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Assassinato de presidente do Haiti aumenta a instabilidade no país

A nação caribenha enfrenta simultaneamente uma crise política e outra de segurança

Foto: Valerie Baeriswyl / AFP
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Nas ruas do Haiti, a sensação geral é de choque e medo do que pode vir. “Nunca pensei que tudo fosse chegar a esse ponto. Fui olhar a situação nas ruas e há um pânico. Todo mundo só fala sobre isso, fala de seus medos. Nós não pensávamos que [isso pudesse acontecer] ao presidente, uma pessoa que está sempre protegida. Isso nunca tinha acontecido no Haiti”, diz Fabrice Lamarque, morador da cidade portuária de Jacmel, sem esconder a perturbação em sua voz.

“Ainda não sabemos o que vai acontecer, se haverá uma resposta ao ataque… O que é certo é que tudo se tornou imprevisível”, conclui.

Ainda pela manhã, o primeiro-ministro Claude Joseph pediu calma à população e, em um comunicado, afirmou que a polícia e o Exército vão assegurar a manutenção da ordem no país.

Após uma reunião do Conselho de Ministros, Joseph determinou o estado de sítio no país a partir desta tarde, o que amplia os poderes do Executivo.

Violência crescente

Nas ruas da capital, Porto Príncipe, a presença da polícia ou de forças de segurança não parecia mais numerosa nesta manhã, segundo testemunhas.

“Ainda estamos sob um grande choque”, afirmou o jornalista Frantz Duval, do haitiano Le Nouvelliste, em entrevista à Radio Canadá. “As pessoas ficaram em casa, quase não há carros e gente andando nas ruas da região de Porto Príncipe. Todos estão à espera, temendo uma reação de um lado ou de outro”.

O país vive uma crise de segurança pelos conflitos entre gangues que já dura meses. Sequestros, assassinatos nas ruas e ataques de grupos armados tornaram-se parte do cotidiano desse país caribenho.

O distrito de Martissant, muito próximo ao palácio presidencial, está bloqueado desde 1º de junho por conta da guerra entre gangues que paralisa o oeste da capital e parte do país. A onda de violência tem provocado o êxodo de milhares de pessoas fugindo da capital.

Crise política

A situação é ainda agravada pela crise política. Moise governava o Haiti, país mais pobre das Américas, por decreto, após o adiamento das eleições legislativas de 2018. Desde então, grupos contrários ao presidente passaram a organizar numerosos protestos contra seu governo.

“Uma parte da população considerava que o seu mandato deveria ter terminado no dia 7 de fevereiro. Ele considerou que tinha um ano a mais de mandato por razões muito complicadas. Ele ficou no poder em um contexto em que não havia mais parlamento, e ele ficou sozinho no comando e nós vimos o que aconteceu”, explica o historiador Marcel Dorigny, professora da Universidade Paris 8.

Assassinato na madrugada

Durante a madrugada desta quarta, a casa do presidente do Haiti, Jovenel Moise, foi atacada. Moise foi assassinado, e sua esposa ferida foi hospitalizada.

De acordo com o primeiro-ministro, o ataque foi realizado por um grupo formado por estrangeiros, que se comunicavam em inglês e espanhol. Em um vídeo do ataque que circula nas redes sociais é possível ouvir um homem falando em inglês em um megafone para alertar que o ataque estaria sendo comandado pelo DEA, departamento de combate ao tráfico dos Estados Unidos.

No inٕício da semana, Moise havia nomeado o próximo Ariel Henry como próximo primeiro-ministro, o sétimo a ocupar o cargo em quatro anos.

“Ele deverá formar um governo de abertura que inclua as forças vivas da nação, resolver o grave problema de insegurança e acompanhar a organização de eleições gerais e de um referendo”, afirmou o presidente em um comunicado na segunda-feira (5).

Apoiada por Moise com o objetivo de fortalecer o Poder Executivo, a reforma constitucional foi rejeitada pela maioria da oposição e por muitas organizações da sociedade civil. Um referendo constitucional, adiado devido à epidemia de Covid-19, deveria ser realizado em 26 de setembro.

Apesar de Henry ser próximo da oposição, sua nomeação não foi bem recebida pela maioria dos partidos, que pediam a renúncia do presidente.

O Conselho de Segurança da ONU, os Estados Unidos e a Europa fazem pressão para a realização de eleições legislativas e presidenciais livres e transparentes até o final de 2021.

*Com informações de Jean-Baptiste Marot, da RFI, e da AFP.

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