Frente Ampla

É preciso agir para a Cultura não morrer asfixiada pela falta de apoio

Shows, apresentações teatrais, salas de cinema, festas populares, a maior parte dessas atividades está suspensa

Governador do Maranhão, Flávio Dino. Foto: Gilson Teixeira/GMA
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Todos tivemos nossas vidas transformadas pela pandemia. Crianças, idosos, jovens. Até quem incrivelmente ainda hoje duvida da gravidade da doença sofreu seus efeitos indiretos. É difícil aferir quem teve sua vida mais afetada. Mas, certamente, como segmento social e econômico, um dos mais impactados é a Cultura.

Isso porque as necessárias medidas preventivas para resguardar a saúde reduzem as possibilidades até então mais comuns de fruição cultural. Shows, apresentações teatrais, salas de cinema, festas populares, a maior parte dessas atividades está suspensa para evitar aglomerações e a propagação do vírus.

Infelizmente, a pandemia está asfixiando o setor. E cabe ao Estado agir em nome da sociedade pela preservação desse segmento, que é um patrimônio do País.

A cultura é essencial para nossa definição como seres humanos e para nossa formação como nação. É o que nos faz brasileiros diante do mundo. A originalidade com que olhamos para a vida é admirada internacionalmente há mais de um século. Do meu conterrâneo Gonçalves Dias ao contemporâneo Bacurau (Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles), iluminamos o mundo com Chico Buarque, Paulo Coelho, Oscar Niemeyer e Fernanda Montenegro.
Além de patrimônio imaterial, a Cultura tem para o País um valor tangível que pode ser medido pelo volume de recursos que movimenta e de empregos que gera. Estudo da Universidade Federal do Rio Grande do Sul estimou que o setor foi responsável por perto de 4% do PIB em 2010. A Pnad de 2018 registrou 5 milhões de brasileiros vivendo de atividades vinculadas ao meio cultural, o que correspondia a mais de 5% de todos os trabalhadores ocupados naquele ano no País.

Além disso, a Cultura é um importante motor para o turismo. Quando estive à frente da Embratur, no governo Dilma Rousseff, pude observar isso de perto. A diversidade cultural brasileira é um forte atrativo turístico que diferencia o nosso país de outros destinos de sol e praias no mundo. No governo do Maranhão, temos trabalhado a promoção do São João como um grande mote que tem atraído turistas do Brasil inteiro.

Agora em junho seriam os festejos. Quem é do Nordeste, à medida que maio vai terminando, começa a sentir os cheiros dos arraiais e ouvir os seus sons tão peculiares. É colossal a perda para toda a economia nordestina com o necessário cancelamento do São João. O mesmo ocorreu em todo o País com a suspensão do Carnaval de 2021. Só o Rio de Janeiro deixou de gerar 5,5 bilhões de reais com o cancelamento das festas carnavalescas neste ano, segundo estimativa da FGV.

É preciso agir ainda mais para que a cultura não morra asfixiada pela falta de apoio governamental. O Congresso aprovou a Lei Aldir Blanc, em homenagem ao genial artista vítima da Covid-19, destinando recursos para criar auxílios–emergenciais para a Cultura. Foi uma medida importante, que quebrou a inação e o descaso do governo federal em relação ao setor, inclusive com a absurda extinção do Ministério da Cultura.

No Maranhão, o nosso governo aproveitou o marco legal criado pelo Congresso para apoiar artistas e produtores. Fizemos editais para trabalhadores da Cultura, incluindo todos os segmentos artísticos, artesãos, escritores e produtores culturais. A nossa Secretaria de Estado da Cultura repassou 34 milhões de reais por meio dos editais da Lei Aldir Blanc.

Com recursos exclusivamente estaduais, além do auxílio emergencial para a classe artística que concedemos neste ano, criamos desde 2020 o programa Conexão Cultural, que está em sua quarta edição. Por edital, o Conexão seleciona produções artísticas inéditas, disponibilizadas em plataformas digitais. É uma forma de apoiar o segmento, ao mesmo tempo que estimulamos novas formas de fruição cultural. O valor estadual investido, nos quatro editais e nos auxílios emergenciais, chegou a 5,3 milhões de reais.

Esses valores têm efeitos multiplicadores, pois, evidentemente, os profissionais da Cultura, com seus gastos pessoais, impulsionam uma vasta rede de comércio e serviços. Essa compreensão é muito importante, inclusive à vista dos vulgares ataques às políticas culturais, como se fossem desperdícios.

A pandemia nos tem feito buscar outras formas de viver. São novas maneiras de manter vínculos afetivos e continuar trabalhando, estudando. Também a cultura vai seguir encontrando novas formas de ser difundida enquanto perdurar a pandemia.

Neste ano, infelizmente, não temos como realizar grandes eventos juninos. Novamente, vamos celebrar em casa as festas de Santo Antônio, São João, São Pedro e São Marçal. Mas, quando tivermos vacina para todos, vencendo o abjeto negacionismo político e a pandemia, espero vocês aqui, no Maranhão, para celebrarmos, com músicas e danças, a nossa cultura. A nossa cultura sempre viva.

PUBLICADO NA EDIÇÃO Nº 1159 DE CARTACAPITAL, EM 27 DE MAIO DE 2021.

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