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Ocidentais sobem o tom contra Rússia, mas embaixador diz que Moscou ‘não dá a mínima para sanções’

O chanceler alemão, Olaf Scholz, advertiu que se os russos lançarem uma ofensiva contra o território ucraniano, as sanções ocidentais serão ‘imediatas’

Militares participam de exercícios conjuntos das forças armadas da Rússia e da Bielorrússia. Foto: AFP
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Sem sinais concretos de recuo militar russo nas fronteiras da Ucrânia, os ocidentais reiteram as ameaças contra o Kremlin. O presidente alemão, Frank-Walter Steinmeier, reeleito neste domingo 13 para um mandato de cinco anos, disse que a Rússia tem “responsabilidade” pelo risco de uma guerra no leste da Europa.

O político social-democrata, ex-chefe da diplomacia alemã e próximo do chanceler Olaf Scholz, tentou dissipar as dúvidas sobre a posição de Berlim na crise ucraniana. “Há um perigo de um conflito militar, uma guerra no leste da Europa, e a Rússia tem responsabilidade nisso”, disse Steinmeier, em discurso no Parlamento alemão. Em seguida, o presidente recomendou firmeza perante a Rússia. Nas últimas semanas, a Alemanha foi criticada por Kiev e por vários de seus parceiros ocidentais por ser muito complacente com Moscou.

“Como vemos, a paz não pode ser dada como certa. Sempre se tem que agir para preservá-la, pelo diálogo. Mas, quando for necessário, é preciso dizer as coisas claramente, mostrando dissuasão e determinação”, frisou Steinmeier.

Poucos minutos depois, o chanceler Olaf Scholz, que tem visita prevista nesta segunda-feira 14 a Kiev, e na terça vai a Moscou, advertiu que se a Rússia lançar uma ofensiva contra o território ucraniano, as sanções ocidentais serão “imediatas”.

“Em caso de agressão militar à Ucrânia, que venha a colocar em risco sua soberania e integridade territorial, haverá sanções duras, que preparamos com cuidado e que podemos implementar imediatamente, com nossos aliados na Europa e na Otan”, declarou Scholz.

O governo alemão pretende aumentar sua ajuda econômica para a Ucrânia, mas rejeita entregar armas a Kiev. Desde a anexação da península da Crimeia, em 2014, por parte de Moscou, a Alemanha foi o país que forneceu mais ajuda financeira à Ucrânia, cerca de € 2 bilhões (em torno de US$ 2,27 bilhões), além de uma linha de crédito de € 500 milhões, dos quais quase dois terços já foram utilizados.

“Moscou não dá a mínima para sanções ocidentais”, diz embaixador

Em um diálogo por telefone com Vladimir Putin, no sábado, o presidente americano, Joe Biden, alertou o líder russo sobre os “custos severos” que a Rússia enfrentaria se atacasse a Ucrânia. Putin declarou que as suspeitas de Washington são uma “especulação provocativa”, e seu assessor diplomático, Yury Ushakov, denunciou um “auge” da “histeria” americana.

O aceno de sanções ocidentais não parece preocupar o Kremlin, pelo menos na avaliação do embaixador russo na Suécia, Viktor Tatarintsev. Em uma entrevista à imprensa local, ele disse que a Rússia “não dá a mínima” para as possíveis punições dos países ocidentais.

“Já tivemos tantas sanções impostas a nós, e de certa forma elas tiveram efeitos positivos em nossa economia e agricultura”, disse o experiente Tatarintsev. “Somos mais autossuficientes e temos sido capazes de aumentar nossas exportações”, argumentou. “Novas sanções não são positivas, mas não são tão ruins quanto o Ocidente afirma”, destacou o embaixador. Para o diplomata, os países ocidentais não compreendem a mentalidade russa: “Quanto mais pressão o Ocidente exerce sobre a Rússia, mais forte será a resposta russa”.

Washington teme uma ofensiva “iminente”, apontando que Moscou reuniu mais de 100.000 soldados perto da fronteira com a Ucrânia e acaba de iniciar manobras militares no Mar Negro e na Belarus, apertando o cerco contra a ex-república soviética.

O embaixador Tatarintsev diz, no entanto, que a Rússia tenta evitar uma guerra. “Este é o desejo mais sincero de nossos políticos. A última coisa que as pessoas na Rússia querem é a guerra”, destacou ao site do jornal sueco Aftonbladet.

Repetição de cenário de 1938?

O secretário britânico da Defesa, Ben Wallace, comparou os esforços diplomáticos dos ocidentais para dissuadir a Rússia de um eventual ataque à Ucrânia ao acordo que permitiu à Alemanha nazista anexar os Sudetos em 1938, mas que fracassou na hora de evitar uma guerra.

A região fronteiriça dos Sudetos pertencia à Tchecoslováquia desde 1919 e contava com 65% de habitantes de origem germânica. O Acordo de Munique de 1938 cedeu essa área ao regime nazista, mas, mesmo assim, a Europa não escapou da Segunda Guerra Mundial.

Wallace disse ao jornal britânico Sunday Times que o presidente russo, Vladimir Putin, poderá lançar uma ofensiva contra a Ucrânia “a qualquer momento” e que alguns países ocidentais – não citados por ele – não estão fazendo o suficiente. Líderes como o francês Emmanuel Macron e o alemão Olaf Scholz têm dialogado com Moscou na expectativa de convencer Putin a retirar suas tropas.

“Pode ser que (Putin) desligue os tanques e todos nós iremos para casa, mas há um cheiro de Munique no ar para alguns no Ocidente”, disse Wallace. “O que é preocupante é que, apesar da intensa atividade diplomática, o destacamento militar continua. Não parou: continuou”, observou Wallace.

Ucrânia mantém espaço aéreo aberto

A Ucrânia disse que irá manter seu espaço aéreo aberto para viagens internacionais, apesar das advertências americanas de ataque russo iminente.

Diante do aumento da tensão, a companhia aérea holandesa KLM anunciou, no sábado, que estava suspendendo todos os seus voos no espaço aéreo ucraniano até novo aviso. Mas a maioria das companhias aéreas internacionais mantém seus voos programados para a Ucrânia.

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