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Coronavírus: Bolsas de valores despencam e perdas são as maiores desde 2008

As perdas registradas pelos principais índices das bolsas europeias, de 12% a 13%, são as maiores desde a crise financeira de 2008-2009

Técnico extrai amostras do vírus para analisar sua estrutura genética em laboratório de Glasgow, na Escócia - Foto: Jane Barlow/POOL/AFP
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Um movimento de pânico continuou a varrer as bolsas de valores do mundo nesta sexta-feira 28, com investidores desconfiados e preocupados com as consequências potencialmente devastadoras para a economia global da epidemia de coronavírus.

Os mercados asiáticos foram atingidos novamente, afundando os mercados europeus. As perdas registradas pelos principais índices das bolsas europeias desde sexta-feira passada, em torno de 12% a 13%, são as maiores desde a crise financeira de 2008-2009, quando a economia mundial entrou em recessão. No encerramento desta sexta-feira, a bolsa de Paris caiu 3,38%, Londres perdeu 3,18%, Frankfurt 3,86%, Madri 2,92% e Amsterdã 3,68%.

Se tomarmos como ponto de partida os níveis em que os mercados estavam há uma semana, “chegar a um declínio de mais de 10% em menos de seis dias, é algo que nunca aconteceu desde 1946”, lembrou Wilfrid Galand, diretor estrategista da Montpensier Finance.

Os mercados norte-americanos aceleraram a queda na quinta-feira 27 à noite, devido ao medo de que os Estados Unidos fossem afetados, e a desconfiança continuou nesta sexta-feira, com o Dow Jones caindo 2,70%, o Nasdaq 1, 39% e o índice S&P 500 expandido de 2,24%. Outros sinais suscitam os piores temores, como o nível do índice de volatilidade VIX (ou “índice de medo”), o mais alto desde 2011, o ano de uma crise da dívida pública na zona do euro.

“A velocidade e o poder desta crise surpreenderam muitas pessoas”, disse Galand. Até agora os mercados tinham estado bastante calmos, apoiados por uma certa recuperação econômica, pela ação dos bancos centrais, pela assinatura do acordo comercial sino-americano ou pelos resultados de empresas, “muito acima do esperado”.

“O que agora é certo é que estamos em choque econômico. Sabemos que isso levará a uma revisão descendente dos lucros corporativos para o ano de 2020”, especifica Christian Parisot, economista-chefe da corretora Aurel BGC. Na opinião de vários analistas, é menos a gravidade sanitária da epidemia que preocupa do que as medidas tomadas para contê-la, que são particularmente prejudiciais para a economia mundial.

Tendência a piorar?

A partir de agora, “a verdadeira questão é saber se esse choque econômico é pontual ou se realmente temos o desencadeamento de um cenário muito mais sombrio”, acrescenta Parisot.

Se a China era até recentemente o único centro global de coronavírus, o risco aumentava com o surgimento de novos países, como Coreia do Sul, Irã e Itália. Novos primeiros casos apareceram nesta sexta-feira na Holanda, Nigéria e Nova Zelândia.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) anunciou também nesta sexta-feira que elevou para “muito alto” o nível da ameaça ligada ao novo coronavírus, que infectou cerca de 79.000 pessoas na China e mais de 5.000 no resto do mundo. Os ministros da Saúde da União Europeia devem se reunir em Bruxelas em 6 de março “para discutir medidas relacionadas ao coronavírus”, disse um porta-voz do Conselho Europeu no Twitter.

Nesse contexto de aversão aguda ao risco, os investidores estão se voltando para valores-refúgio, entre os quais os títulos governamentais alemães e norte-americanos de dez anos: os primeiros demonstram a taxa mais baixa desde o início de setembro, e o segundo se mantém em seu piso histórico.

Agora, “o verdadeiro ponto de interrogação é qual será a atitude das autoridades nos Estados Unidos” porque, no caso de uma explosão no número de casos do outro lado do Atlântico, será “ainda complicado manter os mercados”, afirmou Wilfrid Galand.

Mas o fantasma da crise financeira de 2008 ainda permanece distante. Essa epidemia tem “um custo talvez superior ao estimado e justifica que os mercados se ajustem”, mas tudo permanece “quantificável”, relativiza Parisot. “Não acredito no risco de uma crise, acho que os bancos centrais garantirão que não cheguemos a esse cenário”.

O Banco Central Americano (Fed), no entanto, indicou nesta sexta-feira que não favorece, nesta fase, o cenário de corte de taxas se houver urgência sanitária devido ao coronavírus

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