Política
Alessandro Vieira: fim do uso de máscaras é factoide de Bolsonaro para tirar o foco das 500 mil mortes
A CartaCapital, o senador confirma que a CPI da Covid aprofundará as investigações sobre o dinheiro por trás da cloroquina
O senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE), titular da CPI da Covid, afirma que as recentes declarações do presidente Jair Bolsonaro sobre o fim da obrigatoriedade do uso de máscaras por vacinados não passa de uma estratégia para desviar o foco do que realmente importa: as quase 500 mil mortes pelo novo coronavírus no Brasil.
“Ele tenta normalizar esses fatos, levar para um campo de debate ideológico. Ele quer tirar o foco, faz isso diariamente. Hoje vejo focalizar-se a discussão do que seria um parecer para desobrigar o uso de máscaras. É um factoide. Ele tira um pouco a atenção das pessoas daquilo que é essencial: o Brasil chega perto de meio milhão de mortos e o resultado poderia ser diferente”, avaliou Vieira em entrevista ao canal de CartaCapital no YouTube nesta sexta-feira 11.
Na quinta-feira 10, durante evento do Ministério do Turismo, Bolsonaro declarou que o Ministério da Saúde emitirá um parecer que desobrigará o uso de máscara por pessoas vacinadas ou que já tenham sido infectadas pelo novo coronavírus.
Mais tarde, em transmissão ao vivo nas redes sociais, o ocupante do Palácio do Planalto reforçou a ameaça. “Orientar a desobrigação de uso da máscara para quem já foi vacinado ou já contraiu o vírus. A gente não pode viver numa opressão a vida toda”, disse. A possibilidade foi repudiada por especialistas, como o médico infectologista Marcos Boulos.
Além disso, diz Vieira, as ameaças de Bolsonaro à democracia com o uso das Forças Armadas precisam de uma resposta à altura pelos presidentes do Legislativo e do Judiciário. Nesta sexta, durante evento em São Mateus (ES), o capitão afirmou: “Tenho as Forças Armadas ao meu lado, sou chefe supremo delas. Jamais elas irão às ruas para mantê-los em casa. Poderão, sim, um dia ir às ruas para garantir a sua liberdade e seu bem maior, que é aquilo previsto em nossa Constituição”.
Para o senador, Bolsonaro tenta, dessa forma, “intimidar testemunhas, integrantes da CPI e setores da sociedade e da política que receiam um agravamento de confronto ou autogolpe. Precisamos de serenidade para fazer um trabalho qualificado, o mais técnico possível, e também de respostas políticas. É fato que temos uma omissão dos presidentes dos Poderes, que estão testemunhando esse avanço antidemocrático”.
“É preciso que o senador Rodrigo Pacheco, o deputado federal Arthur Lira e o presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Luiz Fux, se manifestem, de forma respeitosa e equilibrada, mas que não se tolere a omissão em um momento desses, quando você vê um arreganho autoritário constante”.
Na entrevista, Alessandro Vieira também indicou o caminho que a CPI deve seguir nas próximas semanas: o aprofundamento das investigações sobre o ‘gabinete paralelo’ e o dinheiro por trás da indústria de promoção da cloroquina.
“A gente precisa entender cada tomada de decisão do governo federal. O mesmo governo que se recusou a fazer qualquer gesto em favor da compra de vacinas é o que vai em busca de insumos para dois fabricantes nacionais para um medicamento que não funciona no combate à Covid”, declarou o senador.
Ele citou que diversos países, no início da crise sanitária, promoveram estudos sobre possíveis remédios a serem usados contra a Covid-19. Ao comprovarem a ineficácia da cloroquina, abandonaram a ideia.
“No Brasil isso continua, aumenta, é estimulado pelo governo federal e por um grupo de voluntários que é, ao que tudo indica, organizado e financiado pelos próprios fabricantes. A gente tem que entender essa relação para entender por que uma política pública tão importante deixou de seguir o que a Ciência preconizava para seguir o que esses pseudo-cientistas defendem”.
Segundo ele, “não dá para aceitar a mentira como método de governo. O presidente da República, de forma reiterada e cada vez mais grave e acintosa, usa a mentira: sobre remédios, máscaras, número de mortes“.
Já as apurações sobre o ‘gabinete paralelo’, de acordo com Vieira, não afastarão a responsabilidade do presidente, mas a agravarão. “Porque ele teve acesso a informação de qualidade, tem disponibilidade plena de dados”.
Assista à íntegra da entrevista:
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