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Theresa May, a “pragmática” que brincou com fogo

A premiê britânica convocou eleições para se fortalecer, mas sai das urnas mais fraca do que entrou

May na sexta-feira 9: sua jogada naufragou
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Theresa May centrou sua campanha eleitoral em sua personalidade “sólida e estável” para convencer os britânicos a mantê-la no cargo de primeira-ministra: perdeu em parte a aposta e, apesar de anunciar a formação de um novo governo, encontra-se numa situação delicada.

Segundo resultados quase definitivos, seu Partido Conservador perdeu a maioria absoluta no Parlamento, fracassando em sua estratégia. May convocou estas legislativas antecipadas para conquistar uma posição de força e afastar as eventuais reticências em seu partido. Mas sai mais fragilizada do que nunca.

Foi em razão de uma reviravolta do destino que esta mulher de 60 anos, de cabelos grisalhos, chegou ao poder em julho de 2016: o país acabava de votar pelo Brexit, para surpresa geral, forçando seu antecessor David Cameron a renunciar.

Theresa May soube jogar suas cartas habilmente e encarnou, em um período turbulento, uma figura reconfortante, de mulher séria, honesta, sóbria e “pragmática”, todas as qualidades atribuídas por seus partidários, para conduzir o país num dos momentos mais incertos de sua história.

May, descrita muitas vezes como “a nova Margaret Thatcher“, começou a sua carreira política em 1986, depois de estudar na Universidade de Oxford e de trabalhar por um breve período no Banco da Inglaterra.

Mas, na realidade, tem muito mais pontos em comum com Angela Merkel, a chanceler alemã, também filha de um pastor, conservadora, pragmática, aberta ao compromisso, casada e sem filhos.

Depois de resistir durante um ano aos chamados de seu partido, finalmente adiantou as eleições legislativas de 2020 para 8 de junho.

Tomou esta decisão com uma vantagem de 20% sobre o trabalhista Jeremy Corbyn nas intenções de voto. Mas esta margem foi diminuindo com as críticas a sua campanha distante e calculada, com poucos encontros improvisados com os eleitores e se negando a participar de debates.

E a sangrenta série de ataques terroristas que atingiram o país em menos de três meses colocou a segurança no centro do debate político, atraindo para si muitas críticas quanto aos cortes dos efetivos policiais quando era ministra do Interior, de 2010 e 2016.

Difícil, mas trabalhadora

Theresa Brasier – seu nome de solteira – nasceu em 1º de outubro de 1956 em Eastbourne, uma cidade costeira do sudeste da Inglaterra. Depois de cursar Geografia em Oxford, onde conheceu seu marido, Philip, e de trabalhar no Banco da Inglaterra, deu os seus primeiros passos na política em 1986.

Naquele ano, foi eleita vereadora do distrito londrino de Merton. Depois de duas derrotas, foi eleita em 1997 deputada do Partido Conservador pelo distrito de Maidenhead, em Berkshire, no sul da Inglaterra.

De 2002 a 2003, foi a primeira mulher a ocupar o cargo de secretária-geral de seu partido. Ficou conhecida por um discurso em que pediu aos “tories”, então muito à direita, que largassem o seu papel de “nasty party” (“partido dos maus”).

Em 2005 apoiou Cameron em sua conquista do partido. Quando foi eleito primeiro-ministro, recompensou a sua fiel aliada com a pasta do Interior, que manteve depois de sua reeleição em 2015.

Theresa May Manifestante com máscara representando May mostra lápide com inscrição ‘Brexit brusco, descanse em paz’. A premiê defende uma saída rápida da UE

É “uma mulher muito difícil”, comenta o ex-ministro Kenneth Clarke e deputado conservador.

Uma de suas colegas, sob condição de anonimato, elogia sua “incrível capacidade de trabalho” e “exigência”, ressaltando que “ela odeia o risco”.

É considerada uma pessoa “calma”, “trabalhadora”, “reservada, mas muito acessível” pelos seus admiradores entrevistados pela AFP após chegar ao poder.

Na tentativa de corrigir uma deficiência, a da falta de empatia, concedeu uma série de entrevistas ao lado de seu marido durante a campanha, mas sem muito a oferecer, citando o seu amor pela caminhada e pela cozinha.

*Leia mais em AFP

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