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“Trump só confia na própria família”

Em entrevista, biógrafa Gwenda Blair fala sobre a relação do novo presidente dos EUA com a família

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Por Michael Knigge

Gwenda Blair é autora de duas biografias sobre o novo presidente americano: Trumps: Three generations that built an empire (Trumps: três gerações que construíram um império) e Donald Trump: Master Apprentice (Donald Trump: aprendiz-mestre).

A professora de jornalismo da Universidade de Columbia diz ser na família que o magnata mais confia e que ele não deixará de tê-la bem perto do centro do poder, em Washington, e de tirar o máximo proveito disso para si.

“O que estamos vendo agora é o começo da transformação da Casa Branca num local com fins lucrativos, dependendo da família dele, de seus filhos”, afirma Blair. “Essa é a maneira de ele levar isso adiante e manter o foco no que há de vantajoso para si e de tirar proveito de ser agora presidente.” Mas família não é igual a família: “As esposas são acessórios, os filhos são o futuro.”

DW: A família tem um papel muito importante para o presidente Donald Trump. Que tipo de first family  devemos esperar dos Trump?

Gweda Blair: Como já vimos, ele mantém a família sempre por perto. É assim que vai continuar o que sempre fez, que é se concentrar na própria vantagem. Ele sempre teve um olho muito afiado para saber como avançar, não importa a situação, e para encontrar as melhores oportunidades em qualquer situação e saber lucrar com elas.

Ele fez isso em sua carreira como empresário, e o que estamos vendo agora é o começo da transformação da Casa Branca num local com fins lucrativos, dependendo da família dele, de seus filhos, tendo a filha e o genro bem perto.

Não sabemos quão próximo o seu genro estará da Casa Branca, mas não vai ficar muito longe. Essa é a maneira de ele levar isso adiante e manter o foco no que há de vantajoso para si e de tirar proveito de ser agora presidente.

DW: Donald Trump tem cinco filhos e foi casado três vezes. Qual é o conceito de família dele?

GB: A família é aquilo em que ele confia. Eu acho que é mais ou menos tudo em que ele realmente confia: ele confia em si, e eles são uma extensão dele próprio. É uma família muito próxima. Eram cinco filhos na família dele, e desde o início ele disse que queria cinco filhos. São de três mulheres, mas ele tem cinco filhos. Dessa forma, ele talvez se considere um marido e pai bem-sucedido. Ele vê nisso uma espécie de unidade básica, e todo o mundo fora disso é um estranho.

DW: Trump tem sido acusado de nepotismo por nomear seu genro Jared Kushner para assessor da Casa Branca. Ele também foi criticado pela decisão de entregar a gestão de seus negócios aos filhos, devido a potenciais conflitos de interesse com o seu papel político como presidente. Mas Trump não se deixou intimidar muito com essas críticas. Por quê?

GB: Ele é um cara esperto. Não há dúvida quanto a isso, gostando dele ou não. Ele tem faro para descobrir brechas nos negócios, para descobrir como tirar vantagens ao usar falências de empresas para deixar de pagar impostos sobre rendimento pessoal por 20 anos, e agora ele também está sendo muito bom em descobrir brechas na Casa Branca. E uma delas diz que o presidente não está legalmente preso a quaisquer conflitos de interesses.

E ao entregar seus negócios aos filhos, ele insiste que isso não é um conflito de interesses e que ele não vai falar com eles, coisa que, visto por alto, é muito difícil de se imaginar. Ele está conseguindo borrar os limites, de forma que pareça que “afinal, são só os filhos dele”. E ter seu genro, em vez de seu descendente de sangue, como seu mais próximo conselheiro é outro tipo de operação de borrar os limites.

O fato é que ele não é, legalmente, obrigado a obedecer ao mesmo tipo de regulamentação a que está sujeito qualquer um que trabalhe no governo e que ele venha a indicar para seu gabinete. E ele é extremamente consciente disso, assim como estava consciente de que não é legalmente obrigado a restituir suas devoluções do imposto de renda.

Todos os outros presidentes fizeram isso. Há muita tradição e há muita expectativa, mas na verdade ele não é obrigado a fazê-lo. Isso é o que se chama de uma brecha. E o mesmo está acontecendo com os filhos dele, e a suposta retirada dos negócios, que não está realmente acontecendo porque há uma brecha e ele está passando bem pelo meio dela.

DW: Os filhos de Donald Trump parecem desempenhar papel maior e mais importante do que a esposa, na política e nos negócios. A senhora concorda?

GB: Todas as três esposas têm sido importantes de alguma forma. Aos olhos do público, todas as três são modelos, todas as três são muito atraentes, todas as três são o tipo de acessório ideal para quem queira ser o macho-alfa em qualquer ambiente ou situação. Ter uma esposa loira e modelo no braço é um acessório muito importante, e elas desempenham esse papel muito bem. Afinal, são mulheres treinadas para atrair atenção: esse é o trabalho delas. Então elas têm sido muito importantes nesse aspecto.

A primeira esposa, Ivana, queria ser mais do que isso, ela queria ser parte do negócio, e o casamento deles desmoronou. Ele não queria alguém ao seu lado, ele quer alguém que do lado dele, um pouco à parte, mas que não saia na frente.

E aí foi um desastre e não deu certo, e ele partiu para a esposa número dois, que não tinha planos de ter qualquer papel de negócio, e a esposa número três tem ainda menos aspirações. Nós a temos visto em público ao lado dele: ela nunca sai na frente, fala muito raramente e parece que nem mesmo estará ao lado dele na Casa Branca.

DW: A senhora diria, então, que os descendentes de sangue, os filhos, são mais importantes para Trump do que as esposas?

GB: É o que parece. As esposas são os acessórios, os filhos são o futuro. Eles são a dinastia que está indo adiante.

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