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Em visita a Taiwan, Pelosi pede “paz para a região”; China fala em “ofensa e punição”

Ministério das Relações Exteriores chinês denunciou “uma grave violação” dos compromissos americanos em relação à China, que “prejudica seriamente a paz e a estabilidade regionais”

Nancy Pelosi
Foto: Nicholas Kamm/AFP 'Nesta manhã está claro que a chapa Biden-Harris vai ganhar a Casa Branca', afirmou Pelosi sobre Biden e sua companheira de chapa, Kamala Harris. Foto: Nicholas Kamm/AFP
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A presidente da Câmara dos Deputados dos Estados Unidos, Nancy Pelosi, declarou em Taiwan nesta quarta-feira (3) que veio “em paz para a região”, já que sua visita provocou revolta em Pequim, que anunciou uma série de exercícios militares nos arredores da ilha. “Viemos como amigos para Taiwan, viemos em paz para a região”, disse Pelosi, a mais alta autoridade dos EUA a visitar Taiwan em 25 anos, durante uma reunião com o vice-presidente do parlamento taiwanês, Tsai Chichange.

Pelosi, de 82 anos, chegou a Taipei na noite desta terça-feira (2) em um avião militar dos EUA e deixou o país nesta quarta-feira 3. Sua visita, que não havia sido anunciada oficialmente, mas que foi objeto de intensa especulação por muitos dias, provocou uma reação imediata de Pequim. Com a chegada de Pelosi a Taiwan, o Ministério das Relações Exteriores chinês denunciou “uma grave violação” dos compromissos americanos em relação à China, que “prejudica seriamente a paz e a estabilidade regionais”.

O governo chinês convocou o embaixador americano em Pequim, Nicholas Burns, na noite de terça-feira. O vice-ministro das Relações Exteriores da China, Xie Feng, expressou os “fortes protestos” de seu país em relação à presença da presidente da Câmara americana, acrescentando que “a iniciativa [de Pelosi] de visitar Taiwan é extremamente chocante e as consequências serão muito graves”, informou a agência Nova China.

O ministro das Relações Exteriores da China, Wang Yi, alertou nesta quarta-feira que “aqueles que ofenderem a China terão que ser punidos, inevitavelmente”. “É uma farsa pura e simples. Sob o pretexto de democracia, os Estados Unidos violam a soberania da China”, declarou o ministro, que participava de uma reunião da Associação das Nações do Sudeste Asiático (Asean), em Phnom Penh.

Taiwan “não recuará”

Enquanto isso, o Ministério da Defesa chinês prometeu “ações militares direcionadas”, com uma série de manobras militares ao redor da ilha a começar nesta quarta-feira, incluindo “o disparo de munição real de longo alcance” no Estreito de Taiwan, que separa a ilha da China continental.

A presidente de Taiwan, Tsai Ing-wen, disse nesta quarta-feira que a ilha “não recuará” diante da ameaça da China.

As autoridades de Taiwan informaram durante a noite de terça para quarta-feira que 21 aviões militares chineses entraram na zona de identificação de defesa aérea da ilha – uma área muito maior que seu espaço aéreo. O Ministério da Defesa taiwanês afirmou estar “determinado” a proteger a ilha contra qualquer ataque. Diversos navios americanos também cruzam a região, incluindo o porta-aviões USS Ronald Reagan, de acordo com fontes militares americanas.

O Japão anunciou nesta quarta-feira que está “preocupado” com as “ações militares direcionadas” prometidas por Pequim, uma vez que algumas ocorreriam dentro da zona econômica exclusiva (ZEE) japonesa. “A paz e a estabilidade no Estreito de Taiwan são importantes não apenas para a segurança do nosso país, mas também para a estabilidade internacional”, revelou o porta-voz do governo japonês, Hirokazu Matsuno. “A posição consistente do Japão sempre foi que espera que as questões de Taiwan sejam resolvidas pacificamente por meio do diálogo.”

Diálogo

A Coreia do Sul também pediu pelo diálogo entre as partes nesta quarta-feira para manter a paz e a estabilidade na região. “A posição do nosso governo é manter uma comunicação próxima com as partes relevantes […] considerando a importância da paz e da estabilidade na região por meio do diálogo e da cooperação”, disse à imprensa um funcionário do gabinete presidencial. Pelosi deve viajar para Seul nesta quarta-feira como parte de sua turnê asiática.

A Rússia, grande aliada da China, acusou nesta terça-feira os americanos de “desestabilizar o mundo” e descreveu a visita de Nancy Pelosi como “pura provocação”. “O lado chinês tem o direito de tomar as medidas necessárias para proteger sua soberania e integridade territorial em relação à questão de Taiwan”, anunciou o Ministério russo das Relações Exteriores.

Outro aliado de Pequim, a Coreia do Norte expressou seu “total apoio”. “A interferência descarada dos Estados Unidos nos assuntos internos de outros países e suas provocações políticas e militares deliberadas são, sem dúvida, a causa raiz da deterioração da paz e da segurança na região”, declarou um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores norte-coreano, citado pela agência oficial KCNA.

Sanções comerciais

As reações chinesas vieram rapidamente também pelas relações comerciais. A China anunciou nesta quarta-feira a suspensão da importação de frutas cítricas e certos peixes de Taiwan, assim como a exportação de areia para a ilha.

Pequim afirma ter detectado “repetidamente” um tipo de parasita prejudicial em frutas cítricas e ter registrado níveis excessivos de pesticidas. Embalagens contendo dois tipos de peixe também deram positivo para coronavírus. Para a suspensão da exportação de areia para Taiwan, no entanto, não houve qualquer explicação.

Esta não é a primeira vez que Pequim visa o comércio com outros países ou com Taiwan dessa maneira. “É um padrão clássico para Pequim”, observa Even Pay, analista especializado em agricultura da Trivium China.

“Quando as tensões diplomáticas e comerciais estão altas, os reguladores chineses geralmente adotam uma atitude extremamente rigorosa em termos de cumprimento das regras, procurando qualquer motivo que justifique uma proibição comercial”, ele acrescenta.

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