Opinião

Uma breve explicação sobre o MST aos fariseus da ganância

Nada leram na vida com potencial de fazê-los ver que cercados de miséria se vive mal

Marcelo Camargo/ Agência Brasil
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Qual a concepção de vocês, longe do mundo rural, ou perto, mas fariseus da ganância, sobre o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra, o MST?

Como é? Fiz uma pergunta. Não entendo seus grunhidos amorfos. Levanto o som do rádio, opa, ouço algo como invasões de fazendas ‘produtivas’, vagabundos que não produzem, assentados que usam as terras para vende-las ou arrendá-las, selvagens que invadem e destroem campos de experimentos de grandes empresas agropecuárias, escolas que ensinam e alfabetizam usando o “marxista” método Paulo Freire?

É isso, isso mesmo? Então já devem ter visitado vários acampamentos e verificado o apelo comunista do MST. Não? Onde se informaram, pois? Nas folhas e telas cotidianas da conservação do Acordo Secular de Elites? Ah, bom. Imaginava.

O MST nasceu, em 1984, apoiado pela Comissão Pastoral da Terra (CPT), com origem na Igreja Católica e no setorial da Teologia da Libertação, tão bem hoje entendida pelo Papa Francisco, de como Jesus Cristo, um defensor e lutador pelos pobres, pregou este um planeta menos desigual.

Isso, ironicamente, aconteceu em Cascavel, Paraná, no 1º Encontro Nacional dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, uma das regiões de muito catolicismo e pouco reconhecimento à distribuição de renda entre caboclos, campesinos e sertanejos. Para eles, apenas os donos de terras, por herança, construíram a riqueza da região.

Hoje em dia, são grandes cabeças empresariais, empreendedoras, com suas enormes John Deere, New Holland, Massey, informatizadas, mandam no exército rural com que antes, descendentes de italianos, alemães e polacos, os ajudavam. Se muito, viraram agricultores familiares, indispostos aos apoios tecnológicos e recursos financeiros, apud Jair Bolsonaro, filhos do capitão, Paulo Guedes, Tereza Cristina e Ricardo Salles (risos), na ordem.

Não sei, com sua força, o que esperam para defenestrar o chanceler Ernesto Araújo, o pior deles, na passageira (creio) crise sojicultora por que passam. Também pode piorar, mantida a guerra entre Trump e Xi Jiping, e a inabilidade do atual governo brasileiro.

Mas voltemos ao MST. Os acima são e continuarão sendo Bolsonaro. Não se envergonham de seus pensamentos e gafes. Nada leram na vida com potencial de fazê-los ver que cercados de miséria se vive mal.

O êxodo rural no Brasil continua. Não pela mecanização ou pela informática, mas ainda pela redução de custos de mão-de-obra. Trabalho manual pouco serve, incomoda, a não ser para manutenção de suas vaidades do prazer.

As Ligas Camponesas, de Francisco Julião, Vitor Nunes Leal, Gondim da Fonseca e Ariano Suassuna (meu senhor!), foram interrompidas pelos militares de 1964.

Lá se vão 55 anos. Onde erramos, então, permitindo a eles novamente nos subjugarem, perguntaria eu às linhas do meu retrós, que os botões são do jornalista Mino Carta?

Está fácil, a cada dia, destruírem aparelhos destinados à inserção social humanista, sempre prioritária. Não pensem nessa facilidade ao enfrentar o MST. Ele está no campo organizado em 25 estados. Tem verticalidade em famílias, direções e instâncias.

Com estudos, pesquisas e, mais do que tudo, experiências pessoais, atuam em Saúde, Direito, Diversidade de Gêneros, Educação, Cultura, Comunicação, Formação, Projetos e Finanças, Produção, Cooperação e Meio Ambiente e Coletivos de Massa.

Há muitos jovens, desde crianças treinados em relações institucionais e internacionais, “buscando sempre a perspectiva camponesa. O movimento recebe apoio de organizações não governamentais e religiosas, do país e do exterior, interessadas em estimular a reforma agrária e a distribuição de renda em países em desenvolvimento. Sua principal fonte de financiamento é a própria base de camponeses já assentados, que contribuem para a continuidade do movimento”.

A Escola Nacional Florestan Fernandes, em Guararema/SP, construída em regime de mutirão, tem cursos em vários níveis, desde a alfabetização até administração cooperativista, pedagogia da terra, saúde comunitária, planejamento agrícola e técnicas agroindustriais.

Consideram excelente a educação promovida pelo MST, intelectuais e ativistas renomados como Noam Chomsky, Sebastião Salgado, Chico Buarque, o saudoso José Saramago, e milhares de intelectuais mundiais.

Vão encarar, bolsominions?

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