Alberto Villas

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Jornalista e escritor, edita a newsletter 'O Sol' e está escrevendo o livro 'O ano em que você nasceu'

Opinião

Os pegue-pagues da vida

Gosto de ir ao supermercado para ver as novidades

Imagem: iStock
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Já percebi que as pessoas gostam muito de assunto produto. Foi só eu postar no Facebook, dia desses, que a torrada Bauducco está ficando do tamanho de um crouton e que a embalagem da pasta de dente Sensodyne está competindo com a embalagem do Super Bonder que choveu likes.

Mil duzentos e trinta e seis pessoas curtiram e 528 comentaram. Muitos concordaram, mas a maioria queria dar novos pitacos.

E o capuccino Três Corações que vem a metade do tamanho da embalagem?

Lembram quando o pacote de manteiga tinha 250 gramas?

O pão de forma também encolheu.

A latinha de Coca diminuiu e o preço não.

A embalagem de ovos tem dez unidades, antigamente eram doze.

E por aí foi.

Eu também adoro produtos, amo ir ao supermercado ver as novidades. Sabia que agora tem uma Fanta Mistério? E o Toddy branco, já conhece? Onde foi parar o tubo de leite Moça dos anos 1990? Lembra quando o Chá Matte Leão vinha numa caixinha de madeira? Já percebeu que está difícil encontrar uma pasta de dente que é só pasta de dente. Agora ela são um mix de cúrcuma, carvão ativado, hortelã, gengibre, coco, abacaxi…

Sou do tempo em que o Guaraná vinha em garrafa de vidro, o arroz e o feijão eram vendidos a granel, suco era só o Maguary que a gente misturava com água. O leite vinha em saquinho, a manteiga Itambé em caixinha. Sou do tempo em que chamávamos papaia de mamão do Amazonas.

Tem gente que tem saudade. Saudade da Cerveja Portuguesa, do pirulito de chocolate da Kibon, das balas Soft, da Mirinda Morango, dos fósforos Beija-Flor, do cigarro Continental sem filtro. Tem gente que tem saudade até mesmo do Mandiopã.

Muitos guardam embalagens por puro saudosismo. Uma amiga minha tem até hoje uma caixinha da pasta de dente Kollynos, uma do sabonete Lifebuoy, além de um vidrinho da colônia Pinho Campos do Jordão.

O mundo mudou muito. Sou do tempo em que um litro de leite era apenas um litro de leite. Hoje temos integral, desnatado, semi-desnatado, magro, leite AA e até sem lactose.

Na minha infância, aqui no Brasil não tinha kiwi, não tinha pitaia, não tinha tomate cereja, poncã, limão siciliano, toranja, couve de Bruxelas, não tinha congelados, nem nada vegano. Não tinha cuscuz marroquino.

Voltando ao assunto lá do início, gosto de ir ao supermercado para ver as novidades, coisas malucas como iogurte grego sabor jabuticaba, mexerica descascada, água de coco congelada com gosto de nada, pão de forma com iogurte e sementes de girassol, além de pimentão alaranjado.

Mas, dia desses, andando por um supermercado que se chama Violeta, aqui na Lapa, perto de casa, trombei com um vidro de Karo, aquele Karo que minha mãe colocava na banana amassada. Com a mesma embalagem de décadas, lá estava o Karo, assim mesmo, com K. Como a Karol.

Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.

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