Frente Ampla

A crueldade da volta da inflação

O descontrole da inflação é resultado direto da política econômica equivocada implementada pelo governo Bolsonaro

O senador Randolfe Rodrigues (Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado)
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A inflação acumulada no Brasil nos últimos 12 meses chegou aos 8,99% (até julho) e projeta 9,30% com a divulgação do IPCA-15 de agosto.  O flagelo da carestia dificulta ainda mais a sobrevivência da população brasileira, já submetida ao desemprego estrutural, estagnação salarial e imersa na crise sanitária causada pelo novo coronavírus. Enquanto outros países experimentam a retomada gradual e contínua da atividade econômica, aqui vivenciamos a disparada dos preços de produtos básicos, sem nenhuma perspectiva de melhora no curto prazo.

O descontrole da inflação é resultado direto da política econômica equivocada implementada pelo governo Bolsonaro, por não compreender a tempo os sinais de pressão nos preços dos gêneros de primeira necessidade, pela impotência diante da desvalorização do Real e pela pusilanimidade em enfrentar gargalos estruturais do país, como a crise hídrica.  

Os preços dos alimentos ilustram bem os males da inflação no dia-a-dia das famílias brasileiras. O aumento da procura no mercado internacional por alguns gêneros alimentícios aqueceu o setor exportador, atraindo boa parte da produção nacional. O resultado direto foi a redução da oferta e encarecimento de produtos no mercado interno. 

Quem vai ao supermercado vê a disparada nos preços do arroz, feijão, óleo de soja, café, carne bovina (com queda histórica no consumo) e outros alimentos comuns na dieta da população brasileira, exigindo criatividade para a manutenção de um padrão minimamente digno de vida. 

Os remédios tradicionais adotados pelo governo – alta de juros e tentativa de redução do gasto público – são ineficazes contra a inflação e agravam outras mazelas sociais

O aumento dos combustíveis e demais derivados de petróleo são outro drama vivido pela população brasileira. Está cada vez mais evidente que a política de preços da Petrobras, baseada na cotação internacional do barril de petróleo e vulnerabilidade às oscilações cambiais, se mostrou desastrosa e deve ser imediatamente corrigida.  Com renda em declínio ou congelada, essa alta tem ocasionado uma mudança de hábitos de milhões de pessoas, que passaram a cozinhar usando lenha, ou até inviabilizando a já difícil sobrevivência dos motoristas de aplicativos e caminhoneiros do país. Isso para não falar no impacto em todos os preços, já que o transporte dos produtos no Brasil é feito majoritariamente às custas do óleo diesel.

A brutal desvalorização do Real completa a incapacidade do governo Bolsonaro em gerir a economia. O Brasil segue sendo um grande exportador de gêneros agrícolas e produtos com baixo valor agregado ao mesmo tempo em que é dependente de importações para suprir o mercado interno. O descompasso entre Real e Dólar encarece diversas cadeias produtivas e corrói o poder aquisitivo das pessoas.

Mas, a face mais cruel da inflação é o fato de que ela é muito mais sentida pela população de mais pobre. Segundo o IPEA, as faixas de renda baixa sentem uma inflação 30% maior do que os segmentos mais abastados. Isso porque os itens com maior alta são justamente os que pesam mais nos orçamentos dos mais carentes. Além disso, com todo a renda sendo destinada ao consumo, as classes C, D e E não têm como protegerem-se da alta de preços, enquanto os “de cima” ainda conseguem aplicar parte de sua remuneração em ativos corrigidos, minorando suas perdas. Nunca é demais lembrar que a inflação é uma espécie de tributos do tipo “Robin Hood às avessas”, pois tira dos pobres para dar aos ricos.

O cenário é desolador por não vislumbrarmos perspectivas de superá-lo no curto prazo, até porque os remédios tradicionais adotados pelo governo – alta de juros e tentativa de redução do gasto público – são ineficazes contra a inflação e agravam outras mazelas sociais, como a capacidade de retomada da atividade econômica e a persistência de altíssimo desemprego, na casa dos 15 milhões de brasileiros. 

Tanto é verdade que já está anunciado um aumento de 50% na bandeira vermelha da tarifa de energia elétrica para os próximos dias e não há nenhuma perspectiva de redução na pressão de alta nos combustíveis e nos gêneros alimentícios.

Como se vê, não bastassem os crimes cometidos contra a saúde pública na pandemia do coronavírus e as ameaças contra o Estado Democrático de Direito, o rol de atrocidades do governo Bolsonaro alcança de maneira profunda a economia e a sobrevivência do povo brasileiro. 

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