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Oposição colombiana realiza greve geral com apoio de indígenas e Igreja

O país segue os passos dos vizinhos Chile e Equador e se mobiliza contra o governo do presidente Iván Duque

Créditos: AFP
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Em um contexto agitado na América Latina, a Colômbia segue os passos dos vizinhos Chile e Equador e se mobiliza contra o governo do presidente Iván Duque nesta quinta-feira 21. A greve nacional deve paralisar as principais cidades do país, após convocatória de sindicatos e oposição, com o apoio de movimentos indígenas e da Igreja Católica.

As reivindicações são variadas: alguns sairão às ruas para manifestar contra a política econômica e social do governo de direita, especialmente contra um projeto de reforma dos direitos trabalhistas e da previdência. Outros pretendem defender os acordos de paz assinados com a guerrilha e protestar contra os assassinatos que continuam a se multiplicar nas zonas rurais do país.

O governo alega que o movimento é incentivado por estrangeiros infiltrados no país. Como medida de segurança, Bogotá fechou suas fronteiras e expulsou cerca de 20 venezuelanos que viviam no país.

O exército colombiano está mobilizado desde o último fim de semana. Na capital, mídias de oposição foram alvo de revistas policiais “preventivas”, segundo o governo, levando jornalistas a denunciarem um ataque à liberdade de imprensa.

O prefeito de Bogotá, Enrique Peñalosa, anunciou na quarta-feira 20 que o exército “estará vigiando algumas instalações estratégicas e garantindo uma proteção adequada aos serviços públicos”. Segundo ele, outros cerca de quatro mil policiais também reforçarão a segurança.

Grande nervosismo

Entrevistado pela RFI, o cientista político colombiano Fernando Giraldo, da Universidad Javeriana, aponta para “um grande nervosismo do governo colombiano diante da greve nacional. Segundo ele, a classe política no poder e o empresariado pretendem conter o movimento “com ameaças”.

O especialista também ressalta que a mobilização, que conta com a participação de trabalhadores, estudantes, indígenas, ambientalistas, defensores dos direitos humanos e até da Igreja Católica, é a primeira em várias décadas. “Há uma falta de atenção das elites e do governo a reclamações que se acumulam. De alguma forma, o Acordo de Paz com as Farc motivou muitos cidadãos a começarem a participar de protestos e a pedir uma solução para os problemas”, afirma.

Giraldo também vê características similares entre a greve geral na Colômbia e as manifestações sociais que sacodem boa parte da América Latina neste momento. “Creio que os protestos que vemos em ao menos dez países da região – Haiti, Honduras, Panamá, Nicarágua, Equador, Venezuela, Peru, Bolívia e Chile – têm elementos de caráter nacional, próprio de seu contexto político. Mas têm elementos em comum, como as profundas desigualdades sociais. As pessoas não admitem mais tanta desigualdade e corrupção”, reitera.

O cientista político vê a campanha do governo contra os opositores como “profundamente antidemocrática”. “O que os militares têm a ver com as reclamações dos cidadãos? Existe uma força do Estado, que é a polícia, que pode atuar nesse tipo de situação se os protestos tomarem um caminho contrário. Por outro lado, há ameaças de toque de recolher e de acionar pequenas leis marciais locais: medidas com excesso de força e que atropelam as pessoas sem justificativa, sem provas, apenas com base em suspeitas”, aponta.

Preocupação

A ONU expressou sua preocupação diante do aumento de militares nas ruas da Colômbia. O escritório das Nações Unidas também apontou “com preocupação” a emissão de “vários decretos, circulares e instruções” que permitem às autoridades locais declarar toque de recolher e de acionar o exército quando julgar necessário.

Além disso, a organização alertou para a difusão de mensagens “de procedência não identificada” que “estigmatizam o protestos social” e outras que “chamam ao uso da violência” nas mobilizações.

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