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Turquia inicia ofensiva militar contra curdos na Síria

Ação ocorre poucos dias depois de os EUA deixarem a região e retirarem seu apoio às forças curdo-sírias, que lutavam ao lado dos americanos

Curdos fogem de região da Síria bombardeada pela Turquia - Foto: Delil Souleiman/AFP
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A Turquia deu início a uma operação militar contra combatentes curdos no nordeste da Síria nesta quarta-feira 9, poucos dias depois de tropas americanas terem se retirado da região. Os ataques aéreos e artilharia visam atingir posições das Unidades de Proteção do Povo (YPG) em volta da cidade na fronteira turco-síria de Ras al-Ayn.

O presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, anunciou o início da ofensiva militar contra as milícias curdo-sírias pelo Twitter, afirmando que o objetivo era eliminar o que ele chamou de “corredor de terror” na fronteira sul do país.

“As Forças Armadas turcas iniciaram, junto com o Exército Nacional Sírio [antigamente conhecido como Exército Livre da Síria], a Operação Primavera de Paz no norte da Síria”, divulgou o chefe de Estado turco na rede social, citando o grupo rebelde sírio que é apoiado pelos turcos.

Na sua fala, Erdogan ainda fez uma equivalência entre o grupo jihadista “Estado Islâmico” (EI) e as milícias curdo-sírias das YPG, que dominam o nordeste da Síria e até a semana passada eram apoiadas pelos EUA.

“Preservaremos a integridade territorial da Síria e libertaremos as comunidades locais das garras dos terroristas”, acrescentou Erdogan, em referência às YPG.

A Turquia estava pronta para atacar o nordeste da Síria desde que as tropas americanas, que estavam lutando com os curdos contra o EI, começaram a abandonar a região numa mudança abrupta de política do presidente dos EUA, Donald Trump.

A retirada foi amplamente criticada em Washington como uma traição aos aliados curdos dos EUA, que vinham lutando ao lado dos americanos contra os terroristas do EI. Na segunda-feira, Trump anunciou que as tropas americanas não iriam se envolver em uma eventual ação turca na região, abrindo espaço para a invasão.

Caças turcos começaram a bombardear a cidade de Ras al-Ayn, no nordeste da Síria. A emissora de televisão CNNTürk mostrou ao vivo as imagens das colunas de fumaça procedentes da cidade – localizada na fronteira com a Turquia e controlada pelas YPG – e relatou o barulho contínuo de caças sobrevoando a região.

O Exército turco começou a atacar também bases e depósitos de munições da milícia curda YPG. De acordo com testemunhas, a população está fugindo da cidade.

Ancara afirmou que pretende criar uma “zona segura” para que alguns dos 3,6 milhões de refugiados sírios possam ser reconduzidos ao país. A Turquia pretende controlar uma faixa de 32 quilômetros de largura e 480 km de comprimento adjacente à fronteira síria, do rio Eufrates até o Iraque.

Esse território é atualmente dominado pelas milícias curdo-sírias das YPG, que estabeleceram um governo local que preocupa Ancara.

Civis fogem em caminhonete após bombardeio da Turquia na cidade de Ras al-Ain, no nordeste da Síria – Foto: Delil Souleiman/AFP

A Turquia vê os combatentes curdos no nordeste da Síria como terroristas por causa de seus laços com o Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), que travam uma insurgência em território turco.

Erdogan ainda disse que pretende criar uma zona de segurança nessa faixa da Síria e alojar ali os milhões de refugiados que fugiram para Turquia durante a guerra civil. As potências mundiais temem que a ação possa abrir um novo capítulo na guerra da Síria e agravar a crise regional.

Mais cedo, Erdogan afirmou em conversa telefônica com o presidente da Rússia, Vladimir Putin, que a operação vai ajudar na paz e estabilidade síria e agradeceu pela “postura construtiva” apresentada em relação à ofensiva turca. Antes da esperada ofensiva, a Síria afirmou que está determinada a enfrentar qualquer agressão turca usando todos os meios legítimos.

Ela também afirmou estar pronta para abraçar “filhos pródigos”, em uma aparente referência às autoridades curdo-sírias que controlam o nordeste do país. Em meio a profundas preocupações humanitárias, o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, pediu moderação a todas as partes na região e proteção aos civis.

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