Henry Bugalho

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Henry Bugalho é curitibano, formado em Filosofia pela UFPR e especialista em Literatura e História. Com um estilo de vida nômade, já morou em Nova York, Buenos Aires, Perúgia, Madri, Lisboa, Manchester e Alicante. Por dois anos, viajou com sua família e cachorrinha pela Europa, morando cada mês numa cidade diferente. Autor de romances, contos, novelas, guias de viagem e um livro de fotografia. Foi editor da Revista SAMIZDAT, que, ao longo de seus 10 anos, revelou grandes talentos literários brasileiros. Desde 2015 apresenta um canal no Youtube, no qual fala de Filosofia, Literatura, Política e assuntos contemporâneos.

Opinião

Filosofia, a inimiga pública número 1 do ‘novo’ Brasil

Para toda pergunta complexa há realmente uma resposta simples, e errada

Foto: Sergio Lima/AFP
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Deveria ser impossível, mas é fácil na verdade entender o desprezo que o governo Bolsonaro nutre pela Filosofia.

Temos um presidente que devolve respostas simples para os mais complexos problemas do Brasil e do mundo, respostas que satisfazem as inquietações de seus eleitores, hoje educados por meio de fake news no Whatsapp, sectários youtubers e pela tal “mídia alternativa”, um eufemismo para um jornalismo tosco que prescinde de um dos princípios mais elementares da ética jornalística: fundamentar-se no que seja factual, ou seja, restringir-se aos fatos.

Neste universo de linguagem simplificada e rasa, qualquer resposta sofisticada e problematizadora é descartada como uma excentricidade de acadêmicos ideologicamente enviesados.

Um presidente eleito sustentando a retórica de que “governaria sem viés ideológico” dota agora todos os seus atos e falas com uma esmagadora e constrangedora carga ideológica. Bolsonaro adora repetir a conveniente citação bíblica “Conheça a verdade e a verdade vos libertará”, como se ele detivesse e defendesse esta verdade libertadora, mas esquece-se de um versículo bem mais apropriado a seu caso: “por que vês o cisco no olho de teu irmão, mas não reparas na trave no teu olho?”

Ideologia é assim, só a vemos turvando o olho do outro.

Esta política de apontar os erros e falhas de seus inimigos o conduziu ao poder, e é esta atitude que mantém a sua base mobilizada e inflamada. “Os inimigos estão por todos os lados e nós, que conhecemos a verdade e somos livres, vamos destruí-los de uma vez por todas para que o Brasil não sucumba diante da ameaça vermelha.” Bem-vindos de volta à Guerra Fria!

Esta polarização político-ideológica, tão característica do mundo pré-Queda do Muro de Berlim, caiu como uma luva para este discurso simplificador do Bolsonaro: de um lado estão os justos – cristãos conservadores armamentistas não necessariamente muito democráticos – e do outro, os maus – comunistas comedores de criancinhas que trabalham dia e noite para a destruição da civilização ocidental, e aqui você reúne o PT, o PSOL, o MST, George Soros e até Barack Obama.

Os professores de Filosofia certamente engrossam as fileiras inimigas destes anacrônicos comunistas, ousando ensinar Marx, Gramsci e filósofos da Escola de Frankfurt a seus incautos alunos, doutrinando-os para se tornarem militantes nesta guerra cultural. Pois, para Bolsonaro e seu novo ministro da Educação, é exatamente para isto que servem os cursos de Filosofia, para formar comunistas malévolos.

Não surpreende que o guru ideológico deste governo seja o mais anti-intelectual dos pensadores, o Rasputin da Virgínia, o autoproclamado filósofo que nutre um desprezo absurdo pela quase totalidade dos filósofos que se imortalizaram nesta Terra. Em suas “aulas”, que no fundo nada mais são que sessões ególatras e ataques virulentos contra seus desafetos, não poupa insultos a Foucault, Nietzsche, Marx (principalmente a Marx), nem Popper se salva, a quem o guru chama de “cretino”. Para ele, o Iluminismo foi um tremendo equívoco, o bom mesmo era a Idade Média, para onde retornaremos se não encontrarmos meios para deter esta onda obscurantista e fundamentalista.

A Filosofia se tornou a inimiga número um.

Por quê?

Porque esta sim é libertadora, porque empreende a busca infatigável pela verdade, cônscia de que a verdade é sempre ou provisória ou inalcançável mesmo. Jamais a verdade poderia ser revelada, já que ninguém a detém. Na Filosofia, não há respostas prontas, nem simplórias. Ela propõe a dúvida e reitera a permanente reflexão. E disto eles realmente têm medo.

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