Mundo

Tensão marca funeral de jornalista da Al Jazeera em Jerusalém

A Al Jazeera, emissora para qual ela trabalhava, acusou as forças israelenses de matar a repórter “deliberadamente” e “a sangue frio”

Guarda palestina carrega o corpo da jornalista Shireen Abu Akleh em Jerusalém. Foto: ABBAS MOMANI / AFP
Apoie Siga-nos no

Uma igreja de Jerusalém recebe nesta sexta-feira (13) o funeral da jornalista palestina-americana Shireen Abu Akleh, que morreu na quarta-feira ao ser atingida por um tiro na cabeça durante uma operação militar israelense na Cisjordânia.

O funeral acontece em um cenário de violência contínua, com novos confrontos no campo de refugiados de Jenin, onde a jornalista morreu: um palestino foi ferido por um tiro nesta sexta-feira em uma nova operação do exército de Israel, segundo a agência oficial palestina Wafa.

O corpo da famosa repórter do canal Al Jazeera, uma cristã de 51 anos nascida em Jerusalém Leste, será enterrado durante a tarde perto da sepultura de seus pais em um cemitério na área da Cidade Antiga de Jerusalém.

A polícia israelense, que calcula a presença de milhares de pessoas no funeral, anunciou medidas de prevenção: mobilizou mais agentes e bloqueou estradas.

Milhares de palestinos prestaram homenagem à jornalista na quinta-feira durante uma cerimônia oficial em Ramallah, sede da Autoridade Palestina na Cisjordânia.

A repórter, que usava um colete à prova de balas com a palavra “Imprensa” e um capacete, cobria uma operação militar em um campo de refugiados em Jenin, na Cisjordânia, um território palestino ocupado por Israel desde 1967.

Foto: MOHAMMED ABED / AFP

O anúncio de sua morte provocou grande comoção entre os palestinos e no mundo árabe, que acompanhou por mais de duas décadas suas reportagens na Al Jazeera, assim como na Europa e Estados Unidos.

Protestos foram registrados em vários territórios palestinos e uma rua de Ramallah recebeu o nome da jornalista.

“Provas”

O exército de Israel efetuou várias operações nas últimas semanas no campo de refugiados de Jenin, reduto das facções armadas palestinas no norte da Cisjordânia, onde vivem os autores dos recentes atentados mortais no território do Estado hebreu.

A origem da bala que matou a jornalista provocou diversas hipóteses. A Al Jazeera acusou as forças israelenses de matar a repórter “deliberadamente” e “a sangue frio”.

O primeiro-ministro de Israel, Naftali Bennett, sugeriu que “provavelmente” Shireen Abu Akleh faleceu em consequência dos tiros de combatentes palestinos.

Algumas horas depois, no entanto, o ministro da Defesa, Benny Gantz, afirmou que o exército “não tinha certeza sobre como ela foi assassinada”.

“Pode ter sido um palestino atirou nela (…) O tiro também pode ter vindo do nosso lado, estamos investigando”, acrescentou.

“Precisamos das provas forenses dos palestinos, incluindo a bala que matou a jornalista, para conduzir uma investigação completa”, disse Gantz.

Israel pediu aos palestinos que entreguem a bala para que “seja possível efetuar uma investigação científica para rastrear a origem do tiro”, afirmou à AFP uma fonte das forças de segurança.

Israel também propôs a funcionários palestinos e do governo dos Estados Unidos que “estejam presentes” durante a análise, segundo a mesma fonte.

Divergências sobre a investigação

A Autoridade Palestina, liderada por Mahmud Abbas, rejeitou a ideia de uma investigação conjunta com Israel, depois de acusar o exército israelense de matar a jornalista.

“Consideramos as autoridades de ocupação israelenses plenamente responsáveis pela morte”, declarou Abbas na quinta-feira. Ele explicou que rejeita uma investigação conjunta porque “as autoridades israelenses cometeram o crime e não confiamos nelas”.

Também afirmou que deseja enviar o caso a Tribunal Penal Internacional (TPI).

“A investigação deve ser completamente independente”, afirmou Husein Al Sheikh, funcionário de alto escalão da Autoridade Palestina, que prometeu divulgar os resultados “com grande transparência”.

Bennett afirmou que, “lamentavelmente, a Autoridade Palestina está impedindo neste momento qualquer possibilidade de uma investigação conjunta ou, inclusive, acesso às conclusões básicas que são necessárias para chegar à verdade”.

O governo dos Estados Unidos condenou com veemência o assassinato e pediu uma investigação “transparente”, de preferência conjunta entre israelenses e palestinos.

ONU e União Europeia pediram uma investigação “independente”.

Na quinta-feira, o emir do Catar (onde fica a sede da Al Jazeera), Tamim bin Hamad Al Thani, acusou Israel pela morte da jornalista.

ENTENDA MAIS SOBRE: , , , , , , ,

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Leia também

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Um minuto, por favor…

O bolsonarismo perdeu a batalha das urnas, mas não está morto.

Diante de um país tão dividido e arrasado, é preciso centrar esforços em uma reconstrução.

Seu apoio, leitor, será ainda mais fundamental.

Se você valoriza o bom jornalismo, ajude CartaCapital a seguir lutando por um novo Brasil.

Assine a edição semanal da revista;

Ou contribua, com o quanto puder.