Opinião

Festa nordestina: um olhar sobre o crescimento de Petrolina

Uma lição que serve aos rentistas da Avenida Paulista e arredores amadores e pretensiosos, arremedos dos ‘rapazes do mercado’

Foto: Embratur/Divulgação
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Há perto de uma década, por trabalho e prazer, visito o Vale do São Francisco e cercanias. Faço isso, em média, três vezes ao ano, o que é nada comparado à admiração longeva que tenho pelas formas nordestinas de expressão cultural. Na semana passada, estive lá para trabalhar, mas também para festar, cantar e xaxar, como quer Luiz Gonzaga, Lua, O Rei do Baião, seja do lado em que eu estiver do rio.

Em Petrolina, tudo o que se pensar do bom, do melhor e do pior, em passado, presente e provável futuro, terá a ver com a família Coelho, a partir do industrial, médico e político Nilo de Souza Coelho (1920-1983).

O prefeito atual de Petrolina é o jovem Miguel de Souza Leão Coelho, filho do senador Fernando Bezerra Coelho. Ele venceu pelo Partido Socialista Brasileiro, mas acaba de anunciar sua saída do PSB. No momento, está sem partido, mas tendo recebido a visita de Jair Bolsonaro, e conhecendo-se a árvore genealógica da família, pode-se imaginar o que virá.

Há, no entanto, que referenciar notória a expansão e as melhorias que sua gestão (de 2016) trouxe para a cidade.

Claro que, comum em gestões municipais, dedicou a maior parte de suas obras às zonas urbanas, daí ser adorado pelas elites petrolinenses. Alargamento de vias, asfaltamento, arborização, limpeza de matos ao longo da orla, o que faz possível ver a beleza do Velho Chico, iluminação moderna, substituição de semáforos por rotatórias que melhoraram o trânsito. Assim, animou o comércio local que investiu no sentido da modernização.

Parece que foi bem o Miguelzinho. Mas até que página?

Petrolina conta hoje 350 mil habitantes. Em 2000, 40% da população tinha renda domiciliar per capita abaixo de 140 reais. Até 2010, ela caiu para a metade (20%). É certo que, então, tínhamos políticas de inserção social, e 80% passaram a viver acima da linha de pobreza. A desigualdade, no entanto, se mantém grande e, nos últimos 4 anos, dilatada pela crise em todo o país.
Enquanto nas áreas urbanas os condomínios de luxo aumentam em progressão geométrica, nas zonas rurais é explícito o drama da pobreza.

Casebres, degradação ambiental, lixo não coletado, falta de acesso a serviços básicos, como abastecimento de água potável, calçamento, rede de esgotos.

Justamente aqui entra o foco deste artigo.

Sendo esse o quadro geral de desenvolvimento com desigualdade no país, é fundamental analisar o porquê dos avanços de Petrolina, mesmo em relação à irmã baiana Juazeiro e a outros municípios do semiárido.

Como ensina a professora ítalo-americana Mariana Mazzucato, de Ciência e Tecnologia (seria ela astronauta? Não resisti à galhofa) da Universidade de Sussex (UK), em seu livro O Estado Empreendedor (2011), são raros empreendimentos privados que, na origem, não tivessem contado com a ação do Estado. Aquele, hoje em dia, no Brasil de Paulo Guedes, em processo de erosão.

A professora ítalo-americana Mariana MazzucatoFoto: Reprodução/Twitter

Não há dúvida de que ações de ingerência dos clãs políticos junto aos três Poderes da República renderam maiores frutos à cidade, mesmo que cedendo franjas às demais áreas que constituem o Vale do São Francisco, nos estados de Pernambuco e Bahia, isto, como essência do Acordo Secular de Elites, que domina a política e a economia brasileira.

Nada demais. Acontece em todo o planeta.

Mas, fator essencial, é que Petrolina se desenvolveu como era correto em qualquer nação: de olho na produção, no comércio e nos serviços. O Brasil já foi assim, inclusive nos governos militares. Mais ainda, com o intenso programa de inserção social dos governos Lula e Dilma. Com as inovações tecnológicas da agricultura. Enfim, suas conquistas em “trabalho, renda e pão” deveram-se às atividades produtivas e isso não tem volta.

Uma lição que serve aos rentistas da Avenida Paulista e arredores amadores e pretensiosos, arremedos dos “rapazes do mercado”.

Inté.

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