Luiz Gonzaga Belluzzo

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Economista e professor, consultor editorial de CartaCapital.

Opinião

Esse é o meu Palmeiras

O time foi exemplar no modo em que conduziu as medidas de enfrentamento das enormes dificuldades da pandemia

Palmeiras. Foto: reprodução.
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Os torcedores do Jogo Bonito padecem as penas da ausência prolongada da bola correndo, dos talentos em movimento, das redes balançando. Não só os sábados e domingos, mas as noites das quartas e quintas deixam um vazio na alma. Ganhar e perder é do jogo, repetem os aficionados, até mesmo os fanáticos. Meses sem jogos são mais dolorosos que as mais terríveis derrotas.

No entanto, mesmo nas turbulências e sofrimentos da pandemia, o futebol pode oferecer um refúgio aos espíritos angustiados e apaixonados. Uma esperança verde cintilou no horizonte da generosidade humana. Uma esperança verde que veste seus atletas com o verde da esperança. O Palmeiras foi exemplar no modo em que conduziu as medidas de enfrentamento das enormes dificuldades da pandemia.

Tratou seus jogadores profissionais e demais integrantes da comissão técnica com dignidade ao promover um diálogo sugerindo uma redução de 25% dos salários. Ao mesmo tempo cuidou de preservar o quadro de funcionários e seus rendimentos líquidos.

Todos os 30 atletas do elenco, além do treinador Vanderlei Luxemburgo e dos diretores Cícero Souza e Anderson Barros, assinaram o acordo por unanimidade. Além disso, direitos de imagem foram adiados para serem pagos em duas parcelas: uma no 2º semestre deste ano e outra no 1º semestre de 2021.

Ainda mais comovente foi a decisão de não reduzir os salários das atletas do futebol feminino, bem como o desejo de proteger os atletas da base, sobretudo os que são arrimos de família, agraciados com uma transferência adicional de recursos.

“Esse é o meu Palmeiras”, exclamam os torcedores espremidos nas arquibancadas quando a bola corre, tocada pelas camisas verdes. Esse é o meu Palmeiras, o Palestra dos descendentes de Dante, Leopardi e Lampedusa, para não falar de Visconti e Fellini. Esses palmeirenses verdadeiros são mestres da crítica e da irreverência com o próprio time, mas também entusiastas da dignidade humana.

A primeira regra, a da irreverência, é não consagrar qualquer um, provisoriamente vestindo a gloriosa camisa alvi-verde. Prestem atenção nos nomes que vêm a seguir: Romeu, Imparato, Villadonica, Jair da Rosa Pinto, Chinesinho, Ademir da Guia, Mazinho, Edmundo, Evair Rivaldo, Djalminha, Alex. Várias gerações de craques refinados, artistas da bola, comparáveis na arte de criar aos incomparáveis Leonardo da Vinci e Michellangelo.

O segundo ensinamento que todo o palmeirense autêntico deve seguir é o que nos distingue dos comuns: tratar a os ídolos do passado com a saudade e a reverência que merecem, atitude própria dos que conhecem as limitações e grandezas da condição humana.  É exatamente isso que define nossa natureza profunda, acima de qualquer resultado contingente.

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