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Cidades desertas e deslocados sem rumo: reflexos da violência na Colômbia

Combatentes do Exército de Libertação Nacional (ELN), a última guerrilha reconhecida no país, enfrentam a AGC, Autodefesa Gaitanista da Colômbia, também conhecida como Clã do Golfo, o temido exército de traficantes

Créditos: JOAQUIN SARMIENTO / AFP
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Ruas desertas, portas trancadas e silêncio. Este é o cenário da cidade colombiana de La Colonia. Com a chegada de traficantes de drogas e rebeldes que invadiram suas casas, a maioria da população fugiu.

As pessoas que ficaram “estão confinadas, ameaçadas e assustadas. Elas resistem porque preferem morrer em suas casa do que fora, como mendigos”, diz à AFP Diego Portocarrero, um entre as centenas de deslocados que fugiram para Buenaventura, o principal porto do Pacífico.

Combatentes do Exército de Libertação Nacional (ELN), a última guerrilha reconhecida no país, enfrentam a AGC, Autodefesa Gaitanista da Colômbia, também conhecida como Clã do Golfo, o temido exército de traficantes. Os grupos disputam a sangue e fogo os povoados no entorno dos rios Calima e San Juan, rota para o tráfico de cocaína.

Um morador de La Colonia conta que alguns traficantes ocuparam as casas abandonadas: “O que vivemos, vemos e ouvimos é inenarrável”, lamenta, sob anonimato.

Gota a gota

Envolta por uma floresta, a região de 317.000 habitantes (91% afros) abriga 90% dos 9,2 milhões de deslocados pelo conflito. Quase 300.000 deles estão em Buenaventura.

A economia local vive sob extorsão. Apesar do acordo de paz que desarmou a guerrilha das Farc em 2016, a violência continua.

“O deslocamento mudou. Agora é gota a gota, silencioso” e “é pior” porque o pacto não evitou a reincidência e agora há mais “obstáculos” para reconhecer as vítimas, observa Juan Manuel Torres, do centro de estudos Fundación Paz y Reconciliación (Pares).

Indígenas e negros deslocados vivem em abrigos precários, sujeitos a subgrupos do paramilitarismo e do tráfico. Além da extorsão, enfrentam pobreza (41%), desemprego (18%), recrutamento forçado, homicídios, abusos sexuais e desaparecimentos.

Desinteresse eleitoral

Os homicídios em Buenaventura passaram de 73 em 2017 para 195 em 2021. Os corpos desmembrados são lançados ao mar, segundo moradores e defensores dos direitos humanos.

Os deslocados não poderão votar nas eleições presidenciais de 29 de maio, já que estão ausentes de sua circunscrição.

De qualquer forma, vêm com desinteresse as eleições, que podem levar a esquerda ao poder nas mãos do ex-guerrilheiro e senador Gustavo Petro.

“As comunidades não vão ganhar de nenhum lado, sempre vamos perder”, lamenta Diego.

Quando o governo declarou vitória sobre Clã do Golfo, após a captura e extradição aos Estados Unidos de seu líder “Otoniel”, o grupo se fortaleceu, explica o pesquisador Torres.

Com cerca de 3.260 integrantes, segundo Pares, o Clã enfraqueceu o ELN em Buenaventura por sua superioridade bélica.

No sul e leste da área rural, dissidentes das Farc que rejeitaram o acordo de paz ganham terreno.

No perímetro urbano, o embate é entre centenas de membros da Shotas e da Espartanos, duas facções opostas da organização paramilitar La Local.

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