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Manifesto de entidades rechaça discurso de Bolsonaro na ONU: “envergonha os brasileiros”

Documento com 48 assinaturas diz que presidente reafirma ‘negação de direitos’ e ‘ódio’ a indígenas, quilombolas e povos tradicionais

Gravação do discurso do presidente Jair Bolsonaro para a Assembleia Geral das Nações Unidas. Foto: Marcos Corrêa/PR
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Organizações e movimentos sociais publicaram nesta quinta-feira 24 um manifesto em que repudiam o pronunciamento do presidente Jair Bolsonaro à Assembleia Geral das Nações Unidas, exibido em vídeo na terça-feira 22.

 

Na ocasião, o chefe do Executivo se disse vítima de “brutais campanhas de desinformação”, culpou caboclos e indígenas pelas queimadas nas florestas, chamou associações brasileiras de “aproveitadoras” e acusou a imprensa de espalhar pânico na pandemia.

No manifesto, 48 entidades afirmam que Bolsonaro “envergonha brasileiros com uma fala de apenas 14 minutos, mas repleta de inverdades”. Entre os signatários do documento, estão a Comissão Pastoral da Terra, o movimento Grito dos Excluídos, o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) e o Instituto Jubileu Sul.

O texto afirma que a intenção do governo federal tem sido de “desmontar a estrutura dos órgãos ambientais” e que o número de autuações ambientais diminuiu em 34% durante o atual mandato, considerado o menor índice de autuações nos últimos 24 anos.

As organizações citam ainda um manifesto técnico da Associação Nacional dos Servidores da Carreira de Especialista em Meio Ambiente (Ascema), em que constariam recomendações ambientais apresentadas ao governo, “mas nenhuma das medidas sugeridas pelos servidores foi tomada pelo governo do Bolsonaro”.

Além disso, as entidades acusam Bolsonaro de ter exonerado servidores públicos de órgãos de fiscalização que autuaram criminosos ambientais e contabilizam a presença de mais de 20 mil garimpeiros ilegais nas terras indígenas ianomamis em Roraima.

Para as associações que assinam o manifesto, Bolsonaro demonstra “conivência” com o desmatamento e a grilagem de terras na Amazônia, ao apresentar “poucas ações concretas para punir os verdadeiros responsáveis pelos crimes ambientais”, como fazendeiros e grileiros.

“Um ato não apenas de desespero, de um governante envolvido em várias acusações de irregularidades, mas também uma enorme covardia contra o povo brasileiro, principalmente as populações nativas”, escrevem. “O presidente acusou de forma irresponsável os indígenas e outras populações tradicionais como responsáveis pelas queimadas na Amazônia”.

“A fala reafirma sua negação de direitos e todo seu ódio aos indígenas, quilombolas e demais povos tradicionais”, acrescentam.

PDT move ação no STF; Observatório do Clima repudia discurso

Na quarta-feira 23, o PDT entrou com uma interpelação judicial no Supremo Tribunal Federal (STF) para que Bolsonaro explique as declarações que culpam caboclos e indígenas pelos incêndios florestais.

A ação foi distribuída à análise do ministro Dias Toffoli. Na Petição (PET)) 9175, a legenda solicita a fonte da informação, os estudos que serviram de subsídio para a afirmação e as medidas investigativas tomadas em relação aos caboclos e indígenas.

“As alegações apresentam um teor gravíssimo e inconsequente, pois incita a proliferação de xenofobia contra a população indígena e cabocla”, argumenta a sigla.

O Observatório do Clima considerou o discurso como delirante. Em entrevista a CartaCapital, o secretário-executivo da organização, Marcio Astrini, afirmou que, no Pantanal, pelo menos 20% do bioma está afetado, com aumento de mais de 200% em focos de incêndio. Já na Amazônia, os alertas de desmatamento dobraram na região depois que o presidente tomou posse.

“Ninguém acredita mais nisso, mesmo porque os números comprovam que tudo isso não passa de uma criação dele próprio”, examinou Astrini.

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