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Opinião

O mais importante neste momento é saber quem mandou matar Marielle

Revelar os mandantes do assassinato da ex-vereadora é fundamental para salvar a democracia brasileira

Marielle Franco, covardemente assassinada (Foto: Wikimedia)
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“Vocês não têm medo de morrer também?” Faz um ano que nós escutamos essa pergunta de eleitores, apoiadores e até amigos. A corrente questão soaria absurda para nós, feministas eleitas democraticamente, se não soubéssemos que está fundamentada no terrível fato de que nossa companheira de partido, Marielle Franco, foi assassinada por motivação política. Na verdade, nós mesmas nos sentimos pessoalmente ameaçadas quando recebemos a notícia naquela noite de 14 de março de 2018.

Na semana em que completou 1 ano da morte da vereadora e de seu motorista, Anderson Gomes, foram presos o policial militar reformado Ronnie Lessa e o ex-policial militar Élcio Vieira de Queiroz. Lessa é o suspeito de ter apertado o gatilho, mas o principal do crime, ou seja, quem são os mandantes, ainda não foi esclarecido. Entretanto, não parece haver dúvidas de que foram milícias, grupos criminosos ultra autoritários que se utilizam da violência física e de articulações no Estado para fazer prevalecer seus interesses políticos e econômicos. Numa articulação entre crime, polícia e política, esses grupos utilizam braços das próprias forças policiais para extorquir comunidades e eleger prefeitos, deputados, senadores, etc. Essa verdadeira máfia tomou conta do estado do Rio de Janeiro e ameaça se espalhar por todo o País, atingindo até mesmo a União.

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Marielle era a antítese desse setor: era mulher, negra, LGBT, defensora dos Direitos Humanos e da democracia. Infelizmente, seu caso não foi isolado. O Brasil é um dos países que mais assassina defensores dos direitos humanos no mundo. Além disso, o assassinato de Marielle realizou o desejo, por vezes explícito, dos grupos políticos de extrema direita, como o partido do próprio presidente da República, que pregam o ódio aos defensores da liberdade. Dessa forma, exigir justiça por Marielle é defender a democracia.

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Nesse sentido, nos preocupa que o presidente Jair Bolsonaro tenha sido o único dentre os então presidenciáveis a não lamentar a morte de Marielle alegando que sua opinião sobre o caso seria “muito polêmica”, ou que tenha defendido a legalização das milícias em 2007. Da mesma forma, que seu filho, Flávio Bolsonaro, tenha prestado homenagens, concedido honrarias e até empregado parentes de milicianos.

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A dimensão desse atentado à democracia é tão grave que o caso ganhou repercussão internacional. Um mês após o ocorrido, milhões de pessoas foram às ruas, inclusive em países estrangeiros como Argentina e Hungria, para exigir justiça por Marielle. Já nos protestos do último 8 de Março, a mesma reivindicação apareceu em vários países do mundo. A Comissão Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos cobrou celeridade nas investigações que inexplicavelmente já se estendem por um ano. Deputados do Parlamento Europeu, partidos políticos, ONGs e associações em defesa dos direitos humanos do mundo todo fizeram parte deste coro em um dos movimentos de solidariedade internacional mais expressivos da história.

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Somente a elucidação completa desse crime político contra a democracia brasileira será capaz de trazer a estabilidade mínima necessária para que parlamentares eleitos e ativistas dos direitos humanos, como nós e tantas outras, tenham segurança para exercer suas atividades. Não adianta nós, individualmente, aumentarmos os cuidados com horários, contratar segurança pessoal ou até deixar de frequentar alguns lugares por medo se as liberdades democráticas estão ameaçadas.

Portanto, o mais importante neste momento é saber: quem mandou matar Marielle?

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