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Principal acusado por atentados de 2015 em Paris é condenado à prisão perpétua

Em 13 de novembro de 2015 mais de 130 pessoas foram mortas em Paris e na vizinha Saint-Denis por um ataque comandado por jihadistas

Ilustração divulgada em setembro de 2021 mostra Salah Abdeslam, o principal suspeito dos ataques em Paris, no primeiro dia do julgamento Foto: Benoit PEYRUCQ / AFP
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A Justiça francesa condenou à prisão perpétua nesta quarta-feira (29) Salah Abdeslam, único integrante vivo dos comandos jihadistas que mataram em 13 de novembro de 2015 130 pessoas em Paris e na vizinha Saint-Denis.

Seis anos depois do pior ataque em Paris desde a Segunda Guerra Mundial e após dez meses de processo, os 20 acusados receberam suas penas, que variam de dois anos de prisão à prisão perpétua sem liberdade condicional.

“As penas são bastante duras. Não sairão da prisão imediatamente. Vamos comemorar. Sinto um grande alívio”, comentou Sophie, uma sobrevivente da casa de shows Bataclan, ao sair da sala com lágrimas nos olhos.

O principal acusado ouviu impassível e de braços cruzados o veredito, que o presidente do tribunal, Jean-Louis Périès, leu em menos de uma hora no Palácio da Justiça, em Paris..

Abdeslam recebeu a maior pena, aplicada apenas quatro vezes na França, apesar dos esforços de sua defesa em apresentá-la como uma “pena de morte social” e garantir que ele desistiu de detonar os explosivos que carregava junto a seu corpo na noite do ataque.

“Não sou um assassino e se for condenado por assassinatos, vocês cometeriam uma injustiça”, declarou na última segunda-feira o francês, 32 anos, que reiterou suas desculpas aos sobreviventes e parentes das vítimas.

“A opinião pública pensa que eu estava nos bares, atirando contra as pessoas, que estava no Bataclan. Vocês sabem que a verdade está no sentido contrário”, afirmou Absdelam ao tribunal, antes do início das deliberações.

Para a Procuradoria Nacional Antiterrorista (PNAT), o principal réu, preso na Bélgica em 18 de março de 2016, quatro dias antes dos atentados contra o metrô e o aeroporto de Bruxelas (32 mortos), tentou ativar seu cinturão de explosivos.

E os cinco magistrados do tribunal parisiense que o julgaram consideraram que o cinturão de explosivos estava “defeituoso”, questionando “seriamente” suas declarações sobre uma eventual “desistência”.

‘Medo do vazio’

Dos 20 acusados, apenas 14 estiveram presentes. Seis foram julgados à revelia, entre eles cinco dirigentes do grupo Estado Islâmico (EI), dados como mortos, como o belga Oussama Atar, a quem se atribui a ordem de cometer o atentado.

Os sobreviventes e parentes das vítimas, que lotaram a sala, juntamente com jornalistas, durante a leitura do veredito, receberam o mesmo com um misto de satisfação, alívio e medo do vazio: “É um verdadeiro alívio que o processo tenha terminado. Há um medo do vazio hoje, mas é o momento de sair dele. Na próxima segunda-feira retomo o trabalho”, disse o sobrevivente Bruno Poncet.

Para o presidente da associação de vítimas Life for Paris, Arthur Dénouveaux, as mesmas “precisavam estar juntas e ouvir o que a Justiça tinha para lhes dizer depois de seis anos e meio”. “Temos a sensação de que viramos uma página”, disse Gérard Chemla, advogado das partes civis, para quem “as penas pronunciadas não são excessivas”.

A defesa havia alertado para uma “justiça de exceção” nesses atentados, que deixaram um rastro de sangue no Stade de France, em Saint-Denis, em terraços de bares da capital e na casa de shows Bataclan, também em Paris.

O socialista François Hollande, presidente francês na época dos fatos, comemorou o fim de “um processo excepcional e exemplar” e considerou que os acusados foram “julgados conforme a lei”.

Os atentados aconteceram em um contexto de ataques na Europa, enquanto uma coalizão internacional lutava contra o grupo Estado Islâmico (EI) na Síria e no Iraque. Milhares de sírios chegavam por sua vez ao continente europeu para fugir da guerra em seu país.

A prisão perpétua “real” é aplicada em pouquíssimos casos na França. Só foi decretada em quatro ocasiões desde que foi instaurada em 1994, para condenados por matar crianças, após estuprá-las e torturá-las.

 

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