Opinião

O agro é tec, o agro é pop, o agro é o rabo entre as pernas

O agronegócio brasileiro se encontra com as maldades do ministro da ‘só economia’ Paulo Guedes

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Assim se pronunciou o ministro da “Só Economia”, Paulo Guedes, sobre as reformas: “Vamos fazer a coisa certa. Adoraria zerar (o déficit). Adoraria vender todas as empresas. Mas não é possível”.

Chegou a pensar que seria? Possível é tomar o chá das cinco, comendo biscuits e muffins, na varanda da casa de Olavo de Carvalho, em Richmond, Virginia, EUA.

Pois então, vá! Sua incompetência e falta de visão social infelicita 99% da população brasileira. Os demais estão salvos e frequentam sua mesa de repasto.

À política econômica, adite-se o pouco preparo do chanceler Ernesto “War” Araújo, as blasfêmias sobre meio ambiente de Ricardo Salles, a deseducação de Weintraub, as alucinações de Damares, e os sacos de bondades e maldades agrárias de Tereza Cristina.

Desde que o Regente Insano Primeiro, Jair Bolsonaro, foi eleito e indicou seus filhos para governarem, dou tratos à bola sobre quais os ministros piores. No parágrafo acima, devo ter esquecido vários deles. O astronauta, por exemplo. Assessorias e gabinetes militares, talvez.

Sabemos que bancada no Congresso, federações, confederações, grandes proprietários de terras, ruralistas, ligados ao agronegócio, apoiaram e votaram, sem qualquer criticismo, mesmo sabendo da inoperância política do capitão.

Acabar com a moratória da soja na Amazônia é de uma estupidez crassa. Governo e Aprosoja Brasil (Associação Brasileira dos Produtores de Soja), argumentando contra o poder das tradings, dão um tiro no pé. Ela funciona e bem, há mais de uma década. É justo o compromisso de não se comprar grãos da oleaginosa de áreas desmatadas do bioma. Irão perder mercados importantes, na medida em que o comércio exterior, cada vez mais, se atém ao fair trade.

O modelo de desenvolvimento de agricultura no Brasil privilegia o agronegócio com largo uso de agrotóxicos e desprestigia a agricultura familiar e a produção de alimentos saudáveis

Como a destruição ou entrega da Amazônia parece prioridade para o governo atual, o zoneamento agroecológico, criado em 2009, fazia o Banco Central limitar os financiamentos para o plantio de cana nos biomas da Amazônia e Pantanal. Decreto de Jair e Tereza, publicado no Diário Oficial, em 6 de novembro, libera geral. E durante tantos anos reclamamos que não tínhamos planejamento agrícola regionalizado.

E enquanto bondades ambientais, sociais e de costumes vão saindo do saco, como o registro recorde de agrotóxicos, a posse de armas com autorização de matar, pois sempre será em legítima defesa, a exploração de minérios em terras indígenas, a emasculação de Incra e Funai, na Esquina do Arrocho, o agronegócio se encontra com as maldades de Paulo Guedes.

A agropecuária de exportação toma uma invertida na diminuição dos subsídios aos juros do crédito rural, com o anunciado fim da Lei Kandir, que vigora desde 1996, e garante isenção de ICMS sobre produtos primários e semielaborados exportados. Isso afetará em bilhões de reais todas as cadeias exportadoras do agronegócio.

Por outro lado, a 4ª Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) entendeu que o produtor rural poderá incluir todas as suas dívidas em caso de recuperação judicial. Quem? Eu, você, agricultores familiares? Saberão caboclos, campesinos, sertanejos, lidar com esse bicho? É uma minoria formada por agricultores constituídos como empresas. Têm cadastro na Junta Comercial? Pois é.

Mas tudo que está ruim pode piorar. Não é assim?

O governo prevê para os fertilizantes, sementes e defensivos, aplicados em taxas crescentes nos plantios brasileiros, até abril de 2020, extinguir o Convênio 100, criado em 1997, que permitiu reduzir a base de cálculo do ICMS nas movimentações interestaduais e, também, autorizar os Estados a criar incentivos (diferimento/isenção) em operações dentro dos próprios Estados.

O objetivo foi o de baratear o custo dos insumos para os agricultores.

Jair Bolsonaro e Paulo Guedes (Foto: Alan Santos/Agência Brasil)

A produção nacional, após as privatizações dos anos 1980/90, tornou-se insuficiente (só as estatais investiam em aumento de capacidade) e concentrada. Hoje em dia, a dependência de importações está entre 75% e 80%, originárias de países, onde também há concentração, muitas vezes à beira de estarem oligopolizados.

Se esses e outros fatores, que o espaço me impede citar, já faziam os insumos agrícolas custarem o “olho da cara” para os agricultores, com o fim do Convênio 100, passarão a custar muito mais, com reflexos, inclusive, nos preços dos alimentos.

Agro é tec, pop, tudo, inclusive rabo entre as pernas.

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