Randolfe Rodrigues

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É senador pela Rede/AP, professor, graduado em História, bacharel em Direito e mestre em Políticas Públicas.

Opinião

Os motivos para a instalação da CPI da Pandemia, por Randolfe Rodrigues

Talvez, esta seja a Comissão Parlamentar de Inquérito mais importante dos últimos trinta anos

Foto: Agência Senado
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A instalação da CPI da Pandemia é uma vitória de toda a sociedade brasileira. Talvez, seja a Comissão Parlamentar de Inquérito mais importante dos últimos trinta anos. Afinal, se dispõe a investigar as ações e omissões no enfrentamento ao coronavírus e que resultaram no genocídio da população brasileira. Já são mais de 370 mil mortes e as estatísticas continuam altas, indicando que o morticínio seguirá assolando o País nas próximas semanas ou mesmo meses.

Os motivos que justificam a sua instalação são variados, desde a sabotagem às medidas de contenção do espalhamento do vírus à desorganização em nossa campanha de vacinação, que corre o risco de parar em centenas de municípios devido à falta de oferta de imunizantes para prosseguimento da imunização. As repetidas falhas na gestão da crise, não à toa, colocam o Brasil como o epicentro mundial da pandemia, além de celeiro para surgimento de novas cepas. 

Nosso pedido para instalação da CPI é baseado em mais de uma dezena de ações ou omissões do governo federal no enfrentamento à pandemia. A começar pela negação da gravidade da Covid-19 e a sabotagem às medidas de isolamento social – este último apontado por autoridades sanitárias internacionais como uma das mais eficazes medidas para evitar a propagação do vírus. Desestímulo ao uso de máscaras, outra medida que salva vidas, e a insistência em medicamentos sem eficácia contra o coronavírus, abrem a lista de motivos. 

 

Mas não fica apenas nisso. As aglomerações causadas pelo presidente e sua comitiva durante viagens pelo País – aproveitando a oportunidade para espalhar desinformação sobre a pandemia – contribuíram decisivamente para a disseminação do vírus. Existem, inclusive, planilhas que mostram a relação entre o aumento do número de casos e localidades visitadas pelo presidente. Além da aglomeração, presidente e comitiva raramente foram vistos usando máscaras, sem falar no ostensivo contato físico com outras pessoas, como apertos de mãos e abraços. 

O morticínio atual não é fruto do acaso, mas resultado da estratégia do governo federal

O resultado dessas primeiras ações e omissões do governo federal não poderia ser outro senão o caos nos serviços de saúde. Primeiro a rede pública, depois a rede privada. Faltam leitos de UTI, profissionais para atendimento aos doentes, medicamentos imprescindíveis para as manobras médicas e tratamento da Covid-19. As cenas chocantes vistas em Manaus no início de 2021 repetem-se em outros estados, com escassez de oxigênio suplementar e fármacos para intubação de pacientes, engrossando as estatísticas de óbitos relacionados à pandemia.

Com o caos instalado o governo federal se viu obrigado a tomar novas medidas para o enfrentamento da crise sanitária. Entre elas, a tentativa de maquiar as estatísticas relativas à pandemia, como número de contaminações e óbitos. Frente a essa iniciativa de escamotear os números, veículos de imprensa criaram um consórcio para acompanhamento diário das estatísticas, que acabou resultando no recuo do governo em sua tentativa de falsear os dados.

Talvez o mais grave dos motivos para a CPI seja o descaso com que foi tratada a questão das vacinas. Inicialmente houve uma campanha de descrédito contra os imunizantes, especialmente os fabricados na Chinas. Em seguida, o governo ignorou o oferecimento da Pfizer em dezembro do ano passado para a compra de 70 milhões de doses. Acabou por apostar todas as fichas em uma única solução que hoje representaria menos de 20% das poucas doses aplicadas no país. Isso para não falar da falta dos insumos básicos, como agulhas e seringas em quantidades suficientes para uma ampla campanha de vacinação, além das falhas logísticas na distribuição das vacinas que dificultam a imunização em massa da população brasileira. 

Poderíamos enumerar mais uma série de motivos que justificariam a instalação da CPI da Pandemia. Listamos esses aqui pois demonstram de forma cristalina que o morticínio atual não é fruto do acaso, mas resultado da estratégia do governo federal na gestão da crise sanitária. A CPI irá investigar os fatos que agravaram a crise sanitária no país, não apenas para responsabilizar seus causadores, mas também para explicar às futuras gerações o porquê desta terrível tragédia que vivenciamos.

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