Opinião

Tudo vai melhorar, facilitaram a posse de armas. Mas a quem mataremos?

No celeiro que é o interior da Bahia, sobram incertezas sobre o futuro da nossa agricultura

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Alguém aí conhece Eunápolis, no sul da Bahia? 120 mil habitantes, a 65 quilômetros do paraíso, em Porto Seguro, onde Cabral inventou o Brasil, conforme consta da marchinha de Carnaval, composta por Lamartine Babo (1904-1963) e interpretada por Almirante (1908-1980), em 1934, evento cada vez mais entronizado na política nacional.

Lá são plantadas várias culturas. soja, cana-de-açúcar, milho, café, mandioca, arroz, laranja, feijão, algodão, banana, fumo, batata inglesa, tomate, trigo, uva, cebola, cacau, amendoim e pimenta do reino. Por pequenos e médios agricultores. Aliás, como acontece em quase todo o Brasil, à exceção das áreas de matas, florestas, pastagens e campos adequados aos grãos. Os imbecis do velho testamento do governo eleito não sabem disso, e irão comprometer-nos.

Confere, Dr. Paulo “Keds”, Chanceler “Arnesto” Araújo, ministras “Da Podres Mares” e Tóxica Tristina? Esta, então, quer Gisele Bündchen como embaixadora da Pasta da Agricultura, ao que eu diria: “Gisele, Gisele, salve sua pele”.

É difícil deixar cocos, peixes, camarões, cervejas e cachaças-de-rolha do litoral para se embrenhar nos campos baianos.

O primeiro encontro de trabalho seria com Gilson, nosso agrônomo na região. Sua tarefa, convencer os produtores locais a diminuírem o uso de fertilizantes químicos e agrotóxicos consorciando-os, se necessário, aos nossos produtos orgânicos e minerais? É trabalho árduo. A concentração da produção de agroquímicos nas multinacionais e sua poderosa máquina de divulgação impedem o desenvolvimento das tecnologias, naturais, orgânicas e biológicas.

Mas, além da sobrevivência da empresa, nós e muitos outros seguimos, pois é a peleja do bem contra o mal em todo o planeta.

O primeiro potencial cliente visitado pareceu-nos receptivo. E olhem que, além do que planta em Eunápolis, a mil quilômetros dali (Barreiras), com outros sócios, planta soja e milho em grandes extensões.

Queixa-se de cartelização no setor de agroquímicos, dos preços incontroláveis, da pouca competição, fala com saudade da produção estatal de nitrogênio em Sergipe e Bahia, das condições ofertadas pelas tradings internacionais para comercialização, dos solos esterificados.

Se vai se tornar usuário de nossos produtos, não sei, mas surpreendeu-me quando, perguntado sobre a economia do país, disse: “Acho que tudo agora irá melhorar”.

Tenho educação e estômago fortes. Respondi: “também acho”. O mesmo que, ultimamente, faço em São Paulo, diante da frase mais ouvida nesta paróquia-província depois que um Messias apareceu. À muito custo, ensinaram-me a calar.

É quando me chegam as folhas e telas cotidianas. Temos 11% da população vivendo com menos de R$ 233 per capita; 6,3 milhões em extrema pobreza; cortes em programas de transferência de renda; alto nível de déficit habitacional; centralização do comércio internacional em direção ao nosso maior concorrente; desencontros de medidas e conceitos; o fim do CONSEA, Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional, uma das maiores preocupações mundiais; a raposa tomando conta da demarcação de terras indígenas e quilombolas.

Não se acredita em aquecimento global; ameaça-se abandonar o Acordo de Paris sobre mudanças climáticas; deixa-se os parceiros internacionais dos últimos 15 anos para se unir a nosso maior concorrente no comércio internacional, orientados por um caquético pensador, até então, no ostracismo. Nem mesmo Fernando Henrique Cardoso fez uso da múmia.

Segundo a UNCTAD, as incertezas da ultradireita fizeram, em 2018, caírem 75% os investimentos da China no Brasil.

Bestas, apesar de economia de mercado, a China é centralmente planejada pelo PCC (Partido Comunista Chinês), não o PCC daqui (Primeiro Comando da Capital).

Mas aqui e agora tudo irá melhorar, não é mesmo? Esta semana será assinado decreto a favor do porte de armas. Resta saber a quem mataremos. Sugestões para o meu blog.

Boa sorte. Inté!

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