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Ricardo Salles é recebido com protestos em Berlim

Militantes formaram uma corrente humana, bloqueando a entrada do prédio da Câmara de Comércio Brasil Alemanha

Ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles Foto: Marcos Corrêa/PR
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O ministro brasileiro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, está em Berlim para a segunda etapa de seu giro na Europa destinado a atrair investimentos estrangeiros e, no caso da Alemanha, discutir o futuro das contribuições ao Fundo Amazônia, afetado pelas queimadas. Salles enfrenta nesta segunda-feira (30) protestos da ONG Greenpeace e de um grupo de resistência ao governo de Jair Bolsonaro, em frente à Câmara de Comércio Brasil Alemanha.

O ato contra a visita de Salles foi organizado pelo grupo Gira, que faz oposição ao governo Bolsonaro, com o apoio de alemães. O Greenpeace se juntou ao protesto. Militantes da ONG formaram uma corrente humana, bloqueando a entrada do prédio da Câmara de Comércio Brasil Alemanha. Em Berlim tem havido várias manifestações a favor da preservação da Amazônia, e novas ações não estão descartadas.

 

A visita oficial de Salles à capital alemã está um tanto nebulosa. Não há nada previsto na agenda oficial do site do Ministério do Meio Ambiente, nem do Itamaraty. A Embaixada em Berlim confirmou apenas que o ministro tem compromissos oficiais nesta segunda e terça, e que terá encontros com autoridades do governo alemão, empresários e com a mídia local. Nesta manhã, Salles deu uma entrevista ao jornal conservador Frankfurter Allgemeine Zeitung.

A RFI apurou que um dos eventos mais importantes – um encontro com empresários alemães –, que estava marcado para hoje, teria sido transferido para amanhã.

Divergências no governo alemão

Além dessa conversa com empresários, Salles vai se encontrar com a ministra do Meio Ambiente, Svenja Schultze, com o ministro da Cooperação e do Desenvolvimento, Gerd Muller, e possivelmente com o ministro das Relações Exteriores, Heiko Maas, seja num encontro bilateral, seja durante um jantar previsto para a noite de terça-feira (1).

O Fundo Amazônia estará na pauta. O ministro alemão do Desenvolvimento tem tido uma postura mais compreensiva, mais tolerante, em relação ao desmatamento na Amazônia. A Noruega, por exemplo, que é a principal parceira no Fundo, de mais peso, já congelou seus repasses, diante da decisão do governo brasileiro de alterar o mecanismo de gestão do fundo. Mas, na Alemanha, a assessoria do Ministério do Desenvolvimento afirma não ter feito nenhum congelamento até agora. O ministério diz apenas que o pagamento das próximas parcelas vai depender do controle do Brasil sobre o desmatamento, já que esse é um requisito básico para o desembolso desses recursos. As negociações com o governo brasileiro ainda estão em andamento e, nesse sentido, o encontro entre os ministros em Berlim pode trazer novidades.

Salles não contará com a mesma indulgência no Ministério do Meio Ambiente alemão, que tem tido uma postura bem mais crítica em relação ao governo brasileiro. Isso se explica até pelo fato de os titulares das duas pastas serem de partidos diferentes. Gerd Muller é do mesmo partido conservador da chanceler Angela Merkel, o CDU, que tende a priorizar mais a questão econômica, e o apoio ao setor empresarial alemão. Já a ministra Svenja Schultze é do SPD, partido dos social-democratas, que governam numa grande coalizão com Merkel.

Schultze suspendeu recentemente recursos destinados a projetos ambientais no Brasil, depois de criticar fortemente o governo pelas queimadas na Amazônia. Segundo fontes do seu ministério, ela dificilmente vai voltar atrás sem que novos compromissos e números provando que as queimadas estão sob controle sejam colocados sobre a mesa.

Empresários alemães temem reação negativa da opinião pública

Pelo menos 15 empresas foram convidadas para um encontro com Salles. Entre elas, estão pesos-pesados da indústria alemã, como Basf, Bayer, Bosch, Mercedes Bens e Siemens. Elas têm interesse em ampliar seus investimentos no Brasil. Quem está ajudando a organizar esse encontro é a Câmara de Comércio Brasil Alemanha. Mas os dirigentes empresariais alemães sabem que um governo brasileiro com uma imagem manchada em relação à questão ambiental pode ser contraproducente para seus próprios negócios.

O fato de ministros e empresários se encontrarem nesse momento com um representante do governo que vem sendo internacionalmente criticado sinaliza que estão dispostos a ouvir o que o ministro tem a dizer. Ao mesmo tempo, existe uma preocupação interna com a própria opinião pública. A questão da mudanca climática está no topo das preocupações dos alemães.

Na última sexta-feira (27), o Partido Verde empatou nas pesquisas de intenções de votos pela primeira vez com os conservadores de Merkel. Se de um lado pesa o interesse econômico, do outro, não dá para ignorar a opinião pública alemã.

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