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Ataque de drones a refinaria saudita abre era das “guerras híbridas”

Entramos na era das guerras tecnológicas, onde estratégias e ações terão de ser decididas num abrir e fechar de olhos, sem tempo para pensar

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Todos os exércitos do mundo estão preocupados com a “transformação da guerra”. Os velhos conflitos patrióticos, com concentração de meios e combatentes, e campos de batalha definidos e “linhas vermelhas” que obrigam uma resposta em caso de ataque, são coisas do passado. Com as novas tecnologias da informação a guerra está se tornando incerta e ambígua. A conflitualidade está se estendendo a outros campos de batalha: a cibernética, o espaço e a informação e contrainformação. E isto de maneira permanente e muitas vezes sem que se possa determinar com certeza a identidade e a natureza do inimigo.

Entramos na era das guerras “híbridas”, tecnológicas, onde estratégias e ações terão de ser decididas num abrir e fechar de olhos, sem tempo para pensar. A competição para garantir uma superioridade operacional em todas as frentes, utilizando as ferramentas da tecnologia digital, sobretudo a inteligência artificial, é renhida. Líderes civis e militares estão ameaçados de perder o controle.

Nesse ambiente sem fé nem lei, o ataque – por meio de drones – da maior concentração industrial de processamento de petróleo do planeta, no coração da Arábia Saudita é um sinal de alarme para as Forças Armadas de todos os países. Drones são armas relativamente baratas e difíceis de serem detectadas. E estão se tornando acessíveis para qualquer Estado soberano ou grupo político-militar ou criminoso. Poucos drones bem apontados podem causar estragos impressionantes e gravíssimos.

Nesse caso, foi a metade da produção de petróleo saudita que voou pelos ares, e vai levar tempo para restabelecer a antiga capacidade. Claro, existem reservas e outros meios para prover o sangue negro da economia global, mas os analistas já estão falando de uma nova crise no preço do petróleo. Se alguém está a fim de desestabilizar o Oriente Médio inteiro e a maior região petrolífera do planeta, não poderia ter agido de maneira tão simples e barata.

Os rebeldes xiitas huthis do Iêmen reivindicaram o ataque para pressionar os dirigentes sunitas de Riad de negociar o fim da intervenção saudita no país. Mas na verdade ninguém pode ter certeza.  Os Estados Unidos acusaram imediatamente o Irã, que prestam ajuda militar aos huthis. E Teerã desmentiu e retrucou ameaçando as bases e navios americanos no Golfo. Uma nova guerra geral na região seria uma catástrofe mundial.

Esse acontecimento basta para entender como uma simples tecnologia aplicada a um armamento pode virar a mesa das relações de força internacionais. O lado “híbrido” já havia sido explorado pela Rússia que invadiu partes da Ucrânia e da Geórgia com militares sem uniforme, fantasiados de civis. E que continua utilizando todos os meios da cyber-guerra da informação para influenciar as eleições nos países democráticos. Tudo isso, negando sem pestanejar.

Mas o problema não é só a dificuldade para identificar claramente o agressor e saber como responder. Conflitos “híbridos” também podem acabar em grandes enfrentamentos de alta intensidade. Só que com as novas tecnologias aplicadas aos exércitos, isso significa capacidades de ataques, tiros perfeitos e respostas fulminantes.

Desafio para Estados e Forças Armadas

Os responsáveis militares, com muita sorte, terão poucos segundos para decidir os rumos e as ações de combate. Sobretudo utilizando a Inteligência Artificial que permite tratar automaticamente todos os dados do campo de batalha em tempo real e até antecipar o comportamento dos beligerantes e de seus arsenais. De repente, um conflito pode virar um enfrentamento entre várias inteligências artificiais, que duraria poucos minutos provocando destruições apocalípticas.

A alternativa seria guerrinhas permanentes onde ninguém mais sabe quem ataca ou quem defende, envolvendo não só Estados soberanos e Forças Armadas mas até simples indivíduos ou “hackers” bem equipados a baixo custo. A grande questão hoje é saber se os comandos civis e militares, cada dia mais dependentes das novas tecnologias, ainda vão manter a capacidade de tomar decisões. Ou se doravante, a guerra vai ser “automatizada” por um algoritmo. Dá calafrios!

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