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Presidente da Argentina anuncia projeto para estatizar empresa de soja

Alberto Fernández informou que enviará texto ao Congresso para expropriar a companhia Vicentin, gigante do mercado agrícola

O presidente da Argentina, Alberto Fernández. Foto: Prensa Presidencia
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O presidente da Argentina, Alberto Fernández, anunciou a intervenção estatal na empresa privada de agroexportação Vicentin e afirmou que vai enviar ao Congresso um projeto de lei para expropriar a firma. A declaração ocorreu na segunda-feira 8.

Segundo o governo, trata-se de uma operação de resgate da empresa de cereais nascida em 1929, que hoje está em crise financeira, mas já foi no passado uma das principais marcas no mercado agrícola. De acordo com informações do jornal Página 12, Vicentin ascendeu durante a gestão de Maurício Macri, chegando a ocupar o primeiro lugar do ranking de exportadores, mas no mesmo período entrou em colapso repentino.

Em outubro de 2019, informa o jornal, Vicentin parou de pagar vencimentos de empréstimos a credores como o Banco Nación, seu principal financiador. Apesar de ter recebido 95,5 milhões de dólares em pré-financiamento de créditos à exportação, a empresa declarou falência na primeira semana de dezembro e iniciou os procedimentos para a abertura de sua falência em 10 de fevereiro deste ano. As ações resultaram em uma queixa legal contra as autoridades da empresa. Estima-se uma dívida de cerca de 1,35 milhões de dólares, maior parte com bancos.

O governo alega que a medida salvará os trabalhadores da empresa e os produtores que terão para quem continuar vendendo a sua produção. Fernández fez o comunicado ao lado do ministro do Desenvolvimento Produtivo, Matías Kulfas, da senadora Anabel Fernández Segasti e do economista Gabriel Delgado, que será nomeado controlador da empresa. Delgado já dirige a YPF Agro, da petrolífera também estatal, designada para gerir um fundo formado com os ativos do grupo Vicentin.

“Que o Estado conte com uma empresa nesse setor é muito importante. Estamos dando resposta à preocupação de todo um mercado, mas também estamos tomando uma decisão estratégica”, disse Fernández, em coletiva de imprensa.

 

Na avaliação do doutor em Relações Internacionais e professor da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-MG), Leonardo Ramos, a situação da Argentina é de uma dependência, em larga medida, desse tipo de bens de commodities. O controle dessas mercadorias, portanto, pode ter um impacto significativo para o Estado, como, por exemplo, para a taxa de câmbio argentina.

Além disso, Ramos destaca que a empresa está em concordata, ou seja, não se trata de uma “estatização à força”. Ao mesmo tempo, para um país em desenvolvimento, controlar um setor estratégico, como a soja, pode ser importante após os impactos da pandemia do novo coronavírus.

“Não é uma estatização à força, nem nada dessa natureza. É uma empresa que está quebrando, e partes dela seriam vendidas para o mercado privado”, disse o professor. “Temos outra questão. Há vários estudos chamando a atenção para a importância da questão alimentar no médio e longo prazo, para a produção e para a distribuição, em função do contexto da pandemia. Como isso terá impacto no mercado de alimentos? Portanto, controlar um setor estratégico como a soja é fundamental.”

Ramos observa que a China é uma grande importadora de soja no mundo, num contexto em que o Brasil figura entre os principais vendedores da commodity para o país asiático. Contudo, após sucessivos atritos diplomáticos entre os governos brasileiro e chinês, a estatização da Vicentin pode desenhar um novo cenário para a Argentina.

“Um dos grandes exportadores de soja para a China é o Brasil, que tem a cada vez mais criado problemas nas suas relações com a China. Então, isso tem um potencial significativo para aumentar as exportações argentinas de soja para a China, o que pode, num contexto de estatização, gerar divisas para o próprio Estado argentino num médio prazo e proporcionar equilíbrio para as contas nacionais na Argentina”, considera.

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