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Obesidade e sedentarismo na mira

Polêmica proposta no Reino Unido defende mais benefícios para quem se exercitar e cortes aos que não fizerem atividades físicas

Pressão estética e farmácias clandestinas levam ao consumo sem controle de remédios como a sibutramina, enquanto o País discute banimento de substâncias do gênero. Foto: Tobyotter/Flickr
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Quem está acima do peso, não tem um estilo de vida saudável e mora no Reino Unido, provavelmente, entrou na mira de uma polêmica proposta. Um governo local de Londres e um think tank defenderam uma “guerra” contra a obesidade, além da ampliação de atividades que contribuam para a saúde pública, com um incentivo atípico: aqueles que adotarem exercícios físicos indicados por médicos em sua rotina podem ganhar mais benefícios sociais. Quem não seguir essas recomendações não recebe o auxílio.

A partir de abril de 2013, os governos locais vão retomar do NHS, sistema público de saúde britânico, a tarefa de traçar políticas de saúde pública. Para se preparar a este cenário, o Conselho de Westminster, uma espécie de distrito de Londres comandado por conservadores, encomendou da organização Local Government Information Unit (LGiU) o estudo A Dose of Localism: The Role of Councils in Public Health (Uma Dose de Regionalismo: O Papel dos Conselhos na Saúde Pública, em tradução livre). O levantamento traz propostas para melhorar a atuação dos conselhos e usar de maneira mais eficiente os recursos, que sofreram cortes significativos.

E aí entra a polêmica. O documento prevê que médicos locais prescrevam atividades físicas em centros públicos dos Conselhos usando piscinas, academias, yoga e clubes de caminhada em seus planos. A segunda parte da proposta liga essas atividades aos benefícios sociais. “Onde um pacote de exercícios for prescrito a um residente, pagamentos de subsídios de habitação e benefícios da taxa de conselho podem ser variados para recompensar ou incentivar residentes”, diz o texto. Ou seja, quem fizer os exercícios recomendados pode ser beneficiado e “controlado” por meio de cartões inteligentes no acesso aos centros de atividade.

A ideia é que os governos locais usem uma possível isenção de taxas residenciais para incentivar a adoção de exercícios. Quem não seguir o programa, deixa de ganhar os benefícios. “Baseamos as propostas em conversas com pessoas por todo o país, além de dois encontros para discutir as ações com especialistas em saúde”, explica Jonathan Carr-West, diretor da LGiU e um dos responsáveis pela elaboração da proposta, a CartaCapital.

A proposta, entretanto, não teve recepção positiva por associações médicas e de apoio a obesos. Foi considerada “boba” e “absurda”. Mas Carr-West garante que a controvérsia se deve ao fato de o estudo ter sido mal interpretado como uma tentativa de impor exercícios. “O que sugerimos são recompensas às pessoas que fazem atividades saudáveis, como uma forma de encoraja-las e não uma punição aos demais”, afirma. E completa que a proposta não pede a perda de benefícios para quem não fizer exercícios. “Propomos que se receba um valor adicional por faze-los. Caso as pessoas parem, deixam de receber o beneficio extra, mas não os benefícios existentes.”

 

Para o pesquisador, os resultados podem ser positivos para os indivíduos e o Estado, que economizará   gastos com doenças graves, além de romper as barreiras que tornam as pessoas sedentárias. “O cidadão vai à academia e descobre que tem que pagar, e que é caro. Então, estamos tentando remover as barreiras por meio dos médicos que podem dar aos pacientes acesso aos centros de lazer dos Conselhos e suas academias sem custos.”

Segundo o estudo, o Reino Unido gasta 110 bilhões de libras (cerca de 360 bilhões de reais) por ano com saúde. Junto com o envelhecimento da população e o aumento dos níveis de obesidade, devem aumentar os casos de demência, diabetes e doenças do coração, o que imporá novas despesas ao NHS. Somente com diabetes, o governo gasta 10% de sua receita com a saúde.

Apenas na Inglaterra 24% dos homens e 26% das mulheres são obesos, enquanto 65% deles e 58% delas têm sobrepeso ou são obesos, segundo pesquisa de saúde do governo inglês.

O documento ainda traz outras propostas, como a promoção da melhoria da qualidade dos serviços em mercados de bairro, que oferecem serviços variados em diversas áreas das cidades. “Em áreas identificadas como desertos alimentares e sem itens frescos e com baixos preços para manter uma dieta saudável, os Conselhos podem oferecer incentivos para mercados locais que façam esses serviços disponíveis por meio dos fundos de investimento social”, diz o texto.

Seria uma ajuda para vender alimentos saudáveis a preços baratos. Mas todas essas políticas não são uma intromissão do Estado na vida privada dos cidadãos? Carr-West discorda. “O Estado está dizendo para as pessoas que não pode torna-las saudáveis ou resolver todos os seus problemas. Mas pode dar apoio caso você queiram agir para ser mais saudáveis.”

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