Frente Ampla

Por que o PSOL não se uniu ao PT em Minas?

O partido discorda da estratégia adotada pelos petistas em Minas Gerais e propõe uma alternativa

O pré-candidato a governador de Minas Gerais pelo PSD, Alexandre Kalil, e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Fotos: Divulgação e Ricardo Stuckert
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Uma pergunta que tem sido recorrente é “por que o PSOL não está unido com o PT em Minas?”. Há alguma dificuldade em compreender a estratégia do partido, que decidiu apoiar a candidatura de Lula à Presidência na esfera nacional, mas não o fez na disputa mineira ao governo do Estado e ao Senado — em que os petistas apoiam Alexandre Kalil (PSD), pré-candidato a governador, e Alexandre Silveira (PSD), pré-candidato a senador.

Por que o PSOL apoia Lula?

Para começar, deve ser destacado que o PSOL não compõe a federação formada por PT, PC do B e PV. O partido apenas apoia o PT na corrida presidencial. Isso se dá porque a nossa prioridade é derrotar Bolsonaro e o bolsonarismo nas urnas e nas ruas. Mas entendemos que só eleger Lula não é o suficiente para garantirmos a retomada dos caminhos da justiça social e do crescimento.

Lula, sozinho, não vai conseguir “colocar o povo no Orçamento”. É preciso apoio sólido no Congresso, o que não é possível com alianças circunstanciais — como a firmada entre PT e PSD em Minas. O PT repete uma estratégia que foi parcialmente bem sucedida em 2002, mas que levou ao sufocamento do partido em 2016.

Prova disso é a redução da bancada petista na Câmara de 2003 para cá. Quando Lula assumiu o seu primeiro mandato, eram 90 deputadas petistas. Em 2015, o partido tinha 69 assentos. Ainda era a maior bancada da Casa, mas legendas como MDB, PSDB, PP e PSD ganharam espaço. Com a eleição de Bolsonaro, a perda foi ainda maior: o PT elegeu 54 pessoas — o menor quórum desde 1999.

O tamanho das bancadas não é mero detalhe. É preciso ter uma maioria de esquerda, para garantir que Lula tenha espaço para articulação e que o tensionamento seja a favor das demandas da população e não daqueles que representam interesses financeiros ou politiqueiros.

Kalil e Silveira são de esquerda?

Em maio o DataFolha constatou que 49% das pessoas se autodeclaram de “esquerda” ou de “centro-esquerda”. Os dados mostram que a identificação com o campo progressista se dá, principalmente, em questões relacionadas aos valores (como respeito aos grupos minorizados ou fortalecimento de sindicatos). A economia também influenciou: mais pessoas se disseram favoráveis à intervenção do Estado para regular empresas ou ao aumento dos impostos para garantir o acesso gratuito à saúde e à educação.

O PSOL compartilha dessas ideias. Kalil (PSD) e Silveira (PSD), não. Em entrevista à Andréia Sadi em 2020, Kalil defendeu o estado mínimo. O ex-prefeito disse: “o próximo governador de Minas deve sentar para ficar um mandato, porque quando ele sair não vai ser eleito nem síndico de prédio de tanta coisa que vai fazer para tentar enxugar a máquina”.

Silveira é suplente de Antônio Anastasia (PSD) — ex-governador de Minas que seguiu com o choque de gestão de Aécio Neves (PSDB) e que, quando senador, apoiou pautas como as reformas da previdência e trabalhista. Ele foi secretário de Estado de Gestão Metropolitana de Aécio Neves (2011-2013) e assumiu a pasta da Saúde (2014) sob o comando de Anastasia.

Quem ganha em Minas, ganha no Brasil

O PSOL tem compromisso com a população. Defendemos a aproximação das esquerdas, mas não as cessões à direita. Apoiar Kalil e Silveira significa esvaziar o campo progressista no Estado — o segundo maior eleitorado do país. Minas é valiosa para a política nacional, porque reúne 52 cadeiras na Câmara (10% do total) e a população não segue uma predominância partidária. Não podemos usá-la como moeda de troca.

Por esses e tantos outros motivos, o PSOL compôs uma federação com a Rede. O PSOL optou por construir aliança com quem está ao lado da população, assim como nós. Escolhemos articular com quem vai, de fato, ajudar a colocar “o povo no Orçamento”. Entendemos que fortalecer a esquerda em Minas é fortalecer o Brasil.

Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.

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