Opinião

O drible de Doria, fiador e beneficiário do atual estado das coisas no Brasil

Ao patrocinar a primeira vacinação contra a Covid-19 em solo brasileiro, o tucano passa a limpo o revés em relação à eficácia da Coronavac

Governador João Doria segura frasco da Coronavac em Brasília (Foto: Governo de São Paulo) Governador João Doria segura frasco da Coronavac em Brasília (Foto: Governo de São Paulo)
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Pouco menos de 40 minutos depois da aprovação do uso emergencial da Coronavac pela Anvisa, a primeira pessoa a receber uma dose do imunizante em solo brasileira já estava vacinada.

Monica Calazans, enfermeira do Hospital Emílio Ribas e voluntária nos testes brasileiros da vacina, foi escolhida para marcar o início da vacinação no País. O governador João Doria acompanhou in loco. Ao fazê-lo, se antecipou ao ministro da Saúde, o general Eduardo Pazuello, e aos demais governadores, que começam nesta segunda-feira 18 suas campanhas de imunização.

 

Mais de cem pessoas, segundo o governo paulista, foram vacinas entre o domingo e a manhã desta segunda. Com a manobra, o tucano passa a limpo o revés em relação à eficácia de 50,4% da vacina, apenas alguns décimos superior ao mínimo recomendado pela OMS.

Também sai bem na foto a Anvisa, que reafirmou sua seriedade e boa reputação. Um órgão de Estado, e não de governo.

A autorização emergencial da agência garante 8 milhões de doses -– 6 milhões da Coronavac e a 2 milhões da Covishield, a vacina Oxford/Astrazeneca. Apenas o imunizante chinês, contudo, possui estoque no Brasil.

O Butantan já tem 4 milhões de doses envasadas. E aguarda autorização do governo chinês para importar insumos e produzir nas próximas semanas mais de 11 milhões de doses.

O drible de Doria pavimenta seu caminho para 2022. Mas será o suficiente para tirá-lo da lista dos grandes fiadores e beneficiários do atual estado das coisas no Brasil?

Estranho no ninho tucano, Doria se elegeu prefeito à contragosto da velha guarda do PSDB. Em poucos anos tomou o controle do partido.

Elegeu-se governador sob o slogan Bolsodoria e, eleito, prometeu que a polícia paulista atiraria para matar. Sob seu governo, a Fapesp foi ameaçada de perder 1/3 do orçamento do orçamento e o Butantan, há poucos anos, ensaiava se afastar do compromisso com a saúde pública.

Na tentativa de assumir o papel de articulador que caberia ao Ministério da Saúde, o governo paulista tem vantagens enormes sobre as demais unidades federativas: é rico; atrai para suas secretarias quadros da burocracia federal; mantém boas e antigas relações com a grande imprensa. Nada disso ameniza os fatos: é Doria, e não uma figura de esquerda, que melhor se firma como nêmesis de Bolsonaro frente à pandemia.

O presidente ataca a vacina chinesa desde junho, quando foi anunciada a parceria entre a Sinovac e o Butantan. O tom da ofensiva subiu conforme a ideia saía do papel. Em novembro, Bolsonaro chegou a comemorar quando os testes da Coronavac no Brasil foram suspensos após a morte de um voluntário – sem relação com os testes. “Mais uma que Jair Bolsonaro ganha”, escreveu.

Agora, com a ‘vacina chinesa de Doria’ como única opção na mesa, o capitão contemporiza. Diz que o imunizante é do Brasil, e não de um governador. E que, diante da aprovação da Anvisa, não há o que discutir. A conferir.

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