Opinião
Teich está contaminado pelo bolsonavírus
O novo ministro da Saúde não faz a mínima ideia de como combater a pandemia sem confrontar o ex-capitão. E talvez não se interesse
O ministro da Saúde, Nelson Teich, informam os jornais, tem um compromisso importantíssimo em sua agenda. Vai participar de uma media training. Em resumo, será adestrado por marqueteiros a dar as respostas mais genéricas e evasivas aos jornalistas e aos cidadãos.
Teich precisa mesmo de treinamento. Ao contrário de seu antecessor, Luiz Henrique Mandetta, macaco velho da política, o empresário é confuso, inseguro, tropeça nas palavras e é apegado a frases longas que invariavelmente levam a um beco sem saída.
Suas declarações ornariam um livro sobre empreendedorismo, mas são inadequadas, inúteis, na boca de quem tem o dever de dirimir as dúvidas a respeito do progresso da covid-19, tranquilizar a população e indicar um rumo aos estados e municípios.
O governo federal mudou ou não mudou de estratégia? Vai negociar ou não o fim do isolamento? Ele será gradual ou de supetão? Haverá testes em massa? Apostaremos ou não na cloroquina? E no vermífugo do astronauta que fez do Ministério da Ciência a sua Lua particular?
Teich, neste ponto, se parece muito com Bolsonaro. Entende-se adesão de primeira hora à campanha do ex-capitão. São claras as afinidades eletivas, o reconhecimento de iguais.
Entre as quatro paredes do gabinete presidencial, o que dirão um para o outro? Como interpretarão a realidade?
Na primeira semana no cargo, não sabe o que pensa o ministro. Ele não participa de coletivas diárias para explicar o desenvolvimento do vírus e as medidas adotadas pelo governo.
No boletim da segunda-feira 20, o Ministério da Saúde errou os números de mortos em 200%. Minutos depois, de forma vexaminosa, corrigiu os dados.
Diante da clara subnotificação de infectados e de vítimas fatais e das justificadas suspeitas de manipulação de informações, a falha só aumenta as suspeitas de que o descaso, o despreparo e a irresponsabilidade antes confinados no Palácio do Planalto contaminaram o ministério da Saúde.
O bolsonavírus se alastra. Em videoconferência com os governadores do Nordeste, informou que ainda “tomava pé” das funções na pasta.
O Brasil vive um momento crítico da pandemia e Teich está empenhado em “tomar pé” da situação. É isso o que ele tem a declarar?
Vários memes travestem o ministro de Frankestein. As semelhanças com o personagem interpretado nos cinemas por Boris Karloff são inegáveis. Mas ele se sairia bem em outro papel, o de Caronte, barqueiro do Hades, ou do Inferno.
Enquanto Teich toma pé da situação, só consigo imaginar a fila de brasileiros na entrada do inferno de Dante Alighieri, prostrados, sem distanciamento social, diante da frase que resume a nossa situação: “Ó, vós que entrais, abandonai toda a esperança”.
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O bolsonarismo perdeu a batalha das urnas, mas não está morto.
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