muita coisa.

O samba do crioulo doido político começou pra valer nas eleições de 1994. Até lá, PSDB e PT eram os principais partidos da esquerda, polarizando com o PFL de Antonio Carlos Magalhães e o PPR de Paulo Maluf, herdeiros da Arena, partidos que viviam mudando de nome para tudo ficar como está. O muro divisor da direita e da esquerda era o gigante PMDB, que reunia todas as matizes, mas que, na prática, ideologicamente quer dizer muito pouca coisa.

Foi então que Fernando Henrique Cardoso quebrou a divisão ao aliar-se ao PFL e ao PTB, e já engatilhando, caso houvesse segundo turno, o apoio do candidato do PRP, Espiridão Amin. Não precisou. A aliança deu tão certo que posteriormente FHC uniu-se ao PMDB, teve ampla maioria no Congresso e conseguiu aprovar tudo o que quis, inclusive a improvável emenda da reeleição.

Lula e o PT passaram o fim da década de 90 apontando dedos para o PSDB por conta disso. Na virada do século, a conclusão interna do partido era de que só chegaria ao poder caso fizesse o mesmo. E foi fazendo o que tanto criticava nos tucanos que o Partido dos Trabalhadores conseguiu implementar seu projeto de poder.

Hoje, podemos dizer que PT e PSDB e seus aliados mais fortes têm alguma coloração ideológica (ou, ao menos, projetos de poder antagônicos). Entre ambos, um gigantesco supermercado eleitoral chamado PMDB sempre a vender caro apoio a cada eleição. E para tentar minar um pouco o poder do partido de Michel Temer, Lula apoiou a criação do PSD, de Gilberto Kassab, um partido que nasceu para ser alugado. Melhor negociar com dois supermercados políticos do que com um só.

Sem querer justificar essas alianças improváveis, se os principais partidos agem desta maneira, o maior errado na história é o próprio sistema. Será sempre difícil argumentar contra o clichê de que “político é tudo igual” se os próprios partidos não se empenham em uma reforma política. Até lá, pode mais quem tem mais para oferecer no varejo eleitoral brasileiro.

Um minuto e trinta cinco segundos a mais no horário eleitoral gratuito, mais algumas inserções durante a programação normal de tevê fizeram os candidatos Fernando Haddad e José Serra cortejarem o PP de Paulo Maluf como aliado nas eleições para prefeito da maior cidade do País.

Com a máquina do governo federal a seu favor, o petista acabou levando vantagem — ganhou o apoio de Maluf e tempo na tevê (qualquer minuto a mais na tevê é comemorado pelos marqueteiros como gol em copa do mundo). Em troca, o ex-governador paulista, que andou frequentando a lista de procurados da Interpol (foto acima), conseguiu uma secretaria a mais no Ministério das Cidades, que já é do pepista Aguinaldo Ribeiro.

Coube ao PSDB aliar-se ao PR, que era da base petista, envolvido diretamente no escândalo do Ministério dos Tranportes que derrubou o ministro Alfredo Nascimento.

Maluf é inimigo histórico tanto do PSDB quanto do PT – nas poucas vezes que esses dois partidos se uniram em São Paulo, o foi para combater Maluf num segundo turno (nas eleições para governador de 1998, apoio de Marta Suplicy a Mario Covas, que retribuiu nas municipais de 2000).

Mas já faz um tempo que isso não quer dizer muita coisa.

O samba do crioulo doido político começou pra valer nas eleições de 1994. Até lá, PSDB e PT eram os principais partidos da esquerda, polarizando com o PFL de Antonio Carlos Magalhães e o PPR de Paulo Maluf, herdeiros da Arena, partidos que viviam mudando de nome para tudo ficar como está. O muro divisor da direita e da esquerda era o gigante PMDB, que reunia todas as matizes, mas que, na prática, ideologicamente quer dizer muito pouca coisa.

Foi então que Fernando Henrique Cardoso quebrou a divisão ao aliar-se ao PFL e ao PTB, e já engatilhando, caso houvesse segundo turno, o apoio do candidato do PRP, Espiridão Amin. Não precisou. A aliança deu tão certo que posteriormente FHC uniu-se ao PMDB, teve ampla maioria no Congresso e conseguiu aprovar tudo o que quis, inclusive a improvável emenda da reeleição.

Lula e o PT passaram o fim da década de 90 apontando dedos para o PSDB por conta disso. Na virada do século, a conclusão interna do partido era de que só chegaria ao poder caso fizesse o mesmo. E foi fazendo o que tanto criticava nos tucanos que o Partido dos Trabalhadores conseguiu implementar seu projeto de poder.

Hoje, podemos dizer que PT e PSDB e seus aliados mais fortes têm alguma coloração ideológica (ou, ao menos, projetos de poder antagônicos). Entre ambos, um gigantesco supermercado eleitoral chamado PMDB sempre a vender caro apoio a cada eleição. E para tentar minar um pouco o poder do partido de Michel Temer, Lula apoiou a criação do PSD, de Gilberto Kassab, um partido que nasceu para ser alugado. Melhor negociar com dois supermercados políticos do que com um só.

Sem querer justificar essas alianças improváveis, se os principais partidos agem desta maneira, o maior errado na história é o próprio sistema. Será sempre difícil argumentar contra o clichê de que “político é tudo igual” se os próprios partidos não se empenham em uma reforma política. Até lá, pode mais quem tem mais para oferecer no varejo eleitoral brasileiro.

ENTENDA MAIS SOBRE: , , ,

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome

Os Brasis divididos pelo bolsonarismo vivem, pensam e se informam em universos paralelos. A vitória de Lula nos dá, finalmente, perspectivas de retomada da vida em um país minimamente normal. Essa reconstrução, porém, será difícil e demorada. E seu apoio, leitor, é ainda mais fundamental.

Portanto, se você é daqueles brasileiros que ainda valorizam e acreditam no bom jornalismo, ajude CartaCapital a seguir lutando. Contribua com o quanto puder.

Quero apoiar