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Ucrânia rejeita abertura de corredores humanitários propostos pela Rússia

Medida tinha como objetivo a retirada de civis do país em direção a Belarus e à própria Rússia

Foto: Angelos Tzortzinis / AFP
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Moscou anunciou nesta segunda-feira 7 o estabelecimento de cessar-fogo local e a abertura de corredores humanitários para permitir a retirada de civis de várias cidades da Ucrânia, no décimo segundo dia da invasão russa. O Ministério da Defesa russo especifica, por outro lado, que os civis que usarão os corredores serão redirecionados em sua maior parte para a Rússia, para Belarus ou para a cidade ucraniana de Zaporije, controlada pelos russos. A Ucrânia rejeitou estes corredores.

O anúncio de Moscou veio após uma noite de bombardeios pesados ​​por terra, mar e ar em cidades da Ucrânia, e quando a guerra já levou mais de 1,5 milhão de pessoas a fugir para se refugiar em países vizinhos, segundo a ONU.

A União Europeia (UE) deve esperar e se preparar para receber 5 milhões de refugiados ucranianos que buscam fugir da guerra, alertou Josep Borrell, alto representante da União Europeia para Relações Exteriores, nesta segunda-feira.

De acordo com o exército russo, a decisão de abrir corredores humanitários foi tomada após um “pedido pessoal” do presidente francês Emmanuel Macron ao seu homólogo russo Vladimir Putin. Os dois líderes conversaram por quase duas horas no domingo 6 por telefone.

Esta decisão de Moscou, rejeitada pelo governo ucraniano, diz respeito a Kiev, que as forças russas estão tentando cercar, mas também a Kharkiv (nordeste), a segunda cidade do país. Kharkiv foi alvo de bombardeamentos durante a noite de domingo para segunda-feira, que visaram principalmente o complexo desportivo de uma universidade e edifícios residenciais.

“O inimigo continua a operação ofensiva contra a Ucrânia, concentrando-se no cerco de Kiev, Kharkiv, Cherniguiv (norte), Sumy (nordeste) e Mykolayev (sul)”, disse o Estado-Maior das Forças Armadas ucranianas em um comunicado. As forças russas estão “reunindo suas forças para lançar um ataque a Kiev”, acrescentou.

Na capital, o exército ucraniano estava pronto para destruir a última ponte que ligava a cidade ao interior, em direção ao oeste, para deter o avanço dos tanques russos. “Se recebermos a ordem de cima, ou se virmos os russos avançando, vamos explodi-la com o maior número possível de tanques inimigos”, disse o sargento “Casper”, de uma unidade de voluntários ucranianos.

Na periferia oeste de Kiev, em Irpin, “de manhã à noite, todos os prédios vizinhos foram atingidos, um tanque entrou. Foi assustador, estávamos com medo”, testemunhou Tetiana Vozniuchenko, 52 anos.

 

Portos de Mariupol e Odessa

A decisão de estabelecer corredores humanitários também diz respeito ao porto estratégico de Mariupol, no Mar de Azov, no sudeste do país, sitiado pelo exército russo e onde falhou uma segunda tentativa de evacuação humanitária no domingo. Russos e ucranianos acusaram-se mutuamente de terem violado o cessar-fogo concedido para permitir esta operação.

Mísseis russos disparados do mar caíram na vila de Tuzly, na região de Odessa, na segunda-feira, disse o porta-voz militar regional Sergey Bratchouk. Segundo ele, os disparos atingiram “locais de infraestrutura crítica”, mas não causaram nenhum ferimento.

Anteriormente, o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky havia alertado que a Rússia estava se preparando para bombardear Odessa, um porto estratégico no Mar Negro.

Além disso, em Lugansk, controlada por separatistas russos no leste da Ucrânia, uma forte explosão causou um incêndio na segunda-feira em um depósito de petróleo, segundo a agência de notícias russa Interfax.

Terceira rodada de negociações

Uma terceira rodada de negociações entre russos e ucranianos está marcada para esta segunda-feira. Mas as esperanças de sucesso são escassas, pois o presidente russo, Vladimir Putin, estabeleceu como pré-condição para qualquer diálogo a aceitação por Kiev de todas as demandas de Moscou, em particular a desmilitarização da Ucrânia e um status neutro para o país.

Duas sessões anteriores de conversações foram realizadas na fronteira ucraniana-bielorrussa e depois na fronteira entre Polônia e Belarus.

Centrais nucleares

No domingo 6 à noite, durante sua conversa com Emmanuel Macron, Putin afirmou que quer “atingir seus objetivos” na Ucrânia seja “pela negociação ou pela guerra”, segundo o Palácio do Eliseu.

No entanto, o líder russo teria assegurado que não tem intenção realizar ataques a centrais nucleares e disse estar “pronto para respeitar as normas da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) para a proteção das centrais”, declarou a presidência francesa à imprensa.

Após o bombardeio de 4 de março da usina nuclear de Zaporozhzhye (sul), a maior da Ucrânia e da Europa, a AIEA foi informada por Kiev de que a administração da usina estava agora sob as ordens das forças russas.

De acordo com as autoridades ucranianas, apenas as comunicações por celulares ainda são possíveis, mas de má qualidade, e o chefe da AIEA, Rafael Grossi, disse estar “profundamente preocupado” com “a deterioração da situação das comunicações entre a autoridade reguladora e a usina”.

Durante sua conversa com Emmanuel Macron, Vladimir Putin também voltou a “negar que seu exército esteja mirando civis” e reafirmou que “a responsabilidade é dos ucranianos de deixar sair a população das cidades cercadas”.

Tribunal Penal Internacional

O Tribunal Penal Internacional abriu uma investigação sobre a situação na Ucrânia, a Organização Mundial da Saúde relatou ataques a instalações sanitárias e Washington relatou relatos “muito críveis” de que a Rússia cometeu crimes de guerra desde o início da invasão, em 24 de fevereiro.

Em uma mensagem de vídeo divulgada na noite de domingo, Zelensky acusou as tropas russas de “assassinatos deliberados”. “Não perdoaremos, não esqueceremos, puniremos qualquer um que tenha cometido atrocidades durante esta guerra em nossa terra”, prometeu.

Os Estados Unidos, Reino Unido, Canadá, Austrália e Nova Zelândia pediram à Interpol para suspender a Rússia. Por meio de um tuíte a secretária do Interior do Reino Unido, Priti Patel, justificou: “as ações da Rússia representam uma ameaça direta à segurança dos indivíduos e à cooperação internacional de aplicação da lei”.

Petróleo em alta, ações em queda

O agravamento do conflito e a possibilidade de um embargo ao petróleo russo provocaram nesta segunda-feira de manhã uma agitação nos mercados internacionais, com fortes subidas do petróleo e do ouro, e uma forte queda nas bolsas da Ásia.

O barril de Brent do Mar do Norte chegou perto de US$ 140 na manhã desta segunda-feira.

Os mercados de ações de Tóquio e Hong Kong caíram mais de 3% na manhã de segunda-feira. E o ouro, tradicionalmente um valor refúgio, a onça ultrapassou os 2 mil dólares.

O aumento nos preços do petróleo ocorre depois que o chefe da diplomacia americana, Antony Blinken, disse no domingo que os Estados Unidos e a União Europeia estão discutindo “muito ativamente” a possibilidade de proibir as importações de petróleo russo.

A ministra das Relações Exteriores da Alemanha, Annalena Baerbock, no entanto, declarou-se contrária ao embargo ao gás, petróleo e carvão russos. Ela defende, no entanto, que as sanções continuem a ser aplicadas.“É inútil se em três semanas descobrirmos que temos apenas alguns dias de eletricidade na Alemanha e que devemos, portanto, reverter essas sanções”, disse Baerbock ao canal ZDF.

“Estamos dispostos a pagar um preço econômico muito, muito alto”, mas “se amanhã, na Alemanha ou na Europa, as luzes se apagarem, isso não parará os tanques”, acrescentou.

A Alemanha importa da Rússia 55% de seu gás, 42% de seu petróleo e carvão, uma dependência que o país está disposto a rever, mas que levará muitos anos para se tornar realidade.

Apesar de que o petróleo esteja fora do atual pacote de sanções, as exportações russas não encontram mais compradores. A British Shell é um dos únicos grupos petrolíferos que negociaram na semana passada comprando 100 mil toneladas de petróleo, irritando o governo ucraniano.

(Com informações da RFI)

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