Esther Solano
[email protected]Doutora em Ciências Sociais pela Universidade Complutense de Madri e professora de Relações Internacionais da Unifesp
Um mata e destrói, o outro ressuscita
O Jesus de Bolsonaro mata. O Jesus da Mangueira vive.
O Jesus de Bolsonaro quebrou a placa de Marielle.
O Jesus da Mangueira estava no carro com ela e também morreu baleado.
O Jesus de Bolsonaro lapidaria uma mulher que faz aborto.
O Jesus da Mangueira luta pelo aborto legal no SUS.
O Jesus de Bolsonaro condena ao fogo do inferno o amor LGBT.
A Jesus da Mangueira é uma trans.
O Jesus de Bolsonaro é um homem branco que espanca e ata um menino negro num poste da Zona Sul do Rio de Janeiro.
O Jesus da Mangueira é o menino negro.
O Jesus de Bolsonaro é um homem de bem.
A Jesus da Mangueira é uma mãe negra que enterrou seu filho.
O Jesus de Bolsonaro mora na mansão do Véio da Havan.
O Jesus da Mangueira mora numa favela.
O Jesus de Bolsonaro queima a floresta.
O Jesus de Mangueira é a floresta.
O Jesus de Bolsonaro aplaudiu a morte da menina Ágatha no Complexo do Alemão.
A Jesus da Mangueira é a menina Ágatha.
O Jesus de Bolsonaro recolhe o dízimo em um templo da Igreja Universal.
O Jesus da Mangueira expulsa os vendilhões do Templo.
O Jesus de Bolsonaro irá à manifestação de 15 de março.
A Jesus da Mangueira esteve na manifestação de 8 de março.
O Jesus de Bolsonaro entra no Congresso com a Bíblia na mão.
O Jesus da Mangueira entra com a Constituição.
O Jesus de Bolsonaro condena.
O Jesus da Mangueira salva.
O Jesus de Bolsonaro viaja no carro de Paulo Guedes.
O Jesus da Mangueira na bicicleta do entregador do Ubereats.
O Jesus de Bolsonaro odeia e destrói.
O Jesus da Mangueira ama e luta.
O Jesus de Bolsonaro é um fascista.
O Jesus da Mangueira meteria um bom soco num fascista.
No fundo o Jesus de Bolsonaro é um covarde. Deus me livre dele.
O Jesus de Bolsonaro mata todo dia o Jesus da Mangueira.
Mas o Jesus da Mangueira ressuscita todo dia.
O Jesus de Bolsonaro decidiu matar, mas o Jesus da Mangueira teima em não morrer.
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