Frente Ampla

Os depoimentos colhidos pela CPI da Covid até agora apontam negligência do governo

A CPI da Pandemia adentra a quarta semana de trabalho e é possível identificar algumas conquistas, escreve Randolfe Rodrigues

O senador Randolfe Rodrigues. Foto: Pedro França/Agência Senado
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A CPI da Pandemia adentra a quarta semana de trabalho e é possível identificar algumas conquistas no enfrentamento ao novo Coronavírus no Brasil. Um desses avanços diz respeito à mudança de postura do governo federal diante do problema. 

Após mais de um ano negando a gravidade da crise sanitária, bastou o início das investigações pelo Senado Federal para que algumas medidas fossem tomadas, como a primeira campanha nacional de conscientização, com o “Zé Gotinha” e toda sua família pedindo à população para usar máscaras e adotar o distanciamento social. Igualmente tardia, também deve ser comemorada a constituição de um comitê científico, finalmente. E, também na esteira das reações à CPI, o governo firmou contrato para a compra de mais 100 milhões de doses de imunizantes com a Pfizer, para serem entregues ainda em 2021.

O Brasil é apontado internacionalmente como um dos países com a pior resposta à pandemia e algumas estatísticas corroboram essa impressão, a começar pelo número de contaminados e de vidas humanas perdidas devido à Covid-19. Até a redação destas linhas, somamos 440 mil óbitos num universo de 15 milhões de brasileiros contaminados.

O objetivo da CPI da Covid é perseguir fatos, não indivíduos

Paralelamente, nossa campanha de imunização contra o novo Coronavírus segue lenta e incerta em razão da escassez de vacinas, além dos insumos básicos necessários para a operacionalização da imunização nacional. Aliados à deficitária infraestrutura hospitalar temos um ambiente perfeito para a propagação sem controle do vírus e o surgimento de novas linhagens, como aquelas ocorridas em Manaus e Rio de Janeiro. 

É neste contexto de total descontrole da crise sanitária que a CPI da Pandemia vem somar nos esforços para a redução dos danos decorrentes do novo Coronavírus. Nosso objetivo é investigar as ações e omissões que proporcionaram a tragédia humanitária que nos assola, perseguindo fatos – não indivíduos – para identificar falhas na gestão do problema e oferecer alternativas para a retomada da normalidade no nosso dia a dia. 

O Instituto DataSenado divulgou neste mês de maio pesquisa realizada em âmbito nacional para avaliar a opinião da população brasileira acerca da CPI da Pandemia. A leitura dos resultados indica caminhos importantes a serem percorridos, notadamente no tocante à vacinação: 79% dos entrevistados apontam lentidão demasiada na imunização, e que 86% deles afirmam que pretendem tomar a vacina. Sobre o tema, 66% também acreditam que a vacinação precisa ser obrigatória. 

A expectativa com a imunização é baixa. Apenas 24% acham que a população brasileira estará vacinada até o fim deste ano, enquanto outros 39% acreditam que isso só acontecerá no fim de 2022. Mas para 29% dos entrevistados a vacinação só estará completa em 2023. Como podemos perceber, os imunizantes ocupam lugar de destaque no imaginário coletivo relacionado à pandemia. Infelizmente, de forma negativa.   

A circulação de fake news relacionadas às vacinas ao longo desta pandemia foi outra questão sondada pelo DataSenado. Os resultados são preocupantes: 58% dos cidadãos entrevistados afirmaram terem se deparado com alguma notícia falsa sobre os imunizantes contra o novo Coronavírus. Os danos causados pelas fake news são muito prejudiciais para 85% dos entrevistados e 92% deles acreditam que a prática deve ser punida. O impacto da pandemia na vida dos brasileiros também foi investigado e as respostas dão a dimensão da tragédia que nos assola: a vida de 62% da população piorou e 35% dos entrevistados acreditam que a crise prosseguirá ao menos até 2023. 

Os resultados da pesquisa indicam que a população brasileira percebe a CPI da Pandemia não como disputa política, mas como esforço do Congresso Nacional para ajudar o Brasil a sair da crise. Sua instalação por si só se constituiu como medida sanitária de combate à Covid-19 e, passadas quatro semanas do início dos trabalhos, alguns pontos estão bastante claros. 

 

Os depoimentos colhidos até agora apontam negligência do governo federal em questões importantes, em especial na conscientização da população acerca da gravidade do novo Coronavírus e nos esforços para a aquisição de vacinas necessárias à implementação do Plano Nacional de Imunização. Quantas vidas poderiam ter sido poupadas se o uso de máscara e o isolamento social tivessem sido encorajados desde o início da crise sanitária? Qual a quantidade de doses de vacinas que teria sido aplicada, caso não fossem ignoradas as dezenas de ofertas feitas ao governo brasileiro por diferentes laboratórios?

Também fica cada vez mais nítida a negligência na atuação diante do colapso de oxigênio no Amazonas, ocorrido no início do ano, bem como a estratégia hedionda de apostar na “imunidade de rebanho”, dirigindo energia e recursos para um kit de tratamento precoce reconhecidamente ineficaz. A CPI da Pandemia pretende responder a estas e outras perguntas, elucidando a cadeia de eventos que colocaram o Brasil como epicentro mundial da crise sanitária. 

Publicado na edição nº 1158 de CartaCapital, em 20 de maio de 2021.

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