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Bolsonaro leva Brasil para lista vermelha de países com entraves à liberdade de imprensa

Organização Repórteres sem Fronteiras afirma que Bolsonaro é um ‘mentiroso compulsivo’ e que institucionalizou o ataque a jornalistas

(Foto: Isac Nóbrega/PR)
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Em seu relatório anual sobre a liberdade de imprensa no mundo, a ONG Repórteres sem Fronteiras (RSF) classifica o Brasil na lista vermelha de países onde o exercício da profissão enfrenta obstáculos. “Insultos, estigmatização e orquestração de humilhações públicas de jornalistas” se tornaram “marcas registradas” do presidente Jair Bolsonaro, diz o documento divulgado nesta terça-feira 20.

Sob o governo de extrema direita, depois de cair duas posições no ano passado, o Brasil recua mais quatro e aparece em 111º lugar na edição de 2021 do ranking da Repórteres Sem Fronteiras.

Para a RSF, o exercício do jornalismo, “principal vacina contra a desinformação”, “está totalmente ou parcialmente bloqueado” em mais de 130 países, num momento em que a crise sanitária provocada pela Covid-19 acrescenta obstáculos à cobertura da atualidade. De acordo com o relatório, 73% dos 180 países avaliados pela ONG apresentam situações consideradas “muito graves”, “difíceis” ou “problemáticas” para a profissão.

O relatório vem acompanhado de um mapa do mundo divido por cores. Elas representam as condições de trabalho para os jornalistas: branco onde são boas, passando pelo amarelo, “razoavelmente boas”, laranja, equivalente a “problemáticas”, vermelho, que significa “difíceis”, e finalmente o preto, onde a situação é “muito grave”.

O Brasil aparece na categoria vermelha, que concentra 28,71% dos países estudados, onde os jornalistas têm dificuldade para exercer seu trabalho.

“O ambiente tóxico no qual os profissionais da mídia brasileira trabalham desde que Jair Bolsonaro chegou ao poder em 2018 explica em grande parte essa deterioração”, observa a RSF. Além de insultar e estigmatizar jornalistas, a RSF lembra que o presidente brasileiro “faz promoção de medicamentos cuja eficácia nunca foi comprovada pelos médicos”.

Bolsonaro não só tentou por todos os meios minimizar a escala da pandemia, gerando tensões entre as autoridades e os meios de comunicação, como também acusa a imprensa de ser responsável pelo caos no país, relata a ONG. O presidente brasileiro é descrito no relatório como um “mentiroso compulsivo”, que critica medidas de isolamento social e causa aglomerações, desrespeitando as medidas sanitárias, “o que fez com que fosse censurado pelo Facebook e pelo Twitter”, sublinha a RSF.

Outros países que se encontram na zona vermelha ao lado do Brasil são a Índia (142º), o México (143º) e a Rússia (150º -1), por “limitar a cobertura” de “manifestações ligadas a Alexei Navalny, principal opositor do regime do presidente Vladimir Putin.

A Europa é a região mais segura para os jornalistas, apesar da incidência crescente de agressões e interpelações. Agressões contra jornalistas e prisões abusivas aumentaram sobretudo na Alemanha, França (34º), Itália (41º), Polônia (64º), Grécia (70º), Sérvia (93º) e Bulgária (112º).

“Modelo nórdico”

A Noruega lidera a lista dos países mais favoráveis à imprensa pelo quinto ano consecutivo, embora os meios de comunicação do país tenham destacado a falta de acesso a informações públicas sobre a pandemia. Em seguida, figuram Finlândia, Suécia e Dinamarca. “A edição 2021 do ranking confirma assim uma forma de ‘dominação nórdica’, ou de ‘modelo nórdico’, para evitar a ideia de competição”, diz a RSF.

Do outro lado do Atlântico, os Estados Unidos também figuram na zona branca, “apesar de o último ano de mandato de Donald Trump ter sido caracterizado por um número recorde de agressões – mais de 400 – e prisões (130) de jornalistas”.

Embora a piora na pontuação “Abusos” seja menor na África, o continente continua sendo o mais violento para jornalistas, especialmente desde que a pandemia da Covid-19 exacerbou o uso da força para impedir os jornalistas de trabalhar, aponta o relatório. A região Oriente Médio/Norte da África mantém a última colocação no ranking.

Os piores alunos da lista, marcados em preto, são China, Turcomenistão, Coreia do Norte e Eritreia.

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