Opinião

Um dia eles pagarão pelos crimes cometidos

Nas próximas eleições, ou votaremos na democracia ou nos aliados locais desses assassinos

Foto: DOUGLAS MAGNO / AFP
Apoie Siga-nos no

“A salvação não reside em rituais ou em qualquer credo determinado mas em uma clara compreensão do significado da sua vida.” – Leon Tolstoi.

Na semana passada, uma criança de onze anos ligou para a polícia, pedindo socorro, pois ele e os irmãos estavam passando fome. A mãe estava desempregada.

Isso aconteceu no Brasil, o segundo maior exportador agrícola do mundo.

Atualmente, neste País em que o poder de compra foi arrochado por políticas concentradoras de renda – após o golpe de estado de 2016 – 33 milhões de pessoas estão passando fome; 65 milhões não se alimentam adequadamente. Um escândalo.

Os responsáveis por isso, Michel Temer e Jair Bolsonaro (junto com a familícia, inclusive a conje) um dia deverão pagar pelos crimes cometidos.

Não apenas esses genocidas assassinos deverão prestar contas – alguns deles já começam a responder: na semana que se iniciou, vimos o miliciano ser hostilizado, junto com o vendilhão do templo da Havan, em churrascaria em São Paulo.

Enquanto milhões de pessoas passam fome por culpa dele e da camarilha no poder, ele tem o desplante de ir a uma churrascaria, fartar-se às custas dos milhões de famintos por ele reduzidos à condição sub-humana.

A mesma repulsa foi manifestada no estádio do Palmeiras e se espera que isso se repita sempre que o monstro venha a público.

Idem para o aprendiz de feiticeiro, Sérgio Moro, enxotado de feira livre em Curitiba.

Mas muitos ainda estão na fila dos réus. Alguns, até por crimes cometidos no exterior.

Um caso que merece atenção é a barbárie no Haiti.

Parece que nos esquecemos que foi um general brasileiro que liderou a MINUSTAH, a força de paz da ONU no Haiti.

Não fora a pacificação de Cité Soleil um de seus troféus?

Ora, na semana passada, centenas de pessoas foram mortas naquela localidade. Milhares tiveram de fugir de lá, em busca de refúgio. A própria catedral foi atingida por disparos.

A guerra entre milícias armadas, que extorquem comerciantes, nunca foi tão intensa.

Não seria o caso do general, altíssimo assessor do presidente ilegítimo, ser ouvido? Seria coincidência que, como resultado, as milícias estejam no poder lá e aqui?

Um outro personagem da tragédia, o candidato a vice-presidente na chapa miliciana, não foi ele interventor no Rio de Janeiro? O que fez para combater as milícias e apurar o assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, cujas balas assassinas vieram de lotes de munições da Polícia Federal?

Entre armados, talvez haja uma “solidariedade de casta”, que nos escapa.

Em “Dom Vito” (editora Feltrinelli), de Massino Ciancimino e Francesco La Licata, temos o relato do assassinato, pela máfia, do presidente da região da Sicília, Piersanti Mattarella: “O presidente da Região é assassinado em 6 de janeiro de 1980, sob os olhos de sua esposa…as investigações, conduzidas também por Giovanni Falcone [o juiz que também seria posteriormente assassinado pela máfia], não formam um quadro nítido da morte, delineando trama ambígua, em que convivem uma possível causa ligada aos interesses político-mafiosos (concessão de obras públicas) e a suposição, talvez mais do que isso, da presença de forças escuras – os serviços secretos, o terrorismo fascista – que tendem a deslocar os possíveis motivos para hipóteses mais articuladas, como por exemplo a vontade de interromper a política de abertura aos comunistas [então majoritário Partido Comunista], iniciada por Mattarella.”

Ao citarem Vito Ciancimino, os autores recordam o que escrevera a respeito em seu livro “As máfias”: “Matarella na vida política siciliana foi o mesmo que Moro [Aldo, primeiro-ministro assassinado em 1976] na vida política nacional [tentara pela primeira vez, o ‘compromisso histórico’ entre a esquerda da Democracia-Cristã e o PCI]. Uma vez, diante de uma de suas intuições admiráveis, eu lhe disse que só De Gasperi e Moro podiam estar à sua altura. Sorrindo, respondeu: ‘Não o diga a ninguém’…Estava seguramente destinado a assumir papéis de grande relevo político em âmbito nacional. Eu fui testemunha do grande choque que Piersanti Mattarella sofreu pelo assassinato de Aldo Moro; estou seguro que, em qualquer cargo de responsabilidade, não deixaria de buscar os mandantes ou inspiradores daquele delito. Eis, na minha opinião, a matriz do assassinato de Matarella. Era perigoso para o Palácio (aquele grande), antes, seria melhor que não entrasse e assim foi. Talvez tenham contribuído [para o assassinato dele] Gladio ou os ‘desviados’ [os serviços secretos degenerados e sua junção com setores de extrema-direita, inclusive da maçonaria].”

Para se ter uma ideia do percurso criminoso das máfias e dos atentados que cometeram contra o estado, os autores fazem uma dolorosa relação dos principais crimes cometidos por aquela organização criminosa, idêntica às milícias locais: “As datas dos atentados representam marcos fundamentais de um percurso assinalado pelo sangue: jornalista Mauro De Mauro (1970), procurador Pietro Scaglione (1971), coronel dos carabineiros Giuseppe Russo (1977), secretário da Democracia-Cristã Michele Reina (1979), jornalista Mário Francese (1979), chefe da equipe móvel Boris Giuliano (1979), juiz César Terranova (1979), presidente da Região Piersanti Matarella (1980), capitão dos carabineiros Emanuele Basile (1980), procurador Gaetano Costa (1980), secretário do PCI Pio La Torre (1982), general Carlo Alberto Dalla Chiesa (1982), agente Calogero Zucchetto (1982), juiz Rocco Chinnici (1983), capitão dos carabineiros Mário D’Aleo 1983), comissário Giuseppe Montana (1985), vice-procurador Antônio Cassarà (1985), ex-prefeito Giuseppe Insalaco (1988), empresário Libero Grassi (1991), ex-prefeito Salvo Lima (1992). Até a explosão final das tragédias de Capaci e rua D’Amelio que fecharam essa conta com os mais representativos expoentes do pool (de juízes) de Palermo: Giovanni Falcone e Paolo Borselino.”

Nas próximas eleições, ou votaremos na democracia ou nos aliados locais desses assassinos. Não haverá meio termo.

Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.

ENTENDA MAIS SOBRE: , , ,

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome

Os Brasis divididos pelo bolsonarismo vivem, pensam e se informam em universos paralelos. A vitória de Lula nos dá, finalmente, perspectivas de retomada da vida em um país minimamente normal. Essa reconstrução, porém, será difícil e demorada. E seu apoio, leitor, é ainda mais fundamental.

Portanto, se você é daqueles brasileiros que ainda valorizam e acreditam no bom jornalismo, ajude CartaCapital a seguir lutando. Contribua com o quanto puder.

Quero apoiar